Por Rafael Castilho, publicado em rede social
A bola da vez a ser encaçapada em definitivo é a Odebrecht.
Depois de colocarem o presidente da empresa na masmorra e o coagirem a realizar a delação premiada (tortura por outros meios), o momento é de rapinar e delapidar o patrimônio da Odebrecht por meio de multas e confiscos.
O inexistente Estado da Suíça cumpre o seu papel e aproveita da situação para meter a mão no dinheiro investido naquele país, supostamente um lugar seguro. Bem feito, nesse sentido.
O fato é que como a sociedade ficou envolvida no cotidiano do Fora Dilma e do Fora Temer, pouquíssimas pessoas se deram conta dos interesses estadunidenses no desenrolar da Lava Jato, para além das disputas partidárias locais.
Não é teoria de conspiração. Os fatos recentes demonstram o apetite dos ianques. No mais, um país com o histórico de apoio a golpes, guerras e suporte a levantes no mundo todo, sempre em defesa da “paz, liberdade e democracia”, deixa a todos bem escolados de como funciona seu modo de operação.
Quem assistiu a série do Pablo Escobar vai se dar conta de alguns detalhes. Escobar era um traficante internacional de cocaína que se tornou bilionário vendendo para o mercado americano. O negócio continua a existir, porém não mais nas mãos de Escobar. Era um negócio muito grande para ele. Vinte anos depois da morte de Escobar, os EUA continuam a ser o maior consumidor de cocaína do mundo. Metade da droga do mundo é consumida pelo mercado americano.
Pois bem, para destruir Escobar, os EUA montaram uma operação diplomática e uma rede de colaboração que envolvia as polícias, a justiça e a mídia.
A Suíça recentemente também colaborou para o desmonte da diretoria da FIFA. A justiça e a polícia fizeram o serviço. Prendeu mais de uma dezena de dirigentes e alguns foram extraditados para os Estados Unidos, como o brasileiro José Maria Marin. Sim, o futebol e as copas se tornaram um negócio grande demais também.
Na última Copa no Brasil, as construtoras nacionais não deram nenhum espaço para as estrangeiras. Ficaram com tudo. Essa foi uma decisão do governo brasileiro que trabalhou de mãos dadas com as grandes construtoras no Brasil e no exterior, transformando-as nas famosas “campeãs mundiais”.
Sim, havia uma estratégia do Governo Lula em fomentar certa parcela produtiva da burguesia nacional e construir uma aliança estratégica para o desenvolvimento do Brasil. Se deu certo durante um tempo ou se deu errado para sempre, é outra história. Dessa política nasceram as lendas como aquela que dizia “o Lula é dono da Friboi”, entre outras.
Essas empresas “campeãs”, “amigas do governo”, se consagraram definitivamente como grandes multinacionais brasileiras. Andaram de mãos dadas na política externa e tornaram-se também grandes operadoras e financiadoras do sistema político.
Muitos episódios de corrupção efetivamente ocorreram.
O fato é que está tudo dentro da “normalidade” do que ocorre nas democracias burguesas. Essa “democracia” exportada a base de golpes e bombas, é a condição necessária justamente para que os mercados privados controlem os Estados, por meio de doações de campanha e financiamento do sistema político.
A questão passa a ser a seguinte, para quem o Estado está trabalhando?
A doação das grandes instituições financeiras havia diminuído sua importância relativa, em comparação com as grandes construtoras. O funcionamento do Estado brasileiro estava mais inclinado para a realização das grandes obras. Essas empresas ficam ainda mais fortes e influenciando o funcionamento do Estado. Ainda que a corrupção como prática naturalizada na política brasileira seja algo detestável e a ser combatido, o “jogo grande”, jogado pelos grandes players do capitalismo global não envolve esse tipo de pudor.
A realização de grandes obras e o aumento de investimento em infraestrutura, subverte a ordem econômica global do neoliberalismo. Para o estrangulamento dos Estados e a quebra de direitos dos trabalhadores com consequente aumento do poder de compra e diminuição do mercado interno, se deu um nome bonito de “controle orçamentário das contas públicas”. É dinheiro e poder nas mãos dos banqueiros e especuladores.
Ninguém aqui está dizendo que as empreiteiras brasileiras são vítimas ou boazinhas. O fato é que não existem empresas boazinhas. Isso seria um conflito justamente com a natureza do capitalismo, onde a competição pelo mercado e a maximização dos lucros e dos interesses estratégicos são a regra.
Mas a Odebrecht, como outras empresas brasileiras a serem esquartejadas num futuro próximo, eram sim importantes para estratégia de desenvolvimento do Brasil. Possuem ainda um acúmulo gigantesco de conhecimento, geram empregos e são responsáveis por grande parte das exportações nacionais e também de nossa estratégia para a política externa.
Conforme já foi dito, cresceram demais a partir do Governo Lula. Já eram grandes, mas ficaram mais fortes e, não por acaso, os contratos investigados dessas empresas foi justamente no setor de petróleo, o tesouro a ser verdadeiramente roubado pelos piratas internacionais.
Acreditem, não há um só segundo em que os grandes agentes envolvidos nesse processo estiveram verdadeiramente comovidos e preocupados com a corrupção. O que ocorre nada mais é do que um pano de fundo para, aí sim, o maior roubo da história do planeta que está por ocorrer. Vão engolir um gigante chamado Brasil.
A Odebrecht, concorria globalmente em vantagem competitiva com empresas americanas. Está ainda presente na África, no Oriente Médio, na Ásia, no Caribe e na América Latina.
Aquele porto de Mariel que escandalizou os coxinhas, era justamente uma porta de entrada da produção brasileira e cubana para o mercado dos Estados Unidos.
Odebrecht e outras grandes construtoras interditadas na Lava Jato, também passaram a influenciar os processos decisórios nos países da América Latina, tornando-se importantes doadoras para as campanhas eleitorais no continente. Entraram na rota de colisão com os norte americanos. Tanto do ponto de vista econômico, quanto do ponto de vista político.
Por fim, a Lava Jato também cumpriu o papel de interditar o Brasil.
Só existe um país em condições de concorrer com os EUA como hegemonia local. Esse país é o Brasil. Não que o Brasil fosse alcançar o desenvolvimento dos Estados Unidos em vinte anos, mas eles trabalham para que não sejamos uma alternativa nem em cem, duzentos ou quinhentos anos.
E para destruir o Brasil não é preciso explodir uma bomba sequer. Bombas talvez viessem a possibilitar que se identifique o inimigo. No Brasil, mais eficiente que mil bombas é a tolice de parte do nosso povo.
Que a camada da sociedade que está indesculpavelmente alijada da política não consiga nesse momento enxergar o que está ocorrendo é possível compreender, entender, dialogar, etc. Mas que a burguesia nacional, tendo, parte dela, seu dinheiro pilhado pelos chacais gringos e seus negócios prestes a serem tomados por piratas não consigam reagir, isso é de doer.
A burguesia nacional brasileira deixa demonstrações inequívocas de sua incompetência e sua incapacidade em liderar o Brasil.
A burguesia odeia o Estado e odeia a classe política, mas o fato é que o capitalismo brasileiro foi construído de cima pra baixo e se houver alguma reação possível, esta ainda virá justamente da classe política (que hoje está vulgarizada e de joelhos) e do povo brasileiro organizado.
Digo organizado para defender o Brasil, que está em processo de desaparecimento. Se for pra cada um ficar defendendo seu protagonismo político de varejo, vai ser até bonitinho, mas essa será a alegria final dos imperialistas.