Por Bajonas Teixeira, colunista de política do Cafezinho
Na tentativa de neutralizar o escândalo dos R$ 10 milhões recebidos por ele da Odebrecht, e outros que estão prestes a sair do forno, Temer preparou um pacote natalino para os empresários e para a classe média.
Aos trabalhadores, há dois dias, Meirelles prometeu o uso de parte do FGTS para pagar dívidas pessoais, mas isso ficou de fora do pacote final. Era só um primeiro de abril.
No fundo, no pacote de Temer, não se tem uma política pública, mas um megaesquema de propina que pretende envolver parte do país na corrupção e, com isso, dar uma cala boca àqueles grupos que, incitados pela Globo, foram os principais responsáveis pelo impeachment de Dilma. A classe média, em especial, serviu aos objetivos do golpe fornecendo, através dos protestos (“a voz das ruas”), a imagem da legitimidade para a derrubada do governo do PT.
No seu raciocínio típico do “cretinismo parlamentar” brasileiro, que seria melhor chamado de “delinquência parlamentar”, Temer avalia que, no fundo, o descontentamento com o seu governo, ou melhor, a parte do descontentamento que deve ser levada à sério, o da classe média e, particularmente, o dos empresários, tem uma razão simples: eles estão esperando a paga pela derrubada de Dilma.
Com essa visão de mundo baseada em toma-lá-dá-cá, em farinha pouca o meu pirão primeiro, em é dando que se recebe, Temer arquitetou essa manobra que, na falta de nome melhor, deve ser chamada da PropiNatal.
Basta um exemplo para compreender o sentido geral dessas medidas: empresas com faturamento anual de até R$ 300 milhões, uma quantia enorme, poderão renegociar suas dividas com o BNDES. O que significa renegociar? Significa reduzir drasticamente os valores a serem pagos aos cofres públicos.
Um grande prejuízo para o país para que Temer possa corromper com suas propinas natalinas o país inteiro.
Sob o mantra da urgência para debelar o déficit fiscal, a PEC 55 foi imposta ao país como uma máquina de tortura, que limita todos os gastos, congela investimentos e, na mão inversa dos governos Lula e Dilma, distanciam o público dos benefícios da cidadania. Reduz-se os gastos sociais, prepara-se o aniquilamento dos sistemas públicos de educação e saúde, o sucateamento das universidades públicas, o fim do SUS.
De forma complementar, segue a Reforma da Previdência, com o objetivo básico de tomar aos trabalhadores, boa parte do que já pagaram ao estado na expectativa de suas aposentadorias e, para a grande maioria, a finalidade de tornar impossível a retirada do mercado de trabalho.
Nunca se imaginou, em nenhum lugar, que um governo sem qualquer legitimidade pudesse ousar medidas tão drásticas e destrutivas. E, na verdade, se o governo Temer pôde chegar à tanto, foi justamente porque, devido à sua imensa fraqueza, se viu e se vê forçado a fazer aqui que a mídia, a Fiesp, a CNI, a Febraban, ditam ao seu ouvido.
No entanto, a cada medida que aprova, mais essas forças querem abreviar o seu tempo de vida, jogar o seu governo na sarjeta, e apagar seu nome da história. Eles querem o milagre, mas não o santo. Ou melhor, os santos. Moreiras, Padilhas, Geddels, devem ir para o inferno o quanto antes.
Buscando uma tábua de salvação, e para um corrupto radical só a corrupção salva, Temer decidiu corromper a parte inferior do espectro do golpe, isto é, a massa de empresários e da classe média que apoiou o golpe por ódio ao PT, aos trabalhadores, aos nordestinos, aos negros, enfim, ao grosso da população do país.
Para isso, recorreu ao seu pacote de medidas. Acontece que seus parceiros preferenciais, as Fiespes e as Globos, os grandes promotores do golpe, não estão nada satisfeitos. As tentativas de Temer de se agarrar desesperadamente ao poder, criam riscos cada vez maiores de instabilidade.
A briga nesse momento já se disseminou em todas as direções. Brigam o Judiciário e o Legislativo, o STF e o Senado, os PSDB e o PMDB, o Sudeste é jogado contra o Nordeste, dentro do STF, por força do redemoinho que faz o país girar, os ministros de desentendem, Gilmar Mendes, numa semana, ataca Marco Aurélio de Mello, na outra parte para cima de Luiz Fux, o que se explica pelo dedo estendido da Lava Jato em direção ao PSDB. As instituições estão cambaleando no ringue, e isso significa riscos reais.
Riscos reais porque dessas instituições, quando golpeadas, não escorre sangue, mas dinheiro. São os supersalários dos arautos da Lei e da Justiça, de um lado, e a corrupção pandêmica dos legisladores, de outro. Vendo isso ao vivo e à cores, todo dia, não é impossível que a população massacrada pela PEC 55 e a reformas se rebele.
A Globo, a Fiesp, a CNI, temem essa possibilidade muito real: uma revolta social de grandes proporções que derrube a lona sobre o picadeiro e ponha fogo no circo. E não se está longe disso. Num país de grandes injustiças, tudo está sempre por um fio. Por isso temos PM, isto é, uma policia militar. Um regime policial militar só se tem em países que vivem em estado de sítio. E no Brasil, o sítio é permanente.
Temer, à rigor, já perdeu todas as condições de governar. Suas medidas desesperadas são criminosas e um assalto enorme aos cofres públicos feito à queima roupa e a céu aberto. Isso amedronta e assusta a Globo que sabe que, na aventura do impeachment, jogou seu destino.
E também os demais promotores do golpe olham esses gestos delinquentes com muita preocupação. Isso aumenta o ódio da população. Os riscos crescem. É claro que quem coloca certos tipos dentro de casa, corre depois o risco de ser estrangulado por eles. Foi assim com o PT. Pode ser assim com outros parceiros. O conde Drácula quer curtir o Natal mas sem estaca enterrada no peito.
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