(Roberto Marinho e Fernando Henrique Cardoso)
Por Pedro Breier, correspondente policial do Cafezinho
O interesse público pede principalmente algo bastante elementar: que guardem suas denúncias para o fim do processo investigativo e não as alardeiem no início, quando são apenas suspeitas. Assim se age nos sistemas democráticos, diferentemente do que acontece em regimes autoritários.
Parece um blog sujo criticando o espalhafato do MP na Lava Jato, mas é um trecho do editorial do jornal O Globo do dia 15 de agosto de 2000.
A pérola foi resgatada por Rodrigo Aguiar e publicada em seu facebook.
É a enésima evidência de que toda a argumentação da mídia corporativa em seus editoriais é apenas questão de aparência.
O que realmente importa para os barões da imprensa brasileira é se o governo da vez é amigo ou inimigo.
Um trecho do post do Rodrigo:
No início dos anos 2000, o procurador federal Luiz Francisco de Souza atazanava tucanos ligados ao presidente FHC.
Era RIDICULARIZADO pela chamada grande imprensa: um falso paladino, falso asceta (dirigia um fusca 1985) e petista. Tratamento não apenas diferente, mas CONTRÁRIO ao recebido pelos procurados da lava jato.
O jornal O Globo era o mais preocupado com a -cito um editorial- “ofensiva contra a imagem do próprio presidente da República”.
Ao analisar ações de membros do MPF que se aproximavam do gabinete presidencial, o mesmo editorial dizia ser “incorreto que se confundissem INDÍCIOS COM PROVAS, possibilidades com certezas e, acima de tudo, DESEJOS COM FATOS”.
Os “desejos”, no caso, seriam as motivações político-partidárias do procurador. O Globo pedia calma. Estava correto.
Agora, encontre esse bom senso em quaisquer edições globais nos últimos anos.
O bom senso foi para o espaço com o PT no poder.
Delações premiadas vazadas, supostas delações, início de investigação, áudio envolvendo a presidenta e o ex-presidente da República, depoimento de porteiro do prédio que talvez, quem sabe, teria sido do Lula: qualquer coisa é divulgada com estardalhaço pelo mesmo veículo que criticava a falta de cuidado do MP na divulgação de “apenas suspeitas”.
Agora o MPF faz suas pirotecnias e até power points sob aplausos entusiasmados dos amigos do FHC.
Já que falamos no príncipe dos sociólogos, outro trecho desse mesmo editorial do Globo: “Fernando Henrique, em entrevista a Miriam Leitão, transmitida pela Globonews, afirmou que insinuações e acusações paradas na metade minam a crença na democracia e dão a impressão de que ‘todos são iguais e tudo é uma podridão'”.
Quando a Lava Jato estava dando sua contribuição essencial para derrubar o governo petista FHC não viu problema nenhum nas acusações furadas do MPF.
Agora, a opinião dos Marinho sobre a nomeação de juízes que “pensam como o governo” para os tribunais:
Como se esse não fosse invariavelmente o comportamento de governos, em qualquer lugar do mundo. É inadmissível que qualquer político profissional com um mínimo de experiência não considere usual esse comportamento. Alguém já terá ouvido falar, na história da República, de um ministro do Supremo Tribunal Federal escolhido por outro critério?
Claro que essa é a opinião da Globo para quando o governo é amigo. Quando é inimigo, nomear juízes que “pensam como o governo” para o STF é aparelhamento, bolivarianismo, lulopetismo, etc., etc.
Abaixo, o editorial: