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Tratamento dado aos nossos heróis nacionais – Capítulo 3

Por Paulo Metri, enviado ao Cafezinho “Gasômetro explodiu”, “Mais de 10.000 mortos com a explosão do Gasômetro”, “Destruição por explosão no Centro do Rio” e “Ataque comunista explode o Gasômetro” foram algumas das manchetes de jornais e das chamadas de telejornais em um dia de junho de 1968. O corpo das noticias foram: “Quem sobreviveu […]

9 comentários
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Por Paulo Metri, enviado ao Cafezinho

“Gasômetro explodiu”, “Mais de 10.000 mortos com a explosão do Gasômetro”, “Destruição por explosão no Centro do Rio” e “Ataque comunista explode o Gasômetro” foram algumas das manchetes de jornais e das chamadas de telejornais em um dia de junho de 1968. O corpo das noticias foram: “Quem sobreviveu à explosão do Gasômetro nunca a esquecerá”, “A um quilômetro do centro da explosão, ainda eram encontrados sinais do impacto da onda de choque criada por ela”, “Cenário lembra Hiroshima após a detonação da bomba atômica”, “Gasômetro explodiu na hora de maior congestionamento na área da rodoviária Novo Rio” e “Guerrilheiros comunistas foram os autores do maior atentado já ocorrido no Brasil”.

Isto tudo ocorreu em um mundo paralelo no qual o Capitão Sergio Macaco aceitou a ordem de seu superior da Aeronáutica. Para a felicidade dos que residiam ou vinham frequentemente ao Rio de Janeiro, em junho de 1968, no nosso mundo, este capitão da Aeronáutica teve o discernimento, a sensibilidade e a coragem de colocar o respeito à humanidade acima do respeito à hierarquia militar. O Capitão Sergio Macaco salvou mais de 10.000 vidas, que seriam impactadas no primeiro momento, e um número incalculável de vidas dos descendentes.

Sergio Ribeiro Miranda de Carvalho era militar de carreira da Aeronáutica, com o posto de Capitão em 1968 e era chamado de Capitão Sergio Macaco, sem que esta alcunha o desagradasse. Na época, comandava o Para-Sar, batalhão de elite de paraquedistas da Aeronáutica, especializado em resgate e salvamento. Era considerado um dos mais obstinados e admirados oficiais da Força. Certo dia, foi chamado pelo Brigadeiro João Paulo Burnier, então Chefe de Gabinete do Ministro da Aeronáutica Marcio de Souza e Mello durante o governo Costa e Silva. O Brigadeiro Burnier planejava a ação típica de guerrilha de explosão do Gasômetro para ser atribuída a militantes de esquerda e, com isso, a sociedade aceitar o endurecimento da ditadura.

Na época, no Gasômetro, era produzido o gás que era injetado na rede de gás canalizado da cidade. Nesta época, havia a necessidade de estocagem deste gás que, com o uso crescente do gás natural, ela diminuiu. Pelo nível da estocagem à época, admitindo-se que seria uma explosão planejada para causar o máximo dano e considerando o número provável de pessoas que estariam na região, estimou-se que ocorreriam dezenas de milhares de óbitos.

Quando o nosso herói, Capitão Sergio Ribeiro Miranda de Carvalho recebeu a ordem de explodir o Gasômetro, mesmo estando consciente da repercussão que a negativa a esta ordem representaria, ou seja, ele colocaria no lixo a sua carreira, até então brilhante na Aeronáutica, respondeu que não atenderia a ordem. Foi uma opção consciente, pois preferiu não ser o assassino de um número expressivo de pessoas, abrindo mão de algo extremamente valioso para ele, a continuidade da sua carreira.

Notícia de tamanha expressão foi transmitida pelo jornal Correio da Manhã. Ao saber do ocorrido, o Brigadeiro Eduardo Gomes apoiou o Capitão Sérgio Macaco. No entanto, o apoio pouco adiantou, pois a história do Capitão foi negada pela Aeronáutica, que buscou caracterizá-lo como um insubordinado. O herói acabou sendo reformado pelo AI-5, em 1969, perdendo a patente e o soldo.

Depois de penosa tramitação pela Justiça, em 1992, o Supremo Tribunal Federal reconheceu os direitos do Capitão, estabelecendo que ele deveria ser promovido a Brigadeiro, posto que teria alcançado se tivesse permanecido na ativa. O então ministro da Aeronáutica, o Brigadeiro Lélio Lobo, ignorou a decisão da corte, sendo o STF obrigado a mandar um ofício exigindo o cumprimento da lei. O Brigadeiro Lobo novamente se recusou a cumprir, transferindo o problema para o Presidente da República, à época Itamar Franco, que por sua vez protelou a decisão até que o Capitão Sérgio Macaco morreu de câncer em 1994, sem ver sua reintegração à Aeronáutica e a simultânea promoção a que tinha direito. Em 1997, a família do Capitão Sérgio Macaco foi indenizada pelo governo com o valor relativo às vantagens e soldos que ele deixou de receber entre os anos de 1969 e 1994.

Chegou a ser reconhecido como um herói nacional por algumas entidades. O Clube de Engenharia foi uma das que o homenageou em vida. O partido político PDT o acolheu, dando inclusive a legenda para ele se candidatar. Ele chegou a ser o primeiro suplente de deputado federal pelo PDT, tendo assumido o mandato algumas vezes. Em 1985, recebeu a primeira homenagem pública de vulto, tendo recebido o título de “Cidadão Benemérito do Rio de Janeiro” concedido pela Assembleia Legislativa do Estado.

Excetuando políticos, que, com suas decisões econômicas e sociais, podem postergar ou antecipar a morte de milhões de brasileiros, o Capitão Sergio Ribeiro Miranda de Carvalho foi o cidadão que mais salvou vidas no Brasil. Se você vivia ou transitava pelo Rio de Janeiro em junho de 1968 deve agradecer ao Capitão Sergio Macaco por ter, talvez, salvado a sua vida e, como consequência, as de seus descendentes ainda não nascidos, nesta época.

O Governo brasileiro deveria, em ato bastante simbólico, conceder, post mortem, ao Capitão Sergio Ribeiro Miranda de Carvalho o posto de Brigadeiro da Aeronáutica. Implicitamente, estaria reconhecendo que a ditadura chegou a planejar a explosão do Gasômetro.

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Comentários

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Mannish Manalishi

03/01/2017 - 23h35

Vejam como num post assim não apareceu um robô fascistopata sequer. Os fdp não postam uma vírgula se for assunto fora da curva, até ordem em contrário.

Antonio Passos

03/01/2017 - 21h35

Perguntem em qualquer universidade se alguém sabe quem foi o capitão Sérgio Macaco. Duvido que chegue a 1% o número dos que sabem. Somos um país de ignorantes idiotizados pela mídia. Não é à toa que chegamos a esse ponto em que estamos.

Sangre di Coxa Conta Mina

03/01/2017 - 19h57

Teremos que lutar prá derrotar o Golpe aqui, mas o impulso direitista no Ocidente se enfraquece. Chegará o tempo de julgar Bush por lá e o Moronarola por aqui, mancomunado com os de lá.
O Golpe brasileiro se insere na tramoia originada pelo atentado às “Torres Gêmeas”: implosão de três torres mais um furico no Pentágono.
“9/11 Conspiracy Solved: Names, Connections, & Details Exposed!” https://www.youtube.com/watch?v=n_fp5kaVYhk
Alepo foi libertada. Em conferência na ONU, uma jornalista de verdade deu resposta a “colega” tão clara que criminaliza a “grande imprensa” por falar em “oposição moderada” na Síria.
Las mentiras de los medios sobre Siria. SUBTÍTULOS ESPAÑOL. Periodista Eva Bartlett.” https://www.youtube.com/watch?v=RVaHBWBb3EQ

17Abril2016

03/01/2017 - 19h47

como pode os militares de um pais atentar contra seu povo?

    Igor Gonçalves De Macedo

    03/01/2017 - 22h06

    Os “militá” que habitam este território jamais pertenceram ou pertencerão ao país nele circunscrito. Sempre foram e serão taifeiros de forças estrangeiras hostis. Esse tal “povo” é seu principal inimigo

Marcelo

03/01/2017 - 18h53

Pra gente ver que não é de hoje que as “autoridades” cagam para o STF.

Geraldoribeiro Magela

03/01/2017 - 18h09

NA BRUTAL INVERSAO DE VALORES DO BRASIL, SE ELE TIVESSE EXPLODIDO O GASOMETRO TERIA SIDO ATÉ SENADOR, OS SOBREVIVENTES TERIAM SIDO ENGANADOS PELO PIG, COM A HISTORIA DE QUE O CAPITÃO TINHA MATADO TODOS OS COMUNISTAS QUE EXPLODIRAM O GASOMETRO, OS CORPOS DOS COMUNISTAS VIRARAM CINZAS COM A EXPLOSÃO.

robertoAP

03/01/2017 - 17h39

Essa foi, é, e sempre será a vocação da Direita, Ultra Direita, Direita Raivosa,Direita Fundamentalista e Direita Terrorista, que no Brasil são representadas pela Globo,seus filhotes midiáticos,e mais PSDB,parte do PMDB, DEM, alguns outros partidos nanicos, Justiça e Polícia Federal.
Qual a vocação?
– Morte,Destruição,Desgraça,Maldade,Banditismo,Mentira, Infelicidade e Injustiça

.

    Rodrigo Ramires

    04/01/2017 - 08h44

    Onde estão os robos e trolls malditos que aqui defendem as zelites e o assassinato da esquerda no Brasil? Tai, quando a história é esfregada na fuça dos fascistas, eles correm tal qual as galinhas verdes que correram um dia no centro de São Paulo. Capitão Sergio Macaco Presente.


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