O ano que não termina

Por João Ricardo W. Dornelles, enviado ao Cafezinho

2016, o ano que não acabou …

Depois do “1968, o ano que não terminou”, de Zuenir Ventura, nos resta escrever “2016, o ano que terminou com todos nós “.

O ano da vergonha.

Eita ano difícil, duro, triste. Fosse apenas no Brasil, já seria para derramar muitas lágrimas. Mas foi um ano terrível em todo o mundo.

Lembrando, um ano que já começou com a ameaça de impeachment da Presidenta Dilma. No mundo o aumento da crise humanitária dos Refugiados sírios. Enfim, um ano que de lascar que, infelizmente, entrará por 2017 a dentro.

Condução coercitiva de Lula; a surpreendente é vergonhosa votação na Câmara dos Deputados, no dia 17 de abril, autorizando o processo de impeachment contra Dilma; a indignidade avançando com o seu afastamento em meados de maio, culminando com o golpe em 31 de agosto e a confirmação do usurpador Temer na presidência; a escolha de um ministério de filme de terror; no meio do caminho um estupro coletivo de uma adolescente sendo celebrado em redes sociais; o fascismo avançando no Brasil e pelo mundo afora; eleição de Trump (era uma “escolha de Sofia”, escolha dura entre duas formas de barbárie); previsão de disputa entre direita e extrema-direita na França; mais um governo direitista do PP na Espanha; derrota acachapante das esquerdas nas eleições municipais pelo Brasil afora; Crivela no Rio, Dória em São Paulo; Escola sem Partido; PEC 241/55; fim dos programas sociais; entrega do pré-sal para as petroleiras internacionais; crise institucional; falência do Rio e do Rio Grande do Sul, clima de guerra civil; morte de Fidel, morte de Modesto da Silveira, Leonard Cohen, Ferreira Gullar, George Michael… terrível acidente aéreo com time da Chapecoense; terrível acidente aéreo (pouco divulgado pela imprensa nativa) vitimando o histórico Coral do antigo “Exército Vermelho”, na Rússia.

Morre D. Paulo Evaristo Arns, paladino da luta pelos direitos humanos durante a outra ditadura.

Mundo em chamas.

Trump anuncia a retomada da corrida armamentista e a perseguição dos imigrantes ilegais.

A tragédia de Aleppo, na Síria, a marca do nosso tempo. Massacre com cobertura e manipulação midiática… uma mesma criança é fotografada inúmeras vezes em lugares diferentes nos braços de diferentes soldados que a resgatam de escombros diferentes. Cenas ensaiadas de uma realidade que não precisa de coreografia.

O governo golpista brasileiro vende no varejo o patrimônio nacional e presenteia os meios de comunicação com mais de 100 bilhões. Ao mesmo tempo corta bolsa família, corta o que chamam “privilégios” (???) de trabalhadores, anuncia a morte dos direitos trabalhistas, previdenciários, sociais em nome do deus mercado.
O futuro sendo morto… a morte do direito já havia ocorrido durante o ano.

Milhares de servidores públicos estão há meses sem salário …
o Natal é de tristeza e penúria… ruas e shoppings vazios.

12 % de desemprego… milhões de trabalhadores sem empregos, mesmo no período do Natal, quando normalmente aumentam os empregos temporários.

A volta ao sonho da Casa Grande, colocar a Senzala “no seu devido lugar”; volta do flagelo da seca e seus retirantes. O que tinha terminado nos 13 anos do ciclo de Lula e Dilma… sertanejos que tiveram o bolsa família cortado saindo de suas terras e indo para as periferias das capitais do Nordeste. A volta da “migração da miséria”.
Em breve as classes abastadas voltarão a ter à sua disposição a mão de obra servil quase escrava.
O Brasil retomando sua tradição de “cordialidade” e barbárie, um museu de “grandes (e velhas) novidades”.

13 de dezembro de 1968, 13 de dezembro de 2016. 48 anos que separam dois momentos de violência contra o povo brasileiro, o AI-5 da ditadura civil-militar e a PEC 55, a PEC da morte da ditadura civil-midiática-judicial, ambas DITADURAS DO CAPITAL.

A barbárie nossa de cada dia se multiplicou neste 2016. E fechamos o ano com dois homens truculentos, expressão de tempos de horror, que espancam até a morte um vendedor ambulante, um senhor de 53 anos, cujo erro foi defender uma travesti moradora de rua que seria agredida por eles. Os rapazes assassinos, quando presos, declararam que “estavam bêbados” … beber um pouco mais passou a justificar assassinatos … o fascismo no tecido social, a banalidade do mal.

Já vimos esse filme… o roteiro é péssimo, o enredo sofrível e o final não é bom.

O estado de natureza hobbesiano presente no dia a dia, em todas as partes do mundo.

A história se repetindo, não como farsa. Como tragédia, de novo. “De novo? Não!” Como disse Chico num palanque protestando contra o golpe.

2016, o ano que não terminou, talvez tenha marcado tanto nossas vidas, que não acabe tão cedo…

Ano difícil. Clima de medo e desesperança.

O ano da vergonha, ou o ano sem vergonha, sem vergonha de acabar com os sonhos e esperanças de justiça, solidariedade e emancipação.

2016 não deixará saudades, ficará gravado no calendário da história como o ano da injustiça e da intolerância.

Só posso desejar que 2017 seja de muitas lutas e de renovação das nossas esperanças humanas e coletivas, mostrando caminhos para a unidade das forças progressistas na perspectiva de um Mundo e de um Brasil mais justo, fraterno, democrático e socialista.

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