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Espiando o poder: análise diária da grande imprensa
Foto: Estadão
Por Luis Edmundo Araujo, colunista do Cafezinho
A manchete do Estado de São Paulo de hoje diz que “no ano, País tem 3 milhões de novas ações trabalhistas”, e a coluna pede desculpas ao leitor regular ou eventual, porque este autor aqui, autor também de uma dessas 3 milhões de ações, não conseguiu evitar a breve, ligeira resvalada no pessoal, pelo menos no início do texto.[/s2If]
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“Brasil é o país com maior quantidade de processos; minirreforma pode reduzir número de queixas”, conta o subtítulo da principal notícia do Estadão, na chamada onde “além da crise, que elevou as demissões e as demandas judiciais, há forte assédio de escritórios de advocacia para que o empregado recorra ao Judiciário”. “Segundo o presidente do Tribunal Superior do Trabalho (TST), Ives Gandra Martins Filho, sempre que o trabalhador vai à Justiça, ganha algo”, continua o texto, e o autor deste outro texto, aqui, lê essa declaração e só consegue pensar nos 12 anos que esperou, a partir da sentença, para receber por outra ação já terminada, um valor que hoje daria para comprar um carro zero, dos mais baratos, e mais nada.
O Estadão avisa na capa que “há funcionários pedindo indenização por lavar os uniformes” e que “em 2015, foram pagos R$ 17, 4 bilhões em ações” trabalhistas. Lá dentro, na matéria, conta que “o Itaú, por exemplo, foi condenado este ano a pagar R$ 3,9 milhões a uma ex-funcionária de uma rede de supermercados. O banco é emissor do cartão de crédito com a marca do varejista e ela vendia o produto em uma de suas lojas. A funcionária, que ganhava R$ 720 por mês, abriu ação contra o Itaú pedindo equiparação com o salário dos gerentes do banco”. Não há, em toda a matéria, a citação a um caso como o do autor deste texto, demitido junto com todo o quadro de funcionários de um jornal extinto em maio deste ano, por conta, segundo a justificativa da empresa, da crise.
Pleiteio na Justiça dois meses de salários não pagos, além de décimo terceiro de 2015 e 2016, do FGTS não depositado desde agosto de 2014 e dos demais direitos garantidos pela Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) a todo trabalhador demitido sem justa causa, como a multa de 40% em relação ao total depositado no FGTS. Não pleiteio hora extra nem equiparação de salário, nem nada parecido além dos direitos básicos, elementares, e mesmo assim quase me sinto culpado ao ler a matéria do Estadão, por recorrer a essa Justiça Trabalhista que parece existir para enriquecer injustamente funcionários subalternos.
Em reportagem auxiliar, na qual as “empresas” (coitadas) “fazem ‘ginástica’ contra ações”, “várias empresas estão reduzindo benefícios não obrigatórios “por terem receio de que sejam usados contra elas na Justiça do Trabalho”, diz a diretora executiva jurídica da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Luciana Freire. Segundo ela, há uma ‘fábrica de pleitos trabalhistas’ que causa forte impacto nas empresas e atrapalha investimentos em razão do passivo trabalhista”.
Há casos de injustiça latente, sim, como os mostrados na matéria do jornal paulista, mas esses casos não são maioria, a julgar, logo a olho nu, pela comparação entre o número de 3 milhões de novas ações trabalhistas em 2016, com os 22,7 milhões de desempregados registrados no País em outubro, de acordo com o IBGE. E certamente os casos esdrúxulos, injustos, também não são maioria entre os trabalhadores que decidiram ingressar na Justiça, ainda que nenhum desses outros casos de demitidos sem justa causa, sem nada receber de rescisão, apareça na matéria do Estadão, que apresenta também, esperançosa, a solução.
“A minirreforma trabalhista apresentada pelo governo neste fim de ano deve, contudo, reduzir as queixas, pois muitos dos argumentos usados nas ações, oriundos de acordos coletivos não reconhecidos pelo Judiciário, passarão a ser lei. Com isso, a chamada ‘indústria de reclamações’, como define o professor da USP, Hélio Zylberstajn, será enfraquecida”, afirma a reportagem do Estado de São Paulo. Ilustrado pela imagem lá em cima, na qual, segundo a legenda, “trabalhadores aprovam revisão de acordo na Volkswagen e garantem estabilidade até 2021”, o texto encontra apoio incondicional no Globo, nas páginas de opinião.
No artigo louvando no título o que considera ser a “Modernização trabalhista”, o professor de Filosofia na Universidade Federal do Rio Grande do Sul Denis Lerrer Rosenfield saca do ponto de exclamação logo na primeira frase para exaltar o governo Michel Temer, dizendo que “inegavelmente, a pinguela está se mostrando uma ponte!” “O maior avanço das medidas proposta consiste no prestigiamento da Negociação Coletiva, que passa a ter força de Lei. Ou seja, o acordado entre as partes, segundo uma lista estabelecida no Projeto de Lei, passará a valer legalmente, não podendo ser modificado pela Justiça trabalhista”, explica Rosenfield.
“Os contenciosos trabalhistas, por sua vez, tendem a diminuir, assim como a ingerência dos Tribunais nestas decisões”, diz o professor de filosofia, antes de concluir seu texto com novo ponto de exclamação, afirmando que “o país, definitivamente, moderniza-se!”. Um otimismo, um orgulho do atual presidente que combina também com a chamada que, no Estadão, vem logo abaixo das 3 milhões de novas ações trabalhistas. ”
“Temer encerra 2016 com taxa recorde de adesão na Câmara”, afirma o título sobre a chamada na qual “o presidente Michel Temer termina o ano com a maior taxa de governismo da história recente da Câmara. Segundo o Basômetro, do Estadão Dados, os deputados seguiram orientação do governo em 88% das votações nominais que ocorreram em plenário.” E na Folha de São Paulo, o editorial anuncia no título que “a inflação cai”. “Foram muitas as decepções ao longo deste ano, mas 2016 ao menos termina com uma boa notícia: a queda da inflação”, começa dizendo o jornal, ainda que reconheça, já no subtítulo, que a queda ocorreu “por força da recessão”.
Segundo o jornal, “em relatório trimestral publicado na quinta-feira (22), o Banco Central consignou que a atividade econômica mais fraca – a projeção de alta do PIB para 2017 encolheu de 1,3% para 0,8% – e o marasmo no setor industrial podem provocar uma desaceleração dos preços mais intensa do que se devia”. A manchete do Globo confirma tal marasmo, ao revelar que “só cinco de 50 setores escapam da crise”. “Exportadores beneficiados pelo câmbio e segmentos mais resilientes fecham no azul”, completa o subtítulo, enquanto na Folha, Natuza Nery informa na nota que abre a coluna Painel, “2016, né?”, que “não foram muitas as categorias que conseguiram aumento real de salário neste ano”.
“Dentre os que lograram reajuste acima da inflação”, continua Nery, “os campeões foram os trabalhadores de cemitérios e agências funerárias.” Feito pela Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), o estudo, segundo a colunista “contempla as convenções e os acordos firmados nos doze meses findos em novembro”. Na nota seguinte, “na lanterna”, a coluna informa que “as três categorias com pior desempenho no ranking de reajuste foram: indústria do vidro, extração e refino de trabalho e empresas jornalísticas”.
E no blog Poder 360, dirigido por Fernando Rodrigues e editado por Tales Faria, um levantamento entre os jornais diários brasileiros mostra que em 2016 os “principais títulos agregaram 91 mil assinantes online, mas edições impressas perderam 124 mil assinaturas”. O texto segue afirmando que “como 2015 foi 1 ano ruim para essa indústria, o quadro de assinantes de janeiro de 2015 a novembro de 2016 (23 meses) é bem negativo para todos os 11 jornais analisados nesta reportagem”, e que “apesar de alguns ganhos pontuais no digital, a perda geral foi de 229.103 assinantes nesse período de 23 meses”.
Aviso aos leitores do Cafezinho: Por motivos pessoais, o Éder Casagrande não pode publicar hoje a coluna Estômago de Aço. O clipping analítico será publicado amanhã
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