Por Tadeu Porto*, colunista do Cafezinho
Em boa parte do filme “O Passado”, dirigido pelo ótimo Asghar Farhadi, iraniano que garantiu o primeiro Óscar ao seu país com a película “A Separação”, os protagonistas da história se encontravam em uma casa eternamente em reforma, justamente para simbolizar a maneira com que eles estavam reconstruindo a suas vidas.
É esperado de todo bom filme que elementos como cenário, figurino, som, câmara e afins, sejam muito mais do que apenas estética e possa contar uma história que valha além do seu valor absoluto. Não é à toa, portanto, que Farhadi seja tão elogiado pelos filmes que dirige, afinal, ele utiliza essa boa técnica com maestria.
Claro, uma obra que consegue passar uma ideia com todas as ferramentas que possui ganha muito pela coerência e verossimilhança e, geralmente, impressiona muito por parecer com a vida real.
Parece filme, mas a realidade brasileira, por exemplo, nos proporciona enredos como um Presidente da República que é capaz de trair sua companheira de chapa e um país inteiro dando um Golpe de Estado. Um egocêntrico que não consegue respeitar nem o mínimo do ambiente que o envolve.
Quando vemos que o usurpador, no seu dia a dia, é capaz de promover uma mudança mesquinha e nojenta como ocorreu no Palácio da Alvorada, conseguimos observar um exemplo escancarado disso
Uma pessoa que não respeita a estrutura legal de bem estar social que foi construída com a Constituição de 88, vai respeitar a história do design interior do Palácio do Alvorada? Óbvio que não, mesmo que isso signifique se desfazer do trabalho de um figura respeitada mundialmente como Oscar Niemeyer.
Portanto, o sofá preto que foi retirado, ou a cor vermelha que deixou de ser predominante no Alvorada – fruto do trabalho de uma das figuras mais importantes da história nacional – sinaliza a personalidade de um narcisista ideal para emplacar contra-reformas como o congelamento de investimentos públicos, o tempo de meio século para fazer jus a previdência social e uma carga horário de trabalho que retrocesse aos tempos pré-CLT.
Tá certo que é muito legal ver a vida imitando a arte. Agora, fica difícil quando se escolhe um filme de terror.
Tadeu Porto é diretor do Sindicato dos Petroleiros do Norte Fluminense