Indicador de alavancagem: a grande farsa do plano de negócios da Petrobrás

Por Cláudio Oliveira da Costa, colunista do Cafezinho

O Plano de Negócios e Gestão (PNG) 2017/2021 da Petrobrás tem como principal meta alcançar o índice de alavancagem 2,5 , considerada a ideal dentro dos conceitos de Wall Street. O indicador é obtido pela divisão da Dívida Líquida pela Geração de Caixa anual.

Entretanto, ocorre que este índice só é válido para empresas cujos projetos de investimento já estão maturados e gozando de uma geração de caixa plena, o que não é o caso da Petrobras.

A fase de grandes investimentos na Petrobras foi de 2010 a 2014 quando foram gastos mais de US$ 200 bilhões (média superior a US$ 40 bilhões/ano) com ênfase no pré-sal. Foi neste período que surgiu a atual dívida da empresa.

Projetos na área de petróleo tem maturação em torno de 10 anos, portanto, é de se esperar que a partir de 2020 os efeitos dos investimentos no caixa da Petrobrás comecem a surtir seus efeitos efetivamente.

A utilização deste tipo de indicador, neste momento, tem o claro objetivo de enganar o povo brasileiro e justificar a venda de ativos preciosos e a redução dos investimentos, entregando o pré-sal para as petroleiras estrangeiras.

A mídia entreguista sempre classificou a Petrobrás como a empresa mais endividada do mundo, com uma dívida impagável etc… Na realidade a dívida da empresa é perfeitamente compatível com a grandeza do projeto pré-sal e sua capacidade financeira. Fazendo um paralelo da situação financeira da Petrobrás com a Vale (que não sofre ataque da mídia), considerando os dados dos Balanços de 2015, obtivemos os seguintes números:

DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS 2015 – R$ bilhões

Empresa Petrobrás Vale
Receita Bruta 401,32 86,94
Dívida líquida 391,96 108,86
Patrimônio líquido 205,43 139,42
Geração de caixa 73,86 23,65

(*) Geração de caixa = Ebitda ajustado

A dívida da Petrobras (391,96) é praticamente igual a sua receita anual (401,32), já na Vale da dívida (108,86) equivale a 1,25 da receita (86,94), o que, apesar de ser pior que o da Petrobras, é perfeitamente administrável.

O indicador de alavancagem utilizado no PNG da Petrobras  (dívida sobre geração de caixa) na Petrobras era ao final de 2015  5,30 e na Vale  4,60 , ambos bem distantes dos 2,5 indicados por Wall Street. Assim como ocorre com a Petrobras a Vale também passou por um momento de fortes investimentos, principalmente em sua nova mina de minério que vai entrar em operação no início de 2017.

Sendo assim o indicador de alavancagem recomendado é o da divisão da dívida pelo patrimônio líquido, que vai retratar melhor a situação da empresa analisada. No caso da Vale a dívida equivale a 78% do patrimônio líquido. Já no caso da Petrobras nós temos uma distorção, pois as reservas do pré-sal provadas, não estão apropriadas ao patrimônio da empresa. Quando era utilizado o regime de concessão as reservas provadas eram contabilizadas, mas no regime de partilha o registro só é feito quando da extração do petróleo. Isto pode induzir um analista desavisado ou mal intencionado, a uma avaliação equivocada da verdadeira situação financeira da empresa. Se as reservas do pré-sal estivessem apropriadas este indicador da Petrobras seria substancialmente inferior ao da Vale

De qualquer forma, esta distorção contábil não ilude o mercado financeiro, que abriu suas portas com os recursos que forem necessários para a Petrobras desenvolver o projeto do pré-sal.

Mas nosso principal objetivo com este artigo é, mais uma vez, mostrar a má-fé com que atua a direção da Petrobras, utilizando um indicador inadequado, sobre o qual foi alicerçado todo o Plano de Negócio da empresa.

O Brasil hoje é governado por colonizadores que só pensam em explorar o país e seu povo. É fantástico.

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