Por Denise Assis, colunista do Cafezinho
Para os que botaram o sapatinho na janela, sonhando com melhoras na economia, e pedindo particularmente de Natal, ao bom velhinho, um reforço nas finanças pessoais, saibam: ele aderiu ao programa neoliberal. Aquele papo do “seja rico ou seja pobre, o velhinho sempre vem”, serve apenas para refrão de canções melosas tocadas como atrativo nos shoppings.
Na verdade, ele andou se perguntando: se eu que estou nesta idade, ainda reúno as minhas renas e saio por este mundo afora para entregar presentes sob frio intenso ou calor escaldante, enfurnado nesse figurino que está longe de se adaptar a todas as temperaturas, por que dar um refrigério para esses brasileiros que ficam aí, sonhando com melhorias?
Vou pensar no caso deles. Antes vou me entender com o patronato e com esse Michel, que joga no meu time, para saber tim-tim por tim-tim, o que esse povo tanto reclama. Estão a um passo dos festejos natalinos. Ganhando ou não, para isto, eles torram todo o 13º, desde a sua publicação no D.O, em 13 de julho de 1962.
O país, aliás, tem mania de estabelecer fatos importantes em dias 13. Foi assim no Comício da Central (13 de março de 1964); foi assim no Ato Institucional nº 5 (13 de dezembro de 1968) e foi assim na aprovação da PEC do Fim do Mundo, no fatídico dia 13 de dezembro, deste ano.
Esgotados os recursos, os brasileiros não estão nem aí para o fato de estar pendurados no cartão de crédito. Como diria o Alfredo Ribeiro, “ô raça”! Visto isto, concluo que está mais do que na hora de dar um corretivo nesses trabalhadores. Pensam que podem frequentar shoppings, gastar a rodo, e sair por aí, frouxos de rir.
Não. Desta vez vou acabar com esta farra. Estou cheio de pedidos para aumentos de salário, pedidos de empregos… E, pimba! Lá foi Michel, cheio de si, anunciar ao povo que fica! E, não fosse pouca a desgraça, armou-se do melhor sorriso. Ôpa, não se pode descrever assim aquele esgar… Para dizer aos trabalhadores que esta vida não está sopa, e que sempre pode piorar.
Esfregando as suas mãozinhas nervosas, Michel fez o que achou que tinha que ser feito. Como bom leitor de Maquiavel, toda a maldade foi alardeada num pacote só. Decidiu que os sindicatos, que andam meio sem voz ativa com os patrões, terão mais poder que a lei, na hora das decisões trabalhistas. Férias, horário de almoço e outros direitos conquistados a duras penas e muita “borrachada” da Polícia, ao longo dos anos, agora vão ser costurados no grito, e não mais pela CLT.
Agradou à Fiesp, aliviando os patrões da multa de 10% que incide sobre as rescisões, tirando do montante das indenizações, esse percentual. E, como não é bobo nem nada, tirou do bolso do colete, a cereja do bolo. Ressentido com o seu índice de popularidade, abaixo do índice da sua antecessora, a quem atribuiu falta de condições de governar por estar tão mal avaliada pela população, anunciou a medida demagógica de permitir o saque das contas inativas do FGTS.
Estas, é bom lembrar, estão paradas há mais de três anos, porque os seus infelizes possuidores estão desempregados, em grande maioria. Têm lá uma merreca para sacar. Mas não importa. Qualquer dim-dim, nesta época, é bem-vindo, para a população de baixa renda, que espera poder comprar nem que seja um frango chester, nesse Natal. Michel pensa que agora pode contar com a complacência e a simpatia deles.
Por fim, a grande maldade: anunciou como prêmio a redução dos juros do cartão de crédito. Só não explicou para os fregueses, que daí por diante, um mês sem o pagamento do total da fatura, será o suficiente para interromper o rotativo e virar uma montanha de juros na conta do freguês. Reduzido ou não, para quem está encalacrado, é uma boa encrenca. Mas isto só será conferido depois da missa do galo. Até lá, as manchetes saíram favoráveis a Michel, o Papai Noel é aguardado e então é Natal…