Por Bajonas Teixeira, colunista de política do Cafezinho
Os movimentos que animam os protestos da classe média sumiram como que por encanto, como se nunca tivessem existido. No entanto, no início do mês de dezembro, estavam bombando nas páginas da mídia, e exaltados como decisivos para os rumos do país. No UOL / Folha de São Paulo, por exemplo, aparecia matéria com o título Grupos prometem manifestações contra a corrupção hoje em mais de 200 cidades. Era o dia 04 de dezembro, um domingo, data de manifestações em apoio à Lava Jato.
Já é um fato interessante constatar que esses “grupos” ora são vistos como as “forças da democracia”, ora recebem um cala boca e são banidos do convívio público. Movimentos democráticos teriam, necessariamente, que comparecer diariamente na mídia, opinar, contradizer, discutir, e dar sua opinião sobre todos os assuntos políticos.
No entanto, os nossos movimentos democráticos de classe média simplesmente não existem para nenhuma das ações vitais de uma vida política democrática normal. Sua existência é marcada pela ausência e o completo desprezo que a mídia lhes devota, salvo em datas em que é preciso criar uma certa miragem. Na verdade, não passam de coadjuvantes, de intermediários, de ‘claques’ que devem aplaudir ou vaiar no momento indicado.
Foi isso que aconteceu no início de dezembro, e o que fez a mídia lembrar da existência dos “movimentos”. Eles foram tirados do armário, espanados, e postos devidamente apresentáveis nas manchetes. Mas, por que sumiram?
Para saber por que sumiram, é necessário saber primeiro porque entraram. Era o assunto da lei do abuso de autoridade e da luta do Congresso contra o Judiciário e a Lava Jato. Os movimentos foram convocados às ruas para dar seu apoio, já não a favor das Dez Medidas, que tinham sido destroçadas na Câmara, mas contra a lei que prometia cortar as asas dos procuradores, juízes e outras autoridades habituadas ao abuso de autoridade.
Abusos como os de Sérgio Moro, que levou Lula para depor coercitivamente em 04 de março, ou como os dos procuradores da Lava Jato, que fizeram a ridícula denúncia em PowerPoint em 14 de setembro, ou como a dos procuradores de São Paulo, que pediram a prisão de Lula e, agora, desistiram da ação depois de terem contribuído para o enorme desgaste do ex-presidente.
Nas ruas, os movimentos seguiram o que ditava o figurino, as faixas em grande maioria eram contra o presidente do Senado, Renan Calheiros, que se dizia decidido, do alto dos seus inúmeros inquéritos no STF, a votar a lei do abuso.
No dia seguinte à manifestação, ou seja, na segunda-feira, dia 05, Marco Aurélio de Mello concedeu liminar afastando Renan Calheiros da presidência do Senado. Falou-se então, nos dias que se seguiram, que o ministro atendia ao clamor das ruas. Que clamor? O das manifestações organizadas pelos movimentos.
O grande problema, porém, foi que os movimentos deixaram escancarada sua impotência para levar a classe média às ruas. Segundo o mapa dos protestos do dia 04 de dezembro divulgado pelo G1 da Globo, os movimentos juntos levaram para as ruas apenas 76 mil pessoas, de acordo com os números da PM. Um número absolutamente ridículo. E, além de tudo, os organizadores mentiram descaradamente elevando esse número para 488 mil.
É essa impotência que explica que os movimentos, uma vez terminada a sua tarefa de servir de povo, de construir a miragem de um apoio, são tirados de cena. Eles nada representam, a não ser quando a mídia os coloca em cena e dá um zoom nas suas magras performances. Por isso, logo que cumprem o seu papel, são trancados no armário, desativados, até que outra oportunidade de uso apareça.
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