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Espiando o poder: análise diária da grande imprensa
Foto: Antonio Augusto/Câmara dos Deputados
Por Luis Edmundo Araujo, colunista do Cafezinho
Ontem foi o assassinato do embaixador russo na Turquia. A mesma foto nas capas dos ditos quatro maiores jornais do País. Hoje a igualdade foi nas manchetes, sobre o mesmo assunto no Globo e no Valor, no Estado e na Folha de São Paulo. “Câmara favorece os Estados na renegociação de dívidas”, diz o Valor, enquanto o Globo afirma que “sem contrapartida, socorro a estados dificulta ajustes”. O governo Temer sofre sua primeira derrota na Câmara dos Deputados, de maneira fragorosa, e recebe da grande mídia sinais de desconfiança. Colunistas revelam fraquezas, projetam ruínas futuras e já não acreditam tanto na capacidade do presidente de tocar as reformas pedidas com a velocidade que se afirma necessária. O Estadão pede “prudência salutar” no título de seu editorial, dando a Michel Temer todas as chances, ainda, de ficar onde está até 2018. E Míriam Leitão é quem melhor resume a manchete unânime na chamada de capa para sua coluna: “derrota do governo, vitória do desajuste”.[/s2If]
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“Congresso aprova ajuda que pode superar R$ 100 bilhões”, informa o subtítulo da manchete do jornal carioca, em cima do outro subtítulo a dizer que “em derrota do governo, deputados retiram do projeto de renegociação das dívidas estaduais com a União praticamente todas as exigências de contenção de gastos e ampliação de receitas”. A Folha explica embaixo da manchete que “governadores poderão ficar 3 anos sem pagar prestações da dívida”, e Míriam Leitão afirma que “o que houve ontem na Câmara foi mais do que a derrota do governo. Foi uma demonstração de fraqueza política”.
De acordo com a colunista, “os estados que arruinaram suas finanças porque gastaram demais, elevaram despesas permanentes, concederam desconto no pagamento de impostos a empresas, foram descuidados na administração, contrataram obras superfaturadas poderão ficar sem pagar a dívida ao governo federal por 36 meses sem qualquer exigência”. “O Tesouro poderá exigir contrapartida nos contratos com cada estado, mas uma cláusula contratual sem qualquer respaldo na lei não terá o mesmo efeito”, completa Míriam.
Sob o título “Vitória do desajuste”, a colunista do Globo segue adiante lembrando que “o mais importante é que o princípio da responsabilidade fiscal também ficou mais fraco e o horizonte da recuperação econômica do país ficou mais longe.” E na Folha, Vinicius Torres Freire prevê um futuro sombrio no artigo “Imagina na Previdência”, no qual abre o texto falando que “foi para o lixo o projeto do governo Michel Temer de dar um destino à crise dos Estados”, e termina dizendo que “em suma, basicamente, o caminho por ora é ruína, sem mais”.
Merval Pereira prega na capa do Globo que “base aliada de Temer é sua maior fraqueza” e na coluna intitulada “O calcanhar de Temer”, lembra que “o que garante não apenas a permanência de Michel Temer na Presidência da República, mas, sobretudo, uma expectativa de poder de mais dois anos pela frente, é a sua formidável base de apoio parlamentar”. “Mas ontem ficou claro”, segundo o colunista, que “essa base de apoio não é totalmente controlável pelo Palácio do Planalto. E é também sua grande fragilidade, seu calcanhar de Aquiles.”
No Brasil 247, Tereza Cruvinel diz que “o governo pode explicar a derrota como quiser mas a verdade é que a maioria governista, depois de aprovar a PEC 55, avisou que não vai se imolar junto à população obedecendo ao Planalto e à equipe econômica”. “Então, estamos assim”, conclui a jornalista, “Temer não pacificou o país, não reanimou a economia, é citado em delações da Lava Jato e corre o risco de ser afastado pelo TSE. Mas tinha uma ‘super base’ parlamentar que sempre mencionava nos discursos como seu trunfo, estaca de sustentação da pinguela. Agora se viu que não é bem assim. E pior ficará depois da refrega pela presidência da Câmara, em fevereiro”.
Outra prova de desconfiança em relação à fidelidade da base aliada de Temer vem na nota de abertura da coluna Panorama político, de Ilimar Franco, no Globo. “Valentia verbal” é o título da nota na qual “na votação da renegociação da dívida dos estados, líderes e deputados ocuparam os microfones protestando contra a retirada das contrapartidas. Cobraram corte de gastos e responsabilidade. Líder do DEM, Pauderney Avelino, chamou o texto de ‘Frankenstein.’ Mas na hora do vamos ver, o projeto foi aprovado em votação simbólica (296 votos a 12).”
Sem o controle do Congresso, parceiro desde o impeachment de Dilma até a votação de ontem sobre as dívidas dos estados, resta ao presidente se agarrar aos tucanos, como mostra a chamada lateral da capa do Globo em que no “ninho em crise” acima do título, “Temer tenta domar tucanos”. “O presidente Michel Temer se reúne hoje com Geraldo Alckmin, atrás de apoio, após o senador Cássio Cunha Lima (PSDB) dizer que vê dificuldades para ele concluir o mandato’, diz o texto da chamada a mostrar que a situação ruim do atual presidente, jamais eleito nem votado, pode ficar ainda pior.
“Para Cunha Lima, é preciso pensar com abertura sobre um nome para um possível mandato-tampão, devido ao desgaste da classe política”, informa a matéria do jornal carioca na qual “questionado sobre um nome para o caso de uma eleição indireta, o senador paraibano descartou o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso — ‘A contribuição dele já foi dada’ — e citou que a presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Cármen Lúcia, seria uma solução que agradaria a sociedade”.
E se lideranças tucanas já pensam e falam abertamente sobre possíveis sucessores de Temer num eventual mandato-tampão, alguns correligionários do presidente ensaiam um certa enfraquecimento na disposição para defender o governo, pensando inclusive em dispensar em cargos importantes, como revela a nota do blog de Lauro Jardim no mesmo Globo na qual “favorito para presidir o Senado, Eunício fala em desistir”.
“Eunício Oliveira é o franco favorito para suceder Renan Calheiros na presidência do Senado a partir de fevereiro, certo? Certo. O que não é mais tão certo, acredite, é a candidatura de Eunício”, conta Jardim, que completa afirmando que o senador “que se empenhou pesadamente para presidir o Senado nos dois últimos anos, tem considerado desistir. Tem exposto essa possibilidade como ‘muito forte’ a interlocutores. Alega pressões familiares”. Segundo o colunista, “o plano B de Eunício é apoiar o peemedebista paraibano Raimundo Lira.”
Nada que tire o pé atrás do Estadão com relação à qualquer mudança na cadeira da Presidência, como o jornal mostra na capa, na chamada para seu editorial principal afirmando que ” o combate à corrupção de nada valerá se o preço for o esfacelamento das fundações democráticas”. “No momento particularmente grave por que passa o País, é imperioso acentuar que as paixões não podem obnubilar a razão, que por sua vez deve pautar-se pelo ditame da lei”, afirma o jornal, talvez saudoso do Temer sorridente, confiante, que aparecia com pose de estadista nessa imagem ao lado, capa do Estadão quando ele assumiu o governo.
“Neste sentido, é um auspicioso indicativo do bom andamento dos trabalhos no STF a distinção feita pelo ministro Gilmar Mendes durante entrevista em que apresentou o balanço das atividades do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) em 2016”, continua o diário paulista, pra dizer que “para o ministro, a prática de caixa 2 não revela por si mesma a existência do crime de corrupção. E o contrário também é verdadeiro, ou seja, uma doação legal contabilizada não tem o condão de afastar a hipótese de ilicitude tão somente por ter sido registrada na contabilidade oficial de campanha”.
O que passa pelo Caixa 2 pode não ser ilegal, e o que não passa, pode ser, é o que diz Gilmar Mendes, sob aplausos do Estadão, enquanto Paulo Moreira Leite, no Brasil 247, ressalta que “enquanto se acreditou, erradamente, que seria possível condenar Dilma e salvar o companheiro de chapa Temer, numa repetição do que se fez no Congresso, as dúvidas sobre os fundamentos da denúncia eram tratadas como material irrelevante e inofensivo, pois não pareciam capazes de atingir o vice”.
“Quando se compreendeu que ambos faziam parte de uma só campanha, com um só comando”, continua o jornalista, “a salvação de Temer passou a depender de outros argumentos”. A novidade segundo Paulo Moreira Leite, “agora, é que nem a pior alternativa do ponto de vista da preservação da democracia — denunciar Temer fora do prazo para eleições diretas — parece ser solução para quem tem o poder de mando sobre a República. Quando Dilma já é carta fora do baralho, Gilmar questiona a denuncia em sua substância, sinalizando que a própria acusação pode não ter fundamentos para ser levada adiante.”
Temer pode ficar no cargo desde que tenha o aval do PSDB, e se cumprir as metas como a que vem exposta na chamada no canto, embaixo, na capa do Globo, sobre a “Reforma Trabalhista”, cujo título avisa que “convenção vai ter força de lei”, e o texto informa que “medida provisória vai prever que regra negociada no sindicato prevaleça sobre a lei”, e que “contratos temporários poderão ter 120 dias.”
Enquanto isso, a chamada da primeira página da Folha diz que “delatores afirmam que Odebrecht fez compra de imóvel para Instituto Lula”. E o editorial do jornal, “Sem tempo a perder”, afirma que “enquanto Justiça não chegar a veredito sobre delações da Odebrecht, governo e Congresso ficarão envoltos em névoa de suspeita”. Lula não é citado no texto, destinado a manter sob pressão, acuado, o governo Temer, ao dizer que, entre os denunciados, “destacam-se, naturalmente, figuras de primeiro plano no atual cenário: o presidente Michel Temer (PMDB), Eliseu Padilha (ministro da Casa Civil) e Moreira Franco (secretário do Programa de Parcerias em Investimentos), além de Romero Jucá (PMDB-RR, líder do governo no Senado).”
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