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Espiando o poder: análise diária da grande imprensa
Foto: Marcos Alves/ Globo
Por Luis Edmundo Araujo, colunista do Cafezinho
O trabalhador desempregado olha hoje na banca a manchete do Globo dizendo que “conta inativa do FGTS poderá ter saques” e identifica como notícia boa. “Dinheiro do trabalhador” é o ‘chapéu’ sobre o título, e mesmo desanimando um pouco com o subtítulo avisando que haverá limites para tamanha bondade, que somente “será autorizado resgate de R$ 1 mil em saldo sem movimentação”, o desempregado tem tudo para continuar feliz se não buscar mais informações além da capa do Globo. Não há ali qualquer menção à “minirreforma trabalhista por meio de medidas provisórias”, na qual está incluída a liberação de parte do Fundo de Garantia por Tempo e Serviço, que a Folha de São Paulo cita na primeira página, na chamada em que, no título, enquanto busca desesperadamente o apoio do PSDB para sustentar sua pinguela, como mostra a foto acima, “Temer abre caminho para jornada maior de trabalho”. As duas notícias, aliás, vêm abaixo de outra em tom quase exultante, de celebração, que na Folha e no Estado de São Paulo é manchete, e no Globo, quase.[/s2If]
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Segundo a Folha, a minirreforma trabalhista “abre caminho para que acordos estabeleçam jornadas de até 12 horas diárias limitadas a 220 horas mensais e se negociem benefícios atualmente garantidos aos empregados em lei”. É o começo do fim da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), mas nada disso está no Globo, que preferiu destacar só a parte do pacote que alivia um pouco o bolso do desempregado, enquanto no Tijolaço, o jornalista Fernando Brito lembra que a CLT “é a Lei Áurea do Trabalhador, que um monte de imbecis não entendem que é o maior instrumento de defesa da dignidade humana do trabalhador”.
Na coluna Painel, da Folha, a nota “O que vem” informa que “a minirreforma trabalhista que o governo anuncia nesta quinta (22) é só o aperitivo. O Planalto ainda guarda para janeiro mudanças profundas no setor. Pontos polêmicos como o da redução da jornada de trabalho ficam, portanto, para 2017”. No mesmo jornal, Vinicius Torres Freire diz no título de seu artigo que “Temer foge para a frente”, ao afirmar que o “presidente reage ao abalo de seu governo acelerando reformas e cavando mais apoio na elite”. “Temer dá um pulo no vazio da popularidade, carregando nas costas as reformas da Previdência e das leis do trabalho, que não o tornarão mais simpático, ainda mais no quarto ano de crise econômica horrenda”, conclui Torres Freire.
No tal “pulo no vazio da popularidade”, Temer parece seguir direitinho, escutando com atenção, a cartilha do PSDB. O presidente precisa dos tucanos para sustentar sua pinguela e mesmo ouvindo dos aliados de ocasião previsões as mais sombrias sobre o futuro de seu governo, “Temer evita polemizar com PSDB e tenta se aproximar de Alckmin”, como diz o título da matéria no Globo ilustrada pela foto acima, do encontro “no dia seguinte às declarações do senador do PSDB Cássio Cunha Lima (PB), que previu dificuldades para a conclusão do atual mandato presidencial”.
O presidente participou de “cerimônia de entrega de 420 unidades do Minha Casa Minha Vida, em Mogi das Cruzes, na Região Metropolitana de São Paulo, acompanhado do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, um dos que pregam um distanciamento maior do PSDB da gestão Temer”, informa o Globo. “Para tentar amenizar o distanciamento de Alckmin”, continua o jornal, “Temer o chamou de ‘grande governador e prezado amigo’. Já o governador paulista disse que ‘no Brasil de hoje não há mais espaço do nós contra eles’.
Em seu blog no jornal carioca, Lauro Jardim mostra “a mão aberta de Alckmin” na nota em que “Helder Barbalho pediu a Geraldo Alckmin — e levou: o governo de São Paulo, via Sabesp, vai ceder ao Ministério da Integração quatro conjuntos de bombas, utilizadas na crise hídrica que infernizou os paulistas no biênio 2014/15. O ministério vai usar os equipamentos para acelerar o processo da Transposição do São Francisco e tentar levar água aos paraibanos já no começo de 2017.”
E na matéria do Globo, perguntado “se a realização do evento em São Paulo tinha o objetivo de afastar as especulações sobre o distanciamento entre os dois, Michel Temer respondeu: “Só não vou erguer o braço do governador Geraldo Alckmin para não criar …. (sem completar a frase). O presidente precisa hoje visceralmente do PSDB, e uma das razões disso está na coluna de Merval Pereira no Globo. “Interesses fragmentados” é o título do texto que abre falando que “os detalhes de bastidores da votação da Câmara que acabou derrubando as contrapartidas do projeto de renegociação da dívida dos estados mostram bem a falta da coordenação política do governo”.
Há, segundo o colunista, o “vácuo deixado pela saída de Geddel Vieira Lima e o impasse para a indicação do novo ministo da coordenação política, onde há um ministro já anunciado, Antonio Imbassahy, do PSDB, mas inviabilizado até o momento pelo movimento de diversos pequenos partidos dentro do centrão.” Há também a desconfiança, sobretudo o temor da grande mídia de que Temer não seja capaz de influenciar o Congresso para entregar as reformas exigidas, o que foi exposto hoje nos editoriais do Globo, do Estado e da Folha de São Paulo, após a derrota recente na Câmara.
“De costas para o futuro” é o título do editorial da Folha, no qual o jornal afirma que “em votação irresponsável, Câmara aprova renegociação de dívidas dos Estados sem exigir medidas que levem ao equilíbrio das contas públicas”. No Estadão, a chamada na capa para o editorial, “O ajuste fiscal ameaçado”, afirma que “Temer não pode se render à decisão que destruiu as bases da renegociação das dívidas dos Estados”.
O Globo diz no título do editorial que “é preciso coragem para restaurar a responsabilidade fiscal”, e que “somente num universo à parte fazem sentido decisões como a da Câmara dos Deputados, ou ainda dos vereadores de São Paulo que se deram de presente um aumento de 26%”. Merval, por sua vez, ressalta que “o momento de crise econômica grave gera fatores de ingovernabilidade, fragmentando as ações políticas em torno de interesses corporativos e até mesmo pessoais, num quadro partidário acossado pelas revelações da Operação Lava-Jato, em que cada individualidade se sobrepõe ao coletivo, num salve-se quem puder.”
A individualidade da vez a acossar Temer é seu amigo íntimo, José Yunes, exposto na capa do Estado de São Paulo, na chamada no alto para a “Coluna do Estadão”, na qual “ex-assessor de Temer recebeu R$ 1 milhão de operador”. “Em 2014, o lobista Lucio Funaro entregou a José Yunes, ex-assessor especial do governo Temer, R$ 1 milhão em dinheiro a mando da Odebrecht”, diz o texto. “Um dos auxiliares mais próximos de Michel Temer, Yunes deixou o governo após delação do ex-executivo da companhia Claudio Melo”, completa o jornal
A chamada tem ainda a informação de que “Melo narrou que Temer teria pedido a Odebrecht R$ 10 milhões para o PMDB” e que “do total, R$ 6 milhões foram para campanha de Paulo Skaf em São Paulo”. A notícia vai ao lado da manchete anunciando que “Odebrecht pagou propina de R$ 3,4 bi em 12 países”, assunto que também é a notícia principal da Folha e recebe do Globo, se não a manchete, um tratamento quase igual a ela.
Em seis colunas, na largura inteira do alto da primeira página, o jornal carioca anuncia “o maior caso de suborno da História”, explicando no subtítulo que “Departamento de Justiça dos EUA diz que Odebrecht e Braskem pagaram US$ 1 bilhão de propina no Brasil e em mais 11 países”, “em acordos de leniência assinados com Estados Unidos, Suíça e Brasil”. A matéria informa ainda que “o Brasil ficará com 80% da multa que será paga pela construtora e 75% do que é devido pela petroquímica.”
No último parágrafo, “as autoridades americanas agradeceram a colaboração da Polícia Federal (PF) e do Ministério Público Federal (MPF) do Brasil, que compartilharam documentos e provas colhidas ao longo das investigações da Operação Lava-Jato”. Já “o procurador Deltan Dallagnol, coordenador da força-tarefa da Lava-Jato, elogiou o acordo”. “No Facebook, ele criticou o ‘complexo de vira-lata’: ‘Se você acha que o Brasil não tem jeito e veste a camisa do complexo de vira-lata, esta mensagem é para você’, afirma o procurador”. “Não só o maior caso de corrupção internacional no mundo foi descoberto pelas autoridades brasileiras, mas também foi alcançado o maior ressarcimento na história mundial em acordos dessa espécie”, celebra Dallagnol, como se o País tivesse ganhado uma Copa do Mundo.
Na Folha, Jânio de Freitas não deixa de citar Dallagnol no seu artigo de hoje, “A reação no seu lugar”. “A etapa é de testes”, começa ele, para depois afirmar que “o que podia ser abuso, leviandade e prepotência, passou a constituir uma luta de cabeças transtornadas pela sua ‘autoridade’, ou de grupos com ganância de poder. Fase que se insinuou com a desvairada flor carnívora apresentada pelo procurador Deltan Dallagnol, com 14 pétalas venenosas emitindo flechas acusatórias a um nome no centro – contra o qual, Lula, o obcecado acusador imaginava estar apresentando provas, mas só trouxe palavras alheias e compradas por liberdade, ou ilações suas, um delírio televisivo.”
Jânio defende a reação da ex-presidenta Dilma Rousseff no TSE ao dizer que “passados dois anos de vale-tudo e alguns meses de luta por predomínio institucional, esse estado de coisas começa, enfim, a enfrentar reações de fato. No devido lugar: o Judiciário”. “Trata-se agora”, segundo o jornalista, “de requerimento da defesa de Dilma Rousseff, ao Ministério Público Eleitoral, para que o ex-presidente da Andrade Gutierrez, Otávio Azevedo, seja ao menos investigado.”
“Otávio Azevedo mentiu”, lembra Jânio. “Ao acusar, em sua delação, a campanha de Dilma de receber da Andrade Gutierrez R$ 1 milhão ilegais, Azevedo elaborou a falsidade, com o pormenor de um encontro entre ele, Edinho Silva e outro petista, para acertar a doação. A defesa de Dilma apresentou ao TSE comprovante do pagamento de R$ 1 milhão. Não foi em dinheiro. Foi em cheque. Nominal: para Michel Temer. O tal encontro com Edinho Silva e seu companheiro não existiu”. completa o jornalista.
Para concluir o texto justificando a “etapa de testes” da primeira frase, o jornalista ressalta “Renan Calheiros testou o Supremo. Luiz Fux, do Supremo, interveio no Congresso, em um teste sem precedente no regime democrático. O Ministério Público, por meio da Lava Jato, testa a Constituição nos seus gloriosos capítulois 5o e 6o, dos deveres e direitos. E por aí vão outros testes. Otávio Azevedo póe Sergio Moro e a Lava Jato em teste. Michel Temer testa a resistência do país e a tolerância dos cidadãos”.
E se no Globo, em alto de página “Lula diz que Lava-Jato chega a ‘grau de loucura’ ao persegui-lo”, na coluna Panorama político no mesmo jornal, Ilimar Franco informa, na nota “Antes e depois”, que “pesquisa Vox Populi, encomendada pela CUT, registra que Lula venceria, no 2º turno, Aécio (43% x 20%) e Alckmin (45% x 20%). O Datafolha deu Lula na frente, mas com margem estreita. O Vox fez sua pesquisa após vazamento da delação da Odebrecht.” Na nota seguinte, “Lula x Marina”, a coluna diz que “a grande discrepância entre as pesquisas Vox e Datafolha é no embate entre Lula e Marina. O placar é de 43% x 34% pró Marina no Datafolha e de 42% x 21% pró Lula no Vox. Em todos os cenários, cerca de 30% ainda não têm candidato.”
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