(O mais novo defensor dos direitos humanos)
Por Pedro Breier, colunista do Cafezinho
Eu sei que é chato dizer “eu avisei” depois de algum “acidente pavoroso”, como diria Michel Temer.
Mas quando se trata da questão das chacinas nos presídios é inevitável: os esquerdistas, que lutam por direitos humanos para todos – não só para humanos direitos (o preconceito contra canhotos aparentemente voltou à moda) – têm todo o direito, ou melhor, o dever, de olhar para os direitistas e dizer: nós avisamos.
Os alertas são feitos há muito tempo:
- Colocar pessoas que cometeram crimes não violentos junto com integrantes de grandes organizações criminosas, em presídios superlotados e com condições sub-humanas é evidentemente estúpido;
- Com os presídios dominados pelas facções a única opção do preso para sobreviver dentro da cadeia é submeter-se a elas;
- Sair prendendo indiscriminadamente apenas fornece mais material humano para o crime organizado.
A direita sempre ignorou solenemente a lógica cristalina dos argumentos acima e o resultado é o caos (e aqui temos mais uma área fundamental em que os governos do PT não promoveram mudanças significativas, capitulando ao populismo penal da direita).
Tudo começa com a mídia familiar, sempre ela: espalha o medo através de programas policialescos; não faz a crítica à PM e dá suporte às suas ações truculentas em matérias tendenciosas; faz sensacionalismo com crimes cometidos por menores de idade para depois seus comentaristas defenderem a redução da maioridade penal; etc.
A população, massacrada pelo controle da informação quase total que o oligopólio midiático possui, concorda com as soluções fáceis e furadas e o “bandido bom é bandido morto” se alastra como praga.
Os políticos à destra aderem alegremente ao populismo penal midiático e fazem projetos para aumentar penas, diminuir a maioridade penal, endurecer a repressão ao tráfico. Ou seja, colocam mais lenha na fogueira.
Está pronta a receita para o desastre.
A aplicação de penas alternativas para criminosos não violentos é o primeiro óbvio passo para diminuir a superlotação dos presídios e cortar o fornecimento de mão de obra para as organizações criminosas.
Uma lei que diferencie objetivamente o traficante do usuário seria um bom começo, já que pensar em legalização das drogas com este Congresso ultra reacionário é utopia.
A luta por prisões mais humanas e leis penais mais inteligentes vem ganhando novas adesões depois das chacinas. Leiam o que disse o ministro da Justiça Alexandre de Moraes, em entrevista à Folha:
O Brasil prende muito, mas mal. Se alguém pula o muro e subtrai um botijão de gás, é acusado de furto qualificado mediante empreitada com pena privativa de liberdade. E alguém que rouba com fuzil e faz parte de organização criminosa, recebe também pena privativa de liberdade. Os dois vão para a penitenciária. Na hora que são presos milhares de pequenos traficantes que não fazem parte de organizações criminosas, você coloca soldados nas mãos das lideranças dos presídios.
Depois da tragédia até o rei da repressão dos tempos de secretário de segurança pública de São Paulo – e que quer acabar com a maconha na América do Sul (!) – teve um surto de bom senso.
O eterno duelo entre esquerda e direita pode ser resumido grosseiramente em quem oferece as melhores soluções para os problemas da sociedade.
Por isso é mais que nosso direito, é nosso dever informar às pessoas qual lado está certo na questão dos presídios e das leis penais. Nós avisamos.