(Foto: Beto Barata)
Por Bajonas Teixeira, colunista do Cafezinho
A tragédia do time do Chapecó em 29 de novembro, o assassinato de doze pessoas pelo psicopata de Campinas na noite no réveillon, a carnificina que abriu o ano de 2017 nos presídios e, por fim, a morte do ministro Teori Zavascki, são episódios fúnebres que serviram à vitalidade do governo Temer. Sem eles, talvez estivesse hoje afundado no pó do ocaso, com o país já providenciando suas exéquias e encomendando sua alma.
Através deles, Temer recuperou na mídia um espaço que, se não é positivo, resguarda ao menos uma tonalidade neutra, por deferência aos protocolos usuais nas tragédias. E, mais significativo ainda, as denúncias que o envolvem e ao seu grupo de diletos amigos, passaram para segundo plano, em caráter provisório.
Não é casual que o governo Temer seja vitalizado pela morte. Toda a sua constituição política, toda a aliança de forças que o produziu e sustenta, e toda sua orientação punitiva e policial converge em cheio para esse alvo: a morte. É que ele nasce de uma escalada de ódio aos direitos humanos, de uma classe média raivosa que sustenta o slogan “Bandido bom, é bandido morto”. Essa classe média, cega e surda, não compreende que a violência é uma bola que se chuta contra a parede: ela vai e volta, e volta com mais força quanto mais forte for o chute.
Basta olhar o caso dos presídios, situação limite de opressão e violência para satisfazer o sadismo de uma sociedade patologicamente comprometida com a maldade. Disse hoje o ex-ministro do STF, Carlos Ayres Britto, em nada suspeito de radicalismo, em entrevista à Folha de São Paulo na qual criticou o reducionismo do ministro da Justiça, Alexandre de Moraes:
Como a sociedade civil reduziu o grau de vigilância sobre o Estado, o Estado entregue a si mesmo só fez piorar. Porém, os dois juntos, o Estado por ineficiência e a sociedade por omissão, estão perpetrando, em matéria de sistema penitenciário, crimes contra a humanidade.
Quando foi que essa sociedade “reduziu a vigilância sobre o Estado”? Agora, em consequência do golpe. O golpe se fez como um jogo de complacências e cumplicidade entre empresários, políticos, o Judiciário e a mídia. Esse bloco teve nas ruas, como porta vozes, os movimentos de protestos da classe média, nascidos da efervescência da campanha eleitoral no segundo semestre de 2014. Nesse período, os crimes de ódio na internet aumentaram 84%.
Parte dessa classe média aplaudiu a PM e pediu mais violência policial, além de clamar por intervenção militar. Seu representante mais genuíno, o grupo Revoltados Online, não foi posto fora da lei pela justiça brasileira, mas fora do ar, pelo Facebook, por sua constante incitação ao ódio.
Nesse contexto, o governo Temer tem encontrado uma tábua de salvação na sequência de tragédias, em que janelas de oportunidades se abrem para ele na mídia. De início, ele temeu aproveitá-la. Como se sabe, Temer chegou a anunciar que não iria ao velório do Chapecó, mas apenas ao Aeroporto. Mas a reação pública foi de tamanha indignação que acabou voltando atrás e confirmando a ida ao velório. Lá, contudo, não pronunciou discurso nenhum e se escondeu entre outras autoridades, como se fosse um anônimo.
O início de 2017 foi pródigo em crimes bárbaros, a começar com o feminicida serial de Campinas, que matou doze, e as decapitações nos presídios. Mas, como acabamos de mostrar, sem que seja propriamente um paradoxo, essa tem sido uma fase feliz para alma sinistra do governo Temer, para o qual trouxe paz e pouco de sossego.
Mas, cá entre nós, um governo que é blindado por tragédias e carnificinas é a pior maldição que pode se abater sobre um país.
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