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Espiando o poder: análise diária da grande imprensa
Foto: Reuters
Por Luis Edmundo Araujo, colunista do Cafezinho
Uma variação da foto acima, do assassinato do embaixador russo na Turquia, está hoje nas primeiras páginas do Estado e da Folha de São Paulo, do Globo e também do Valor, mas não é manchete em nenhuma delas. Se o jornal de economia se dedica à crise nacional, ao revelar na notícia principal que “consumo e investimento tornam recuperação lenta”, os outros três diários dão destaque maior nas suas capas ao caminhão que deixou “ao menos 12 mortos e 48 feridos em Berlim”, como informa a manchete da Folha. O Estadão afirma que “ataque em Berlim mata 12 em feira natalina” e o Globo conta que “Alemanha investiga mortes em mercado como atentado”. O mundo ferve, as tensões internacionais chegam a níveis quase de guerra mundial e nas entrelinhas, no entorno das manchetes, da foto impactante, o golpe segue seu curso no Brasil, o que inclui a perseguição implacável ao ex-presidente Luis Inácio Lula da Silva. E no Tijolaço, Fernando Brito pergunta, justamente, se “perseguição a Lula vai gerar efeito bumerangue”, enquanto na capa do Estadão, sem qualquer citação a Lula hoje, o cientista político Luiz Werneck Vianna diz, em entrevista, que “tenentes de toga comandam essa balbúrdia jurídica”.[/s2If]
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“A polícia alemã trabalha com a hipótese de ataque terrorista após um caminhão, de placa polonesa, invadir uma feira natalina lotada em Berlim, matando 12 pessoas e ferindo 48”. Assim começa o texto da chamada da manchete do Globo, que em seguida informa que o motorista “seria um refugiado afegão ou paquistanês”. “Um outro homem morreu na cabine do caminhão e poderia ser o condutor original. Há suspeitas de que o veículo tenha sido sequestrado, mas autoridades não confirmam. A Alemanha estava sob alerta de terrorismo”, conclui o texto que vai ao lado da chamada sobre o “embaixador assassinado”.
Tudo isso acontece num momento em que “a tomada de Aleppo pelo exército sírio apoiado pela Rússia, a segunda cidade mais importante da Síria e reduto da oposição e terroristas financiados pelos EUA e aliados, demonstra a perda do poder americano em uma guerra forjada por interesses ocidentais”, como disse Ricardo Azambuja ontem, aqui no Cafezinho, no texto sobre “o fim da hegemonia americana”. E ainda no primeiro parágrafo da matéria sobre o caso, o Globo afirma que, “com uma relação delicada, Turquia e Rússia — que se reaproximaram estrategicamente nos últimos meses em função do combate na Síria — decidiram reforçar seus laços e asseguraram que o assassinato foi um ataque à sua reconciliação.”
Tanta agitação pelo planeta afora ofusca a mais nova denúncia sem provas da força-tarefa da Lava Jato aceita pelo juiz que quando encontra fortuitamente o senador Aécio Neves, costuma aproveitar para colocar o papo em dia, entre sorrisinhos amigos. “Lula se torna réu pela quinta vez”, diz a chamada de capa do jornal carioca, que também está na Folha. “O ex-presidente Lula se tornou réu na Lava-Jato pela 5ª vez, quatro delas ligadas à Lava-Jato, completa o texto, que além disso informou apenas que “o STF recebeu os documentos da delação de 77 executivos da Odebrecht”.
Virando a página, livre dos crimes e possíveis atentados praticados pelo mundo dito desenvolvido, Lula tem todo o espaço que vem merecendo há anos no Globo, com o título nas seis colunas da largura total da página mais valorizada de todo jornal, depois da capa: “réu pela quinta vez”. O subtítulo fala que “Lula é acusado de se beneficiar de apartamento e terreno comprados pela Odebrecht”, e só no antepenúltimo parágrafo da matéria vem a nota em que a defesa do ex-presidente “afirma que a Lava-Jato ‘se tornou uma perseguição ao ex-presidente, aceitando ações capengas e sem provas sobre um apartamento que o ex-presidente aluga e um terreno que jamais foi pedido ou usado pelo Instituto Lula’”.
Na abertura da matéria, o jornal conta que “o juiz Sérgio Moro aceitou ontem denúncia do Ministério Público Federal (MPF) contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e mais oito pessoas na Operação Lava-Jato”. Segundo o texto, “a denúncia do MPF havia sido apresentada à Justiça Federal do Paraná na última quarta-feira e está relacionada a duas compras de imóveis realizadas pela Odebrecht supostamente para o ex-presidente: um prédio para instalação do Instituto Lula, comprado por cerca de R$ 12 milhões, e um imóvel vizinho ao atual apartamento de Lula em São Bernardo do Campo, que custou R$ 504 mil”.
“As aquisições teriam ocorrido com uso de ‘pessoas interpostas’, com o intuito de ocultar a concessão de vantagens indevidas ao ex-presidente”, continua a matéria do Globo, e no resto de espaço destinado à defesa do acusado, a assessoria do ex-presidente “argumenta que a ação ‘tem como objetivo impedir que Lula seja candidato em 2018’, e que ele ‘continuará a se defender na Justiça’.” E no Tijolaço, Fernando Brito abre seu texto sobre o caso dizendo que “nas conversas de rua, com pessoas simples, sobretudo, já é possível notar um certo enfado das pessoas com o grau de perseguição a Lula.”
De acordo com o jornalista, “não é disparatado supor que isso também possa estar contribuindo para Lula abrir vantagem nas pesquisas eleitorais”. Para ilustrar sua ideia, ele ressalta que “a jornalista Helena Chagas, no site Os Divergentes, com todas as ressalvas de que não há ninguém acima da lei, lança o desafio: ‘encontrar um cidadão brasileiro que tenha se tornado réu cinco vezes, ao longo de cinco meses, sendo as duas últimas denúncias aceitas com prazo de três dias entre uma e outra – 16 e 19 de dezembro – e apresentadas pelo Ministério Público apenas sete e quatro dias antes, respectivamente’.
Brito continua a citar Helena Chagas ao dizer que “isso, lembra ela, ‘ficou mais rápido depois do Datafolha que, há oito dias, mostrou Lula à frente de todos na corrida eleitoral em primeiro turno, perdendo apenas para Marina Silva no segundo.'” “É vó ver a Globonews e ler os jornais que é isto o que perseguem: matar Lula e ressuscitar Marina, para ocupar o lugar até que tenham – se tiverem – um nome para 2018 ou antes, se for o caso. Se tiverem…”, conclui o jornalista.
Na entrevista ao Estadão, Luiz Werneck Vianna, pesquisador da PUC-Rio, afirma que “MP e Judiciário alimentam crise política para reforçar seus interesses corporativos”. Vianna “vê ‘uma inteligência’ – a das corporações jurídicas, como o Ministério Público e o Judiciário – no comando da crise política que assola o País. ‘Essa balbúrdia é provocada e manipulada com perícia’, diz, ao se referir à divulgação de casos de corrupção envolvendo políticos. ”
Questionado se “a atuação dessas corporações fortalece a negação da política”, o cientista político responde que “sim. Elas só existem desse jeito destravado, sem freios, porque as instituições republicanas recuaram. E o presidencialismo de coalizão teve responsabilidade nisso. Porque rebaixou os partidos, fez dos partidos centros de negócio.” Sobre o governo Temer, Werneck Vianna afirma que “a destruição desse governo agora nos joga nas trevas”, e Fernando Brito, de novo, comenta a entrevista dizendo que ela “traduz – reconheço que sem procuração – o que vai pelo pensamento do alto tucanato e é o substrato com que ele (Wernenck) autojustifica sua adesão ao governo Michel Temer.”
Brito também critica a “interpretação que Vianna explicita, ao dizer que as corporações judiciais praticam um ‘tenentismo de toga’, embora com a lúcida exclusão de que eles querem o poder, mas não têm programa para o país”. Segundo o Estadão, na opinião de Luiz Werneck Vianna “procuradores e juízes são ‘tenentes de toga’ – uma comparação com os jovens militares dos anos 1920 –, mas, diferentemente dos revolucionários fardados do passado, não têm programa além de uma ‘reforma moral’ do País.”
O Ministério Público, o Judiciário, “essas corporações tomaram conta do País”, afirma o cientista político, que responde “sim, claramente”, ao ser questionado seMP e Judiciário “estão se sobrepondo ao sistema político”. “Na defesa dos interesses públicos, reforçam suas conquistas corporativas. Então não se pode mexer na questão do teto salarial”, completa Vianna, para quem “só quem pode enfrentar essas corporações é o poder político organizado.” Mas os partidos “estão muito enfraquecidos e sendo objeto deste achincalhe”.
No meio disso, a grande mídia simula divisões entre duas opções que lhe favorecem. “Ligados até a morte” é o título da coluna de Merval Pereira, que abre o texto falando que “assim, como está no título, poderíamos definir a situação da ex-presidente Dilma e do atual presidente Michel Temer, que assumiu o cargo por ser seu vice-presidente”. Temer pode cair, mas só no ano que vem, sem eleições diretas, e se isso por acaso não acontecer ele pode ficar, sim, até 2018, guiado por mãos e cabeças tucanas, como mostra a nota “Vai por mim”, na coluna Painel assinada por Natuza Nery na Folha de São Paulo.
“A um grupo de investidores nesta segunda-feira (19), o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), foi definitivo: ‘Antônio Imbassahy será ministro. É só uma questão de tempo e de acerto entre os partidos. Ele já foi convidado’. Na nota seguinte, “I have a plan”, a coluna informa que “nos bastidores, Michel Temer revela sua estratégia a auxiliares próximos. Anuncia Imbassahy no cargo em 2 de fevereiro, data da eleição dos presidentes da Câmara e do Senado”.
No Panorama político do Globo, Ilimar Franco publica na nota sobre “o fator Imbassahy”, que “a derrota do centrão na eleição para a presidência da Câmara é a condição para que o líder do PSDB, Antonio Imbassahy, assuma a Secretaria de Governo.” Ficando ou saindo Temer, sem eleições diretas, claros, que fique o PSDB, com a força de juízes, procuradores, de todo o Judiciário.
E se a crise não dá tréguas, se as expectativas dos arautos do impeachment de Dilma Rousseff não se concretizaram, como lembra a manchete do Valor, Míriam Leitão volta a falar de economia na coluna de hoje. É preciso “voltar a crescer”, diz ela logo no título para o texto no qual afirma que “o Brasil enfrenta o maior desafio de sua história para voltar a crescer”.
Na última linha do primeiro parágrafo, a colunista afirma que “os governos do PT fizeram escolhas erradas no ciclo de alta do PIB”, jogando logo a culpa nos de sempre com a mesma “reincidência” em vermelho que o jornal tenta atribuir a Lula, acima da chamada sobre a nova denúncia aceita contra ele. Talvez em dúvida, ainda, sobre se é melhor ter eleições em 2018 ou não.
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