Por Pedro Breier, correspondente policial do Cafezinho
Não precisa ser vidente: mais proteção ao PSDB, simbolizado por Aécio Neves, e mais perseguição ao PT, simbolizado por Lula.
A ação do consórcio midiático/judicial nos estertores de 2016 mantém o padrão adotado desde o início da operação.
MP, Moro, PF e mídia corporativa de repente viram respeitadores dos direitos fundamentais e da privacidade do investigado quando ele pertence ao PSDB.
Aécio foi convidado a prestar depoimento antes de acordar com soldados armados batendo à sua porta e helicópteros sobrevoando a sua casa.
Os cuidados da PF combinam com a discrição da mídia para cobrir o depoimento do mineiro/carioca, simbolizada na pequena nota da Época.
Com Lula é outra história: mais um vazamento seletivo para a mídia amiga na Lava Jato, contendo mais tentativas dos investigadores de ligar Lula a algum crime.
Desta vez é o aluguel de um apartamento vizinho ao seu que seria pago disfarçadamente pela Odebrecht e que na verdade seria uma propina a Lula.
A Lava Jato parece querer chegar nos valores de propina adequados ao “chefe do esquema criminoso” somando os valores de reforma em sítio, apartamento no Guarujá, terreno, aluguel…
O multidelatado Aécio e demais tucanos são tratados com discrição; não há vazamentos para a mídia amiga; não há condução coercitiva sem prévia intimação para depor voluntariamente.
Aliás, temos aqui uma grande ironia: os tucanos, que nos últimos anos aliaram-se à extrema direita – defensora de pensamentos absolutamente cristãos como ‘direitos humanos para humanos direitos’ e ‘bandido bom é bandido morto’ – recebem da Lava Jato o tratamento que os seus mais novos amigos consideram coisa de comunistas e ‘defensores de bandidos’.
Os petistas, por sua vez, Lula em especial, são tratados com ações truculentas e espalhafatosas ordenadas principalmente por Sérgio Moro; divulgação prévia dessas ações para a imprensa conservadora; cobertura sensacionalista dos eventos, com helicópteros, interrupção da programação, etc. De fazer vibrar um defensor da “intervenção militar”.
A aplicação da lei de forma digna e o respeito aos direitos fundamentais e de defesa dos investigados adotados para uns e não para outros é um absurdo.
Mas estender o arbítrio para os partidos até agora poupados obviamente não é o caminho.
Comemorar a chegada dos métodos arbitrários da Lava Jato a nomes pesados do PMDB e desejar que os espetáculos de truculência transmitidos ao vivo sejam democratizados ao PSDB e, afinal, a todas as legendas é comemorar a expansão do estado policial para o nível de total engolimento da política (lembremos sempre que os membros da justiça, polícia e ministério público não são eleitos por ninguém, enquanto os políticos são escolhidos democraticamente e avaliados a cada eleição pelas urnas).
O que seria uma notável burrice: o estado policial sem freios acaba atingindo a todos, sempre diminuindo as nossas liberdades em nome da segurança, da corrupção, ou do que for a desculpa conveniente da vez.