O preço do golpe: fundamentos macro-econômicos derretem

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Arpeggio – coluna política diária

Por Miguel do Rosário

Como de praxe, quebro minha promessa de fazer um recesso de alguns dias. Vamos lá, analisar os últimos acontecimentos da política brasileira e tentar jogar um pouco de luz nessa noite escura que se abateu tão abruptamente sobre o nosso país. [s2If !current_user_can(access_s2member_level1)]

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Vamos começar nossa análise com o informe do Banco Central divulgado ontem. Não traz boas notícias, mas me parece saudável terminar o ano com pé no chão.

O relatório termina com dados da dívida bruta do “governo geral”, que inclui governo federal, INSS, governos estaduais e governos municipais). Segundo o Banco Central, ela atingiu R$ 4,4 trilhões, ou 70,5% do PIB.

Há países que tem dívidas maiores, mas nenhum deles tem juros básicos tão altos, e esse é o perigo. O Brasil precisa escolher entre ter uma dívida pública alta e juros altos. Os dois somados não formam uma boa ideia.

Está se esvaindo rapidamente o tempo em que podíamos dizer que o Brasil oferecia fundamentos econômicos sólidos.

O site Trading Economics, que compila dados oficiais macroeconômicos do mundo inteiro, traz um gráfico (no alto do post) sobre a dívida pública interna bruta que mostra o preço do golpe de 2016.

Ainda segundo o Banco Central, a dívida pública bruta encerrou o difícil ano de 2015 em R$ 3,92 trilhões. No ano de 2016, este montante pulou para R$ 4,4 trilhões, ou de 65,5% para 70,5% do PIB.

Este salto da dívida bruta, de mais de R$ 500 bilhões, pode ser atribuído ao golpe. Mas o prejuízo, naturalmente, é muito maior que isso.

Hoje o site do PSDB reproduz uma notícia da Folha de São Paulo:

Previsvelmente, tanto a Folha como, é claro, o PSDB, dão a notícia pela metade. Mas para bom entendedor, já é o bastante. Em primeiro lugar, ela começa dizendo que as obras estavam “paralisadas desde 2015”, no “governo de Dilma”. Sim, 2015 foi o ano do bloqueio, o período que antecedeu e preparou o golpe. A Lava Jato e a participação das castas burocráticas, também devidamente preparadas e embaladas ideologicamente, tiveram um papel central.

A empresa chinesa que assumirá o lugar das “empreiteiras da Lava Jato” é uma estatal, naturalmente. As outras empresas que estariam dialogando com a Eletronuclear são todas estatais.

A velha cantilena golpista está e volta: mancha-se a imagem das estatais brasileiras, por serem estatais, e se vende a ideia de que elas serão melhor geridas se forem privatizadas, e aí se vendem as empresas para… estatais estrangeiras.

O golpe de 2016 está fazendo o Brasil ser repartido, muito rapidamente, e a um custo baixíssimo, pelas potências, incluindo aí a China, a quem interessará que os materiais adquiridos pelas usinas nucleares do Brasil, assim como os empregos gerados, sejam chineses.

A estatal chinesa que assumirá o lugar das empresas nacionais nos serviços e infra-estrutura de Angra 3 já se envolveu em inúmeros escândalos de corrupção. Em agosto de 2006, o Diário da China, jornal oficial do Partido Comunista chinês anunciava a prisão de Kang Rixin, envolvido num mega-escândalo de corrupção, de US$ 260 milhões. Claro que isso não significou a destruição ou privatização da estatal.

Os chineses não são burros.

Dê uma nota para o post de hoje (avaliação anônima).[ratings]

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Miguel do Rosário: Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.
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