Singela diferença: as acusações da Lava Jato contra Lula e as contra Temer e seus parceiros

Por Pedro Breier, correspondente policial do Cafezinho

Na última segunda-feira (12) foram ouvidas 4 testemunhas de acusação no processo da Lava Jato que investiga se Lula recebeu o famigerado tríplex do Guarujá em troca de favorecimentos à construtora OAS. A nota da defesa de Lula resume bem o que foi dito pelas testemunhas, ressalte-se, de acusação:

O relato das 4 testemunhas ouvidas hoje (12/12) – e que se somam às 19 das audiências anteriores – pelo juiz Sergio Moro na audiência da 13ª Vara da Justiça Federal de Curitiba enterrou de vez a denúncia, amplamente alardeada pelos acusadores, de que o triplex do Guarujá seria de propriedade do ex- Presidente Luiz Inácio Lula da Silva. À exemplo das demais testemunhas, Igor Ramos Pontes, engenheiro da OAS Empreendimentos resumiu, em seu depoimento, questões-chave há muito ressalvadas pela defesa de Lula:

1. O apartamento é de propriedade da OAS;

2. O ex-Presidente, sua esposa e seus familiares jamais usufruíram do apartamento e nunca tiveram em suas mãos a chave do imóvel – ponto também ressaltado pela engenheira Mariuza Aparecida Marques, encarregada da OAS pela supervisão da unidade;

3. Nenhuma das contratações alegadas de melhorias no imóvel foi ordenada por Lula ou seus familiares;

4. Igor e Mariuza atestaram que Lula e sua esposa jamais assinaram o boletim de vistoria de unidade (BVU), documento imprescindível – de acordo com o procedimento da OAS – para a entrega de um imóvel ao seu adquirente;

5. Mariuza diz que esteve muito mais do que 120 vezes no condomínio Solaris – entre 2014 e a presente data – e nunca viu Lula no imóvel, a não ser a única vez em que esteve na condição de potencial comprador;

6. Igor diz que recebeu a informação da OAS de que houve a desistência da compra da unidade 164-A por parte de Lula e seus familiares.

Os depoentes foram unânimes em declarar que Lula foi tratado como potencial cliente e não proprietário na única visita que fez ao imóvel. D. Marisa Leticia e o filho Fábio, retornaram mais uma vez ao local, ocasião em que ficou claro que foram conhecer as reformas executadas na unidade por decisão da OAS para ver se despertavam o interesse de compra, não tendo nem nesse momento manifestando qualquer interesse pela aquisição do apartamento.

Se você não acredita na nota da defesa de Lula leia esta matéria do insuspeito G1.

O uso do aparato judicial para promover perseguição política (lawfare) não tem como ficar mais escancarado.

Se a tese de que Lula teria favorecido a OAS em negócios na casa dos bilhões em troca de um apartamento na praia do Guarujá já é ridícula, quando as próprias testemunhas da acusação afirmam que Lula nunca foi proprietário e nem mesmo utilizou o imóvel, a coisa passa do ridículo ao sinistro: é o aparelho do Estado, financiado com os impostos de todos os brasileiros, utilizado para atacar o campo político eleito por esses mesmos brasileiros para dirigir o país.

O mais recente indiciamento de Lula na Lava Jato, feito por um delegado que xingou o ex-presidente nas redes sociais e apoiou Aécio Neves em 2014, refere-se à compra de um terreno que seria utilizado para a construção da sede do Instituto Lula, o qual seria mais uma propina da Odebrecht. O Instituto Lula nunca funcionou no tal terreno.

Os gênios da Lava Jato querem que acreditemos que Lula é o pior negociador de propinas da história da humanidade, aceitando apartamentos e terrenos que nunca usou em troca de favorecimentos bilionários.

O governo eleito democraticamente em 2014 só foi derrubado graças ao clima criado na opinião pública a partir desse tipo de acusação falsa.

Se compararmos as acusações da Lava Jato contra Lula com as divulgadas, nos últimos dias, contra Temer e seus fiéis escudeiros, a perseguição política fica ainda mais evidente.

Trechos de reportagem do G1 sobre a delação do ex-diretor de relações institucionais da Odebrechet, Cláudio Melo Filho:

Cláudio disse: “eu participei de um jantar no Jaburu juntamente com Marcelo Odebrecht, Michel Temer e Eliseu Padilha, atual ministro da Casa Civil. Michel Temer solicitou, direta e pessoalmente para Marcelo, apoio financeiro para as campanhas do PMDB em 2014”.
(…)
O ex-diretor disse que, do total de R$ 10 milhões prometido por Marcelo Odebrecht em atendimento ao pedido de Michel Temer, Eliseu Padilha ficou responsável por receber e alocar R$ 4 milhões.
“Compreendi que os outros R$ 6 milhões, por decisão de Marcelo Odebrecht, seriam alocados para o Paulo Skaf, na época candidato ao governo de São Paulo pelo PMDB”, explicou Melo Filho.
(…)
Ainda segundo o delator, os R$ 4 milhões foram destinados a Padilha, sendo que um dos endereços para entrega foi o escritório de advocacia de José Yunes, hoje assessor especial da Presidência da República, o que deixa a entender que o repasse foi em dinheiro vivo.
(…)
Para fazer chegar a Temer seus pleitos, Melo Filho afirma que se valia de Eliseu Padilha ou Moreira Franco, atual secretário no Planalto, que o representavam. Essa era uma via de mão dupla, pois, segundo Melo Filho, Temer também utilizava seus prepostos para atingir interesses pessoais, como no caso dos pagamentos operacionalizados via Eliseu.

Aqui no Cafezinho somos ferrenhos críticos do instituto da delação premiada, ainda mais da forma imoral e ilegal como as delações são obtidas na Lava Jato.

Mas o pedido de demissão de José Yunes, que era assessor especial da Presidência da República e amigo pessoal de Temer, após o vazamento da delação de Cláudio Melo Filho, é sinal de que tem caroço nesse angu.

Outro sinal de que o governo está apavorado com a delação da Odebrecht: o Estadão afirma que “o presidente Michel Temer estava decidido no final de semana a “convencer” Eliseu Padilha, Moreira Franco e José Yunes a pedir demissão por terem sido citados em delação premiada do ex-executivo da Odebrecht Claudio Melo.”

Enquanto a Lava Jato não consegue provar que Lula recebeu apartamento e terreno em troca de favorecimentos à Odebrecht, Temer e seus parceiros dão toda a pinta de que efetivamente receberam os milhões de reais da construtora.

A “maior operação contra a corrupção da história” derrubou o governo eleito e colocou os grandes corruptos no poder.

Pedro Breier: Pedro Breier nasceu no Rio Grande do Sul e hoje vive em São Paulo. É formado em direito e escreve sobre política n'O Cafezinho desde 2016.
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