Dilma Rousseff, a presidente eleita pelo povo

Por Maria Fernanda Arruda

Uma mulher dura e autoritária. Considerada dona de um temperamento explosivo. Logo, sem que se pretendam dissecar boatos e estereótipos, é possível admitir que, disposta a agir, séria e incorruptível, tenha dado o devido tratamento aos habitantes do mundo político brasileiro, composto por incompetentes, corruptos, vaidosos.

E não será difícil entender a dureza e o autoritarismo como virtudes. De 1952 a 1954, filha de uma família bem-posta na classe média, cursou a pré-escola no colégio Izabela Hendrix e a partir de 1955 iniciou o ensino fundamental no Colégio Nossa Senhora de Sion, em Belo Horizonte. Como adolescente dos anos da euforia de JK e seus 50 anos em 5, namorava e tocava o seu violão.

Em 1964 ingressou no Colégio Estadual Central (atual Escola Estadual Governador Milton Campos), na primeira série do clássico (ensino médio). Nessa escola pública o movimento estudantil era ativo, especialmente por conta do recente golpe militar. Foi nessa escola que ficou “bem subversiva” e percebeu que “o mundo não era para debutantes”.

Não teria participado diretamente das ações armadas, mas já era notada por sua atuação política, contatos com sindicatos, aulas de marxismo e responsabilidade pelo jornal O Piquete. Nada excepcional, mas a realidade de uma jovem consciente que não podia aceitar a ordem unida que os militares pretendiam “pagar” à “paisana” mal-educada, corrupta e desprovida de “amor à pátria”.

Os jovens não aceitaram. Os intelectuais não aceitaram. Os artistas não aceitaram. Dilma participou de algumas reuniões que resultaram na criação da VAR-Palmares – Vanguarda Revolucionária Palmares. Foi transformada pelos espiões e delatores (premiados com a anistia), gente da Operação Bandeirantes, sustentada pelos empresários da FIESP, em grande líder da organização, ganhando vários epítetos superlativos nos relatórios da repressão, que a definiram como “um dos cérebros” dos esquemas revolucionários.

O Promotor de Justiça que denunciou a organização rotulou-a como sendo a “Joana d’Arc da subversão”, por chefiar greves e assessorar assaltos a bancos. Ao ganhar bem mais tarde a expressão política que a sua competência lhe propiciou, passou a ser acusada como “terrorista” por gente hipocritamente puritana, e que não se sentiu inibida em dar a São Paulo um senador ex-comunista e envolvido em ações terroristas, motorista que teria conduzido involuntariamente Marighela para a morte.

Presa numa operação que não a estava procurando, por mero acaso (ao se revistada, estava armada), passou quase três anos em reclusão, de 1970 a 1972, primeiramente pelos militares da Operação Bandeirante (OBAN), no qual sofreu torturas, durante vinte dias, posteriormente pelo Departamento de Ordem Política e Social (DOPS). Dilma denunciou as torturas em processos judiciais e a Comissão Especial de Reparação da Secretaria de Direitos Humanos do Estado do Rio de Janeiro aprovou pedido de indenização proposto por ela e outras dezoito pessoas.

Saiu do Presídio Tiradentes no fim de 1972, dez quilos mais magra e com uma disfunção na tireoide.Condenada em alguns processos e absolvida noutros. Iniciou a recuperação da sua saúde com sua família, em Minas Gerais. Reconstruiu sua vida no Rio Grande do Sul, junto a Carlos Araújo, seu companheiro por mais de trinta anos. Impedida de retomar seus estudos , Dilma prestou vestibular para economia na Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Ficou grávida enquanto cursava a graduação e em março de 1976 nasceu sua única filha, Paula Rousseff Araújo.

Sua primeira atividade remunerada, após sair da prisão, foi a de estagiária na Fundação de Economia e Estatística (FEE), vinculada ao governo do Rio Grande do Sul. Graduou-se em 1977, não tendo participado ativamente do movimento estudantil. Em novembro de 1977, o nome de Dilma foi divulgado no jornal O Estado de S. Paulo como sendo um dos 97 subversivos infiltrados na máquina pública em uma relação elaborada pelo então demissionário Ministro do Exército, Sílvio Frota, que classificou Dilma como “amasiada com um subversivo”. Com isso, foi exonerada da FEE, sendo, contudo, anistiada mais tarde. Com o fim do bipartidarismo, participou junto com Carlos Araújo dos esforços de Leonel Brizola para a recriação do Partido Trabalhista Brasileiro (PTB).

Foi membro fundadora do Partido Democrático Trabalhista (PDT) participando de diversas campanhas eleitorais. De 1985 a 1988, durante a gestão de Alceu Collares frente à prefeitura de Porto Alegre, foi Secretária Municipal da Fazenda. De 1991 a 1993 foi Presidente da Fundação de Economia e Estatística e foi Secretária Estadual de Minas e Energia entre os períodos de 1993 a 1994 e de 1999 a 2002, durante o governo de A. Collares e do sucessor Olívio Dutra.

A tentativa de reduzir Dilma Rousseff na sua competência foi frustrada, acusada de chegar ao governo Lula sem qualquer experiência política e sem vocação para tanto. Pois viveu desde muito jovem politicamente, não teve e não tem felizmente a vocação da retórica demagógica dos políticos contemporâneos, os que, sem conhecimento de regras básicas da língua, não tem pudor algum em transformar a tribuna do Congresso em palanque para comícios populistas. Em 2002 participou da equipe que formulou o plano de governo para a área energética. No ano anterior havia se filiado ao PT, o que deve ser entendido como decisão de ordem prática, viabilizando sua participação nesse governo, uma vez que sua identificação ideológica a prendeu sempre ao PDT de Leonel Brizola.

Primeira mulher a chegar à Presidência em 2010, a vitória de Dilma foi a consagração de Lula e a vitória também do PT. Seu governo teve a grandeza e fidelidade de assegurar a continuidade do que Lula havia iniciado.
O ano de 2015 caminha para ser o mais nefando já experimentado por esse País. Os objetivos mais sórdidos, assumidos nas caras mais aviltadas pelo vício da mentira, ameaçam depor Dilma Rousseff.

Não se trata apenas e tão somente de 54 milhões de votos a serem desprezados. O que se comete é o crime maior, o de substituição da verdade pela mentira tosca e suja, é o aviltamento das instituições. Como respeitar minimamente a Câmara dos Deputados, depois da encenação pornográfica que ofertou em rede nacional de televisão? Como não desprezar um Senado da República que transpira a vilania? A segregação da Política brasileira, isolada pelas paredes dos corredores e gabinetes de Brasília, torna impossível uma previsão sobre o mais provável. Seja o que venha a ser promovido nesse circo de horrores escatológicos, a imagem de Dilma Rousseff está sendo engrandecida.

A maldade insana dos golpistas vai transformando Dilma Rousseff, não apenas em heroína nacional, mas na protetora, na voz de milhões de brasileiros. Segundo seu site oficial, ela é leitora assídua de Machado de Assis, Guimarães Rosa, Cecília Meireles, e Adélia Prado. Venceu o câncer.

Os sórdidos estão fazendo pouco aos interesses do Brasil. Mas não atingirão Dilma Rousseff, que vai se tornando, não pela palavra de Lula, mas pela vontade nacional, a Mãe do Povo Brasileiro. Ontem completou 69 anos.

Feliz aniversário, nossa verdadeira Presidenta!

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