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Espiando o poder: análise diária da grande imprensa
Foto: Geraldo Bubniak/Globo
Por Luis Edmundo Araujo, colunista do Cafezinho
É difícil não gostar da foto aí em cima, a maior da primeira página do Globo de hoje. “Sem privilégios em Curitiba” diz o título da imagem, ao lado do texto informando que “o ex-governador do Rio Sérgio Cabral, que estava preso desde 17 de novembro em penitenciária de Bangu, foi transferido ontem para a carceragem da Polícia Federal em Curitiba”. Diante do que foi o governo de Cabral, dos esquemas todos entre joias e guardanapos, só agora revelados depois de quase dez anos de blindagem na mídia, mesmo os mais críticos ao Estado de exceção atual podem até disfarçar ao olharem a foto aí de cima, mas gostam. O estado governado por Cabral, depois Luiz Fernando Pezão, está falido, os servidores apanham na porta da Assembleia Legislativa e, se até os críticos gostam, não é difícil imaginar o poder de atração da imagem acima na maioria esmagadora da população, ainda mais quando a situação do País todo não é lá muito diferente. A delação da Odebrecht atinge em cheio o Congresso nas manchetes do Globo e do Estado de São Paulo, e a Folha coloca o presidente Michel Temer na beira do abismo. Enquanto isso, o editorial do Estadão afirma que “especialmente nos momentos de crise, o país precisa da autoridade da Justiça”. E em texto publicado no sábado no blog de Luis Nassif, o ex-ministro da Justiça Eugênio Aragão mostra os “sinais de ameganhamento do Ministério Público e do Judiciário”.
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Na término da semana em que viralizou a foto de Moro rindo junto com o megadelatado senador Aécio Neves, confraternizando com toda a intimidade de grandes amigos, o Estadão continua afirmando, em relação aos juízes em geral, sem personalismo, que “qualquer descuido pode colocá-los em má companhia ou, pior ainda, dar a impressão de que são avalistas de tenebrosas aventuras. Esse cuidado é especialmente importante nos tempos atuais, de intensa polarização político-ideológica e, sobretudo, de negócios e negociatas mirabolantes.”
Um descuido que deu uma impressão errada, apenas isso e mais nada, segundo dá a entender o Estado de São Paulo, foi o que aconteceu durante a festa da revista Istoé, que, aliás, deu ao presidente Michel Temer o prêmio, vejam só, de “brasileiro do ano”. Um descuido, porém, que deve ser evitado, porque “a liturgia do cargo também favorece que as decisões judiciais possam ser recebidas pelo público de forma serena, com a fundamentação jurídica a prevalecer sobre eventuais paixões.”
Contenham-se, pois, Moro, Dallagnol e cia.,porque é com vocês que conta a grande imprensa, já que, como afirma o editorial, já no desfecho do texto, “a imensa maioria dos magistrados – de primeira, segunda ou terceira instância – é bem consciente de que o bom andamento do Poder Judiciário pede sobriedade, não espalhafato”. “Que o bom exemplo de tantos juízes não fique apagado por alguns casos esparsos”, pede o Estadão, cuja manchete deste domingo avisa que “delação atinge candidatos ao comando do Congresso”, indo na mesma linha que o Globo.
“Em oito anos, Odebrecht pagou R$ 17 milhões por MPs e leis”. Essa é a manchete do jornal carioca que no subtítulo informa que o “dinheiro garantiu a aprovação de 14 projetos no Congresso”. A matéria sobre o caso vai no espaço nobre da página 3, em cima de dois artigos do mesmo tamanho, um tanto repetitivos. De um lado Ricardo Noblat pergunta no título: “quem vai sobrar?” Do outro, o editor de política do Globo, Alan Gripp, expõe o que considera ser a “Antologia da corrupção”.
Em relação a nomes, Gripp cita apenas os do governo atual, ao dizer que, segundo a delação de Cláudio Melo Filho, ex-executivo da Odebrecht, “Michel Temer e Renan Calheiros eram líderes do PMDB na Câmara e no Senado, respectivamente. O primeiro tinha como prepostos Eliseu Padilha e Moreira Franco. O segundo, Romero Jucá. Todos protagonistas do atual governo.” Noblat, por sua vez, cita um tucano, sim, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, mas em menos espaço que o destinado, de novo, a uma de suas obsessões.
“O acordo de delação de outro executivo da Odebrech, publicado pelo jornal Folha de S. Paulo, introduziu na relação dos suspeitos de sempre o governador Geraldo Alckmin, de São Paulo”, afirma Ricardo Noblat, que esquece momentaneamente as preocupações com a conquista da primeira-dama, Marcela, por Temer, e na frase seguinte. emenda como quem muda e assunto, que “Lula e o filho dele, Lulinha, foram denunciados ontem à Justiça pelo Ministério Público Federal, acusados de tráfico de influência, lavagem de dinheiro e organização criminosa”.
O próprio Noblat avisa logo que o caso não tem “nada a ver com a delação da Odebrecht”, mas diz mesmo assim que “no caso de Lula e do filho, eles teriam embolsado uma grana preta por conta da venda ao governo brasileiro de 36 caças suecos do modelo Gripen NG”. E depois de reproduzir mais uma das incontáveis suspeitas sem provas lançadas contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o colunista diz que “os efeitos da ‘delação do fim do mundo’ sobre o governo Temer serão pesados.” “Ou Temer remonta sua equipe na tentativa de se manter no cargo, ou se arriscará simplesmente a perdê-lo”, conclui.
Sob o título de sua coluna de hoje, “mundo paralelo ilegal”, Merval Pereira afirma que “o presidente Michel Temer não pode ser processado por fatos acontecidos anteriormente ao seu mandato, mas os R$ 10 milhões que é acusado de ter recebido para a campanha presidencial de 2014 podem pesar na balança do Tribunal Superior Eleitoral”. “Caso fique comprovada a doação ilegal”, continua Merval, “não será mais possível separar suas contas das da ex-presidente Dilma.”
E se o Estadão coloca as mesmas dúvidas sobre o tempo de vida do atual governo, na chamada em vermelho dizendo que “Planalto reage com apreensão” à delação da Odebrecht, é a Folha quem praticamente derruba o presidente, a começar pela manchete.”Reprovação a Temer dispara sob pessimismo econômico” diz a notícia principal do jornal, que embaixo avisa, no subtítulo, que “segundo Datafolha, 51% dos brasileiros consideram a gestão ruim ou péssima; em junho, eram 31%”.
A chamada logo abaixo informa que “por diretas, 63% querem renúncia”, e outra mais embaixo denuncia que “presidente aparece 43 vezes citado em delação”. Na coluna Painel, de Natuza Nery, o título é “Recordar é viver”, e a nota principal conta que “já tem partido da base fazendo as contas de quando será o melhor momento para desembarcar da gestão Michel Temer. Até habitués do Planalto passaram a incluir em seus cálculos políticos o fator Odebrecht”.
“Ninguém – nem mesmo aqueles ainda fiéis – aposta na melhora do ambiente depois dos tiros contra a cúpula palaciana. Aliados começam a reclamar do governo em escala semelhante às queixas que eram feitas à petista Dilma Rousseff no início da crise que a destituiu”, completa Nery. O governo está por um fio, mas é preciso ter “calma e sangue frio”, pede Samuel Pessôa, no título de seu texto de hoje na Folha, que ganha chamada na capa no meio do noticiário catastrófico para o governo Temer.
Físico com doutorado em economia, ambos pela USP, Samuel é sócio da consultoria Reliance e afirma que “os remédios adotados para reativar a economia são amargos, mas estão fazendo efeito”. Para garantir a calma, o sangue frio pedido pelo colunista diante do desemprego, do fim, basicamente, da possibilidade de aposentadoria, talvez o melhor mesmo seja o processo de “ameganhamento” do Judiciário citado por Eugênio Aragão.
“Desde o processo do mensalão no Supremo Tribunal Federal, assistimos, já sem nenhum espanto ou estranheza, ao judiciário e ao ministério público se esmerarem no tom desqualificador dos réus. Muito desse clima de ódio que espalhou pelo País tem como semente o comportamento emocionalmente desequilibrado do relator da APn 470-DF no Supremo Tribunal Federal”, diz o ex-ministro da Justiça, referindo-se a Joaquim Barbosa.
“A justiça deixou de se esforçar por ser imparcial, passou a adjetivar suas manifestações e a usar até linguagem de baixo calão jurídico, típico das repartições policiais”, continua Aragão, dando o exemplo de como os “substantivos ‘oitiva’, ‘oitivado’ e o verbo ‘oitivar’, estranhos ao vernáculo, passaram a pulular nas decisões do excelso sodalício”. “Essas palavras, em tempos normais, eram típicas do dialeto de meganhas, mas jamais seriam usadas no ambiente mais elaborado do judiciário, onde se costumava usar os termos técnicos ‘inquirição’, ‘inquirido’ e ‘inquirir’.”
O ex-ministro conclui seu texto afirmando que “a justiça, portando-se não como magistratura isenta, mas como um bate-pau, não contribui para a imagem duma instituição do estado democrático de direito, mas, sim, para a de um apêndice do aparato repressivo deformado de nosso recém instalado estado de exceção permanente.” Com o Congresso e o Executivo ruindo, assim como o Estado Democrático de Direito, o que sobra de bom é a foto lá em cima, e é aí que mora o perigo.
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