Denúncias, vídeos, fotos e inquéritos – Aécio Neves some no universo paralelo

Por Bajonas Teixeira, colunista do Cafezinho

Aécio Neves some pela enésima vez no ‘submundão de Deus’, como diria Guimarães Rosa. Talvez tenha ido arrebentar no universo paralelo com Lobão, que também desincorporou ultimamente. Todos já perderam a conta das inumeráveis fases de desaparição e sumiço do “mineirinho”, como é mais conhecido nos inquéritos da Lava Jato o ex-candidato à presidência pelo PSDB. Sem que se aguarde pelo fenômeno, ocorre repetidamente que, num dia, Aécio está bombando na mídia e, logo em seguida, desintegra-se sem deixar vestígios. Não foi uma nem duas vezes que isso ocorreu nos últimos tempos.

Há sempre, é claro, uma explicação para cada sumiço. Às vezes, até mais que uma. Mas sendo muito súbito, quase sempre deixamos de perceber e perguntar pelas suas causas. Só quando o fenômeno da desmaterialização é detectado é que, efetivamente, se busca  pelas causas, e então, rapidamente descobre-se o motivo do eclipse político.

Em geral, é forçoso confessar, são denúncias e inquéritos. Quase sempre ligadas, direta ou indiretamente, à Lava Jato.

Por exemplo, por esses dias Aécio anda sumido. Vamos procurar as causas desse sumiço num rápido exercício de investigação que se chama “desjornalismo”, ou seja, jornalismo do que “desacontece” e que, por isso mesmo, nem se percebe a ausência.

Quando e por que Aécio sumiu pela última vez?

Na verdade, a motivação foi uma dúplice contrariedade no mundo material.

A primeira, em reportagem de Isabela Bonfim no Estadão, em 01 de dezembro, foi ter sido acusado de ser o articulador da mobilização no Senado para votar a lei das dez medidas, com as desfigurações inseridas na Câmara, em especial por ter apoiado a emenda enxertada na lei sobre o abuso de autoridade. Esta, como se sabe, seria uma medida importante para conter o poder desenfreado de juízes e procuradores, que hoje podem impor o estado de exceção sobre o estado de direito, fazer conduções coercitivas ao seu bel prazer, divulgar grampos com conversas privadas de presidentes e ex-presidentes, fazer e acontecer.

Mas ao que parece as motivações de Aécio não eram tanto essas, de cunho democrático, mas muito mais preservar a si mesmo diante das inúmeras denúncias que sobre ele recaem nas investigações da Lava Jato.

O Estadão, um dia após essa matéria, isto é, em 02 de dezembro, fez outra com  o título Foto levanta suspeitas sobre voto de Aécio Neves. A foto registra o momento em que os senadores contrários a urgência deveriam levantar o braço, vendo-se que Aécio Neves, claramente não o fez. Portanto, estaria declarada sua posição em favor de votar com urgência as dez medidas.

As duas notícias tiveram ampla repercussão, e obrigaram Aécio a se defender. Ele fez um vídeo em que dizia que nada daquilo aconteceu, que era uma grande mentira, etc. Depois sumiu.

A outra contrariedade do mundo real, que pode ter levado Aécio a eclipsar-se mais profundamente no universo paralelo, foi a delação do ex-diretor da Odebrecht que afirmou que, a pedido de “mineirinho”, vulgo Aécio Neves, durante a campanha presidencial de 2014, teria pago R$ 1.000.000.00 a José Agripino, presidente do DEM aliado do PSDB na chapa. Além disso, logo a seguir o STF decretou a quebra do sigilo de Agripino.

Estava assim armada a convergência metafísica de espaço e tempo, e a hora H do dia D, para Aécio atravessar as paredes da realidade e desaparecer no submundão de deus, numa viagem onírico-espectral pelas veredas do grande sertão.

Ninguém se assustará, já que poucos perceberam o sumiço, quando Aécio, sem quê nem porque, de repente não mais que de repente, reaparecer com a cara mais lavada do mundo, como se nunca tivesse ido. Na verdade, ele hoje, ou melhor, não é de hoje, vive num transmundo cuja passagem secreta se abre, ou fecha, pelas artes mágica da mídia. Só o exorcismo midiático poderia barrar as passagens de Aécio de uma dimensão para outra. Mas parece improvável que isso venha a acontecer.

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