Por Cláudio da Costa Oliveira, colunista do Cafezinho
Se as federações petroleiras, FUP e FNP, pretendem (como dizem), combater o projeto lesa-pátria em andamento na empresa, é preciso uma forte campanha demonstrando que o Plano de Negócios (PNG) 2017/2021 aprovado pela atual direção da Petrobras é um engodo, uma farsa, um atestado da falta de compromisso dos dirigentes com a empresa e o nosso país.
O Plano de Negócios foi baseado na premissa falsa de que empresa estava muito endividada, o que é uma inverdade, pois a dívida da companhia é inferior à sua receita anual. Empresas como a Vale, que tem dívida 25% superior à sua receita, não são consideradas muito endividadas.
A falsa ideia de que a Petrobras estava muito endividada foi criada e difundida pela Rede Globo. Em abril de 2016 em artigo divulgado em todo o Brasil, Carlos Alberto Sardenberg dizia: “A Petrobras está quebrada, para salvá-la será necessário o aporte de recursos do Tesouro ou um acordo judicial”. Uma grande mentira que passou a ser verdade para a opinião pública brasileira e inclusive para grande parte dos petroleiros.
Além de não ter recebido nenhum aporte do Tesouro e muito menos ter feito qualquer acordo judicial, no final de 2016 a Petrobras adiantou R$ 17 bilhões para aliviar o caixa do BNDES.
Portanto, antes de mais nada, a opinião pública brasileira precisa ser esclarecida e os responsáveis por esta falsidade devem ser apontados.
Mas, aproveitando-se das mentiras difundidas pela Rede Globo, Pedro Parente lançou em Plano de Negócios e Gestão (PNG) objetivando a redução do endividamento da companhia.
A redução do endividamento é a desculpa (falsa) para privatizar a Petrobras “na moita” e entregar o pré-sal para as petroleiras estrangeiras, que é o que estamos assistindo hoje. Tudo feito a toque de caixa e ao arrepio da lei.
A meta do PNG 2017/2021 é atingir o índice de alavancagem 2,5, estabelecido por Wall Street, e muito difundido por Miriam Leitão nos seus programas: “atingir este índice virou imprescindível, sem o que a companhia não sobreviverá”. Tudo mentira.
O indicador de alavancagem em questão é apurado pela divisão da dívida da empresa pela geração de caixa anual. Ocorre que este indicador só é válido para empresas cujos investimentos já maturaram e estão em plena geração de receita e caixa. O que não é o caso do projeto pré-sal que está apenas no início e muito longe de alcançar sua potencialidade.
Portanto a grande meta do PNG é fajuta, feita para enganar trouxas.
Mas alguns argumentam: “precisamos deste índice para poder voltar a ter o grau de investimento e conseguir obter empréstimos mais baratos”.
O chamado grau de investimento é concedido por empresas de “rating” (Moody’s, Fitch etc) que já foram desmoralizadas, pois trabalham para grupos internacionais que objetivam forçar países e empresas a fazer o que eles querem. Assistam ao documentário “Trabalho interno” (tem na internet) que ganhou o Oscar de melhor documentário em 2011 e esclarece muito bem o assunto.
É bom lembrar também que a Petrobras ganhou o grau de investimento em 2007 vindo a perdê-lo em 2015, com a Lava Jato. Portanto, de sua criação em 1954 até 2007, a empresa cresceu, descobriu o pós-sal de Campos, descobriu o pré-sal, tudo sem grau de investimento. E ninguém se preocupava com isto.
Ora, os projetos dão retorno muito acima dos juros que são pagos, portanto não precisamos ficar subordinados a ninguém.
O gráfico de Usos e Fontes mostrado a seguir, é parte integrante do PNG 2017/2021, sendo um verdadeiro atestado sobre a forma irresponsável e entreguista com que a empresa está sendo dirigida.
Os investimentos foram reduzidos para US$ 74 bilhões, uma média de US$ 14,8 bilhões/ano. Este investimento não é suficiente para atender as demandas do pré-sal, que evidentemente serão entregues para empresas estrangeiras. De 2010 a 2014 a Petrobras investiu uma média anual de US$ 40 bilhões, gerando milhões de empregos e desenvolvendo a indústria nacional. Agora vamos gerar empregos e desenvolver industrias no exterior.
É fácil observar pelo gráfico, que com uma simples rolagem da amortização da dívida de US$ 73 bilhões (não seria necessário aumentar o endividamento) os investimentos poderiam ser aumentados, e nenhum ativo precisaria ser vendido (US$ 19 bilhões).
Recursos para rolagem da dívida são abundantes no mercado. Nas últimas vezes em que a Petrobras buscou recursos, a oferta foi 10 vezes superior ao que buscava.
Fica então clara a intenção da direção em destruir a companhia, sem nenhuma razão para isto.
Aliás, em entrevista a jornalistas no último dia 11/01, o diretor financeiro Ivan Monteiro salientou: “a companhia iniciou a semana com US$ 22 bilhões em caixa, o que dá total tranquilidade para cobrir os vencimentos de suas dívidas nos próximos dois anos e meio”.
Mas que fique bem claro que esta situação não é fruto de decisões da atual administração. Aldemir Bendini quando transferiu a presidência para Pedro Parente, informou: “estou entregando uma empresa com R$ 100 bilhões em caixa”, que ao câmbio da época equivaliam a US$ 27 bilhões.
O fato é que a Petrobras nunca deixou de ser produtiva, lucrativa e forte geradora de caixa, qualquer que fosse a administração.
Ocorre que a empresa passou por uma forte campanha de difamação cujo objetivo é a entrega do pré-sal, ao mesmo tempo em que eram feitos ajustes contábeis (impairments) sem nenhum sentido e que estão sendo fortemente contestados principalmente junto à CVM, que não tem efeito no caixa da companhia, mas geraram enormes prejuízos contábeis , levando aos leigos a falsa impressão de que a empresa passa por problemas.
O PNG 2017/2021 fala por si mesmo: é um absurdo. Não suporta a menor crítica e é o cerne de todos os problemas por que passa a Petrobras hoje.
As Federações petroleiras deveriam concentrar seus esforços no combate a este PGN. Dizer que uma empresa que em 5 anos gera US$ 158 bilhões de caixa, média superior a US$ 30 bilhões/ano, tem dificuldades financeiras, é querer tapar o sol com peneira.