Sucessivos vazamentos nas delações de Marcelo Odebrecht é motivo para desconfiar dos investigadores e promotores da Lava Jato.
No Jornal GGN
Quais procuradores tinham os relatos de Marcelo Odebrecht?
Por Patricia Faermann
A delação de Marcelo Odebrecht, ex-presidente da companhia, ocorreu nesta segunda-feira (12), na sede da Polícia Federal em Curitiba. Logo após da sequência de imediatos três vazamentos dos depoimentos de executivos da empreiteira, o relato de Marcelo foi realizado sob uma aparente tentativa de segurança, a fim de que não fossem vazados a jornais.
A reação da Procuradoria-Geral da República foi de mostrar preocupação com os vazamentos, que atingiram sobretudo a cúpula do PMDB e a grande base e estrutura do governo de Michel Temer. Mas nesta quarta-feira (14), a Folha de S. Paulo trouxe como manchete de capa trechos da delação do empreiteiro.
Naquela segunda, foram cinco os procuradores que acompanharam os relatos do empresário e, ao término da delação, evitaram dar detalhes de forma pública. O GGN levantou o perfil dos cinco investigadores e membros da força-tarefa que estiveram presentes, como se posicionaram até hoje com os meios de comunicação e suas defesas e manifestações públicas. Acompanhe:
Athayde Ribeiro Costa
Assinou diversas denúncias do Ministério Público Federal (MPF), entre elas, a que acusava de lavagem de dinheiro Ronan Maria Pinto, dono de empresa de ônibus no ABC paulista e do jornal Diário do Grande ABC.
Com base nessa denúncia, que apontava recebimento de empréstimo ilegal de R$ 12 milhões pelo pecuarista José Carlos Bumlai, Ronan foi preso em abril, na 27ª fase da Lava Jato, por decisão de Sergio Moro, que logo transformou a prisão temporária em preventiva.
A ilegalidade da prisão, solicitada pelos procuradores, entre eles Athayde, fez o Tribunal Regional Federal da 4a Região (TRF-4) reverter a prisão, libertando o empresário.
Também foi esse procurador um dos apontados de prática de induzir depoimento, ameaçando testemunhas com o objetivo de conseguir informações. Reportagem do Consultor Jurídico, de abril deste ano, mostra que Athayde Ribeiro Costa e outros três procuradores foram à casa de um morador do interior de São Paulo, interrogar sobre relações com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, sobre o sítio de Atibaia.
Na ocasião, os investigadores da Lava Jato de Curitiba utilizaram de ameaça velada para pressionar informações, como “se o senhor disser isso, eu apresento documentos, e aí vai ficar ruim pro senhor”.
“Quero deixar o senhor bem tranquilo, mas, por exemplo, se a gente chamar o senhor oficialmente pra depor daqui a alguns dias, e você chegar lá pra mim e falar uma coisa dessas…”, ainda disseram os procuradores à testemunha.
Apesar da impossibilidade de verificar se foi Athayde o vazador da delação de Marcelo Odebrecht à Folha, é possível constatar, por outro lado, que o procurador manteve boa relação com o jornal, ao enviar espontaneamente opiniões em coluna da categoria “Tendências/Debates” do diário.
Em abril de 2015, Athayde Ribeiro Costa afirmou que “a corrupção é um câncer que mata” e defendeu o uso das prisões preventivas nas apurações da Lava Jato. Ainda, criticou a possibilidade de juízes de instâncias superiores revogarem as prisões decididas por Moro.
“Revogar prisões que foram decretadas para estancar uma corrupção sistêmica e bilionária significaria deixar esse câncer ganhar terreno no paciente, por receio de administrar um remédio amargo capaz de impedir o avanço desse mal”, concluiu.
O artigo foi assinado em parceria com Deltan Dallagnol e Roberto Henrique Pozzobon, outros dois integrantes da força-tarefa da Operação Lava Jato.
Carlos Fernando dos Santos Lima
É uma das principais fontes da revista IstoÉ, desde janeiro deste ano, no caso da Operação Lava Jato, sempre com miras a atingir o ex-presidente, culminando na reportagem que antecedeu a condução coertiva.
Em coletiva de imprensa, em setembro deste ano, afirmou que tinha “provas concretas” de que o esquema da Petrobras se trata de “compra de apoio político-partidário pelo governo federal, por meio de propina, criada na Casa Civil durante o governo do ex-Presidente Lula”.
Seu passado mostra interesses alheios dentro da atuação no MPF. Em setembro de 2003, os jornalistas Amaury Ribeiro Jr. e Osmar de Freitas Jr. divulgaram que o procurador, então casado com ex-funcionária do Banestado, tentou barrar quebra de sigilo de contas suspeitas, atuando para impedir que documentos fossem entregues a membros da CPI do Banestado.
Assim como Athayde, enviou diversas opiniões e posicionamentos à Folha de S. Paulo, entre eles o artigo “Medalha de ouro para o habeas corpus”, criticando duramente decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) que revogou a prisão do ex-ministro Paulo Bernardo.
O texto polêmico foi assinado por Carlos Fernando Lima junto com outro procurador da força-tarefa, Diogo Castor de Mattos.
Deltan Dallagnol
A exposição de suas opiniões e posicionamentos junto à imprensa chegou ao ponto de o investigador criar uma página no Facebook para se manifestar publicamente em casos envolvendo a política e a Lava Jato. É consultado pela imprensa na maioria dos casos relacionados a investigações e polêmicas e não esconde o entusiasmo em colaborar.
Assim como os investigadores acima, já enviou artigos à Folha e concedeu entrevistas especiais a jornais, como o Estado de S. Paulo.
Diogo Castor de Mattos
Em seu histórico de meios de comunicação, além de artigos na Folha, também armazena entrevistas ao jornal Estadão, Zero Hora, revista Veja. A maioria discorre sobre críticas de direitos a ampla defesa, como recursos de réus, e o que chamou de “tapetão jurídico”, quando Cortes superiores anulam uma ação.
A outras decisões do Superior Tribunal de Justiça (STJ), denominou que a instância pratica “insegurança jurídica” ao ter posicionamentos diferentes entre desembargadores.
Ao lado de Dallagnol, foi um dos principais líderes das 10 Medidas propostas pelo coordenador da força-tarefa junto aos meios de comunicação, defendendo inclusive os pontos polêmicos, como o chamado teste de integridade e admitiu, publicamente, ser favorável ao uso de provas ilícitas se o caso investigado for de interesse público.
Assim como os membros acima citados, Diogo que foi o mais jovem integrante da força-tarefa, começou a aparecer nos horários nobres dos telejornais entre outubro e novembro do ano passado.
Isabel Cristina Groba Vieira
Entre as polêmicas, a procuradora já defendeu a legalidade dos grampos divulgados pelo juiz Sérgio Moro, de conversas entre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva com a então presidente Dilma Rousseff e outros detentores de foro privilegiado.
Na mesma linha de Castor de defesa de que os meios justificam os fins, assinou nota pública de que as revelações trazidas com as interceptações divulgadas dos políticos traziam um bem maior, de mostrar suposta obstrução à investigação em “guerra subterrânea e desleal travada nas sombras, longe dos tribunais”.
“Os atentados à investigação revelam a extensão do abuso de poder e do descaso com o Estado Democrático de Direito na República”, disse, em nota, ao lado de outros procuradores da força-tarefa, publicada em março deste ano.