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Espiando o poder: análise diária da grande imprensa
Foto: Evaristo Sá/AFP
Por Luis Edmundo Araujo, colunista do Cafezinho
A Folha publica na capa hoje essa foto aí em cima, limitando-se ao “ho, ho, ho!” da legenda que identifica o presidente Michel Temer, a primeira-dama Marcela, o papai noel em questão e informa apenas que eles participaram de “cerimônia de entrega de presentes para alunos da escola pública de Sobradinho (DF), no Planalto”. Feita por um fotógrafo da casa, em ângulo diferente, a imagem também ilustra a primeira página do Estado de São Paulo, sobre o título dizendo que “Temer quer criar uma secretaria para impulsionar o crescimento”. Mas é no Globo, também feita por um profissional do jornal, que a foto melhor casa, ou descasa, com a manchete.[/s2If]
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“Jornada de trabalho flexível será permitida”, afirma a notícia principal do jornal carioca, e o subtítulo completa dizendo que “governo pretende editar MP para legalizar contratação por hora”, que “ação faz parte do pacote para estimular a economia” e que “também será ampliado prazo de contrato temporário de 90 para 180 dias”. “Na prática, a empresa vai acionar o funcionário a qualquer momento e dia da semana, sem precisar cumprir o horário comercial”, afirma o texto da chamada, que conta ainda que “o trabalhador poderá ter mais de um patrão, e os direitos trabalhistas serão pagos proporcionalmente”, e que “as mudanças visam a permitir a abertura de vagas já neste dezembro.”
No blog Tijolaço, jornalista Fernando Brito faz o contraponto da notícia afirmando que “o ‘Papai Noel’ de Michel Temer para os trabalhadores não dá presentes, os leva embora”. “Primeiro, esta monstruosidade da reforma previdenciária que, na prática, fará o trabalhador contribuir até o final dos seus dias, porque é isso o que se terá com os tais 49 anos de contribuição para não sofrer mais perdas no valor dos proventos”, começa dizendo o jornalista, antes de falar das “duas novidades: a jornada de trabalho flexível e a ampliação do prazo dos contratos temporários.”
“O que isso quer dizer”, na visão de Brito, é que “a empresa pode ajustar o horário de trabalho de seu empregado às suas necessidades”. “O trabalhador ficará à disposição do patrão o dia inteiro, mas só receberá o tempo em que for ‘usado'”, afirma o jornalista. “Já a ampliação do prazo de contrato temporário”, completa ele, “significa que determinados setores praticamente deixarão de ter trabalhadores permanentes, sobretudo aqueles onde há mão-de-obra abundante (quase todos, atualmente) e em alguns, como a construção civil, ligação entre o emprego do trabalhador e obra definida”.
“Todos estes trabalhadores perdem o direito ao aviso prévio, aos 40% de multa do FGTS e a qualquer outra estabilidade como a da gestante e do acidentado no trabalho”, lembra por fim Fernando Brito, que conclui seu texto afirmando que “em nome do combate à crise, retorna-se à escravidão.” E na chamada da foto com as crianças não lá muito animadas com o Papai Noel nem com a primeira-dama, muito menos com o presidente, o Globo informa, em relação a Temer, que “um dia após a divulgação de medidas contra a recessão, ele afirmou que ‘não há mais espaço para feitiçarias’ na economia.”
Míriam Leitão poderia comentar a declaração na área em que é especialista, se não dedicasse toda a sua coluna de hoje à entrevista que ela fez com Marina Silva. Míriam Leitão – “Saída eleitoral” é o título da coluna na qual “Marina Silva acha que o presidente Temer deveria renunciar”. “A porta-voz da Rede Sustentabilidade não falou isso com todas as letras, mas foi o que sugeriu”, continua a colunista, que em seguida reproduz a declaração de Marina dizendo que “nós temos um presidente sem popularidade, sem credibilidade e agora padecendo de falta de legitimidade.” “Às vezes, a renúncia é a única fortaleza que resta”, conclui Marina, na coluna de Míriam Leitão.
Na capa da Folha, na chamada para seu artigo, o senador Ronaldo Caiado afirma que “presidente Temer deveria chamar novas eleições”, bem em cima da chamada menor para o editorial principal do jornal, “Horizonte incerto”, “acerca de delações premiadas da Odebrecht envolvendo Michel Temer”. “Mal se começa a conhecer o conteúdo das delações premiadas da Odebrecht e nome de Michel Temer já aparece em dois relatos”, diz o subtítulo do texto que no entanto, mais adiante continua considerando a saída de Temer uma “possibilidade que, a muitos títulos, cabe qualificar de remota”.
“Tudo depende de que novos e largos passos na crise política e na deterioração do quadro econômico levem o Planalto a uma situação insustentável. A despeito de sua popularidade em baixa, Temer ainda desfruta de apoio vasto no Congresso”, conclui o editorial da Folha, enquanto no Globo, Jorge Bastos Moreno diz logo no título de sua Coluna do Moreno que há “reforma ministerial à vista”. No caso, segundo o colunista, há a expectativa para o “atucanamento” do governo Temer.
“Cresce dentro do governo a tese da necessidade de se fazer uma reforma ministerial, depois das eleições das Mesas da Câmara e do Senado, para enfrentar as turbulências políticas da Lava-Jato e o desembarque de forças que poderão engrossar o caldo oposicionista de ‘eleições já’. Essa mexida na equipe viria no embalo da nomeação do tucano Antônio Imbassahy para a Secretaria de Governo e contemplaria os partidos desgostosos com o governo”, conta Moreno.
Segundo ele, “é notória a composição caótica atual. O hoje inexpressivo PPS, por exemplo, dá-se ao luxo de ter dois ministros, os da Defesa e da Cultura, que nem titulares dos mandatos parlamentares são: os suplentes Raul Jungmann e Roberto Freire. Se é assim na política, imagine na economia, onde um micropacote feito no gabinete de Jucá é anunciado por Meirelles. Temer corre agora atrás do prejuízo e pode, nessa reforma, dividir o governo com o PSDB. Para se salvarem ou afundarem, juntos.”
Merval Pereira também coloca Temer na corda bamba, ao dizer que “está cada vez mais difícil viabilizar uma saída negociada para o processo que corre no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) contra a chapa Dilma-Temer”, e que “a única alternativa em estudo, e mesmo assim heterodoxa, seria separar as contas dos dois candidatos, mas as novas delações premiadas de executivos da empreiteira Odebrecht colocam o presidente Michel Temer no centro das investigações” Mas não é o presidente atual o principal alvo do texto intitulado “Delações perigosas”, que abre mirando nos vilões de sempre.
“As delações premiadas (ou colaborações premiadas, como está na legislação) existem para impedir que os acusados de crimes escapem de suas punições. Tanto em relação ao ex-presidente Lula quanto à ex-presidente Dilma, as colaborações estão servindo para interligar os fatos, criando uma visão ampla do que aconteceu que a simples negação dos acusados já não basta”, diz o colunista do Globo, que defende as delações premiadas como “o começo da modernização do combate ao crime organizado.”
Sem provas, baseadas única e tão somente nas declarações de sujeitos presos, em suas grande maioria também sem provas, as delações abastecem as manchetes do Estado e da Folha de São Paulo em volta do feliz Natal de Temer e Marcela no Planalto com as crianças sérias, quase tristes. “Cervejaria foi usada pela Odebrecht para comprar apoio político”, diz a notícia principal do Estadão segundo a qual, no subtítulo, “em acordo de delação premiada, ex-executivos da empreiteira afirmaram ter feito repasses por meio da Itaipava”, e “até R$ 100 mi foram transferidos para a empresa”.
“Réu pela 2a vez, Cabral será julgado por Moro”, afirma a manchete da Folha acima do subtítulo em que “ex-governador é acusado de desvios em obra da Petrobras”. Embaixo, no pé do texto da chamada, em corpo menor, “Lula torna-se réu pela quarta vez, agora na Operação Zelotes”. Lá dentro, na página 5, a foto mostra Lula com a fisionomia desfavorável de sempre, embaixo do título em seis colunas, no alto, avisando que “Lula e filho viram réus em ação da Zelotes”. O “Outro lado” em azul vem em uma coluna, em cima do título em que “acusação é irresponsável, afirma defesa”.
A nova denúncia, segundo os advogados do ex-presidente, “é o exemplo de como Lula tem sido acusado de forma irresponsável e gratuita”. Abaixo, mais discreta ainda, vem a notícia dando conta de que “jornalista do PR é condenado à prisão por calúnia”. “A Justiça do Paraná condenou o jornalista Celso Nascimento, colunista do jornal ‘Gazeta do Povo’, à prisão por injúria e calúnia”, diz o texto, que continua revelando que “a ação foi movida pelo presidente do Tribunal de Contas do Paraná, Ivan Bonilha, que se sentiu ofendido por ser chamado de “pupilo do governador” em um artigo sobre o atraso na construção do metrô de Curitiba. A sentença estabeleceu nove meses de detenção, mas a pena foi substituída por multa de R$ 8.800″.
Em outra página, também em uma coluna, “especialistas comemoram decisão do STJ sobre desacato”, afirmando que “o entendimento da 5a Turma do STJ (Superior Tribunal de Justiça) de que desacato a autoridade não é crime é uma ‘decisão histórica’. Segundo eles, o crime de desacato funciona para cercear críticas da sociedade civil aos membros da administração pública, além de contrariar leis internacionais de direitos humanos”. E na mesma Folha, na capa, vem à luz a blindagem de muitos anos em volta da Justiça brasileira.
Eloísa Machado, professora da FGV Direito São Paulo, afirma em artigo que o “Judiciário tem se blindado ao longo de décadas”. “Neste momento, barrar o debate sobre abuso de autoridade, mesmo com todos os seus graves defeitos, é nada mais do que se defender de qualquer tipo de controle, a pior face do Judiciário, onde demanda corporativa se mata no peito”, afirma Eloísa. Ela ressalta ainda que “é gritante também o disfuncional individualismo no STF”.
“As chamadas decisões monocráticas enfraquecem o colegiado e criam insegurança. Se isso é problema antigo no tribunal, a novidade parece ser a extravagância, a firula. Basta lembrar a decisão de Gilmar Mendes sobre a posse de Lula, a liminar de Teori Zavascki que suspendeu o mandato de Cunha e a de Marco Aurélio que afastou Renan. Cada ministro é uma caixinha de surpresas”, afirma a professora da FGV Direito. Uma caixinha de surpresas blindada que pode ganhar ainda mais proteção contra qualquer contestação caso seja de fato posto em prática o plano exposto na nota de abertura da coluna Painel, assinada por Natuza Nery na Folha.
“Não agradou” é o título da nota informando que “o Plano Nacional de Segurança Pública elaborado pelo Ministério da Justiça só vai nascer em 2017, mas já é frontalmente criticado por especialistas da área que tiveram acesso a seu conteúdo”. Segundo a coluna, “com o projeto, a Força Nacional passaria a ter efetivo permanente de 7.000 homens. Hoje são 1.000.” Na nota seguinte, “Voo solo”, Nery diz que, “gongado por diversas organizações de segurança pública, o plano foi considerado ‘fraco’ na prevenção à criminalidade de jovens e falho por não propor ações conjuntas com outros ministérios do governo.” Nada que tire, no entanto, o entusiasmo das autoridades de segurança nacional com mais um projeto ousado, exposto na nota posterior, “Não legalize já”, na qual “o Ministério da Justiça traz a ambiciosa meta de erradicar a comercialização de maconha na América do Sul”.
Aviso aos leitores: a coluna não será publicada nesta segunda-feira por motivos particulares. Volta normalmente na terça-feira e será publicada excepcionalmente na quarta-feira que vem, para compensar a ausência de segunda.
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