Foto: Wilson Dias)
Por Bajonas Teixeira, colunista de política do Cafezinho
A aliança do Judiciário com os movimentos antidemocráticos de classe média, como o MBL, conduziu o país à atual crise institucional profunda. Começando pelo impeachment, que derrubou o poder Executivo, hoje chegamos à briga entre os dois poderes restantes, Judiciário e Legislativo, um tentando esmagar o outro.
O afastamento de Renan Calheiros da presidência do Senado, pelas mãos de Marco Aurélio de Mello, apenas um dia após as manifestações, mostra a sintonia fina da cúpula do Judiciário brasileiro com os movimentos de protesto. Nos dias precedentes, procuradores convocaram a população para se mobilizar e, de outro lado, os movimentos da classe média convidaram membros da Lava Jato para irem às ruas.
A Folha revelou que o Vem Pra Rua convidou o juíz Sérgio Moro para as manifestações do domingo (04). Vejamos com quem o Judiciário se aliou.
Na cabeça da organização dos protestos no Brasil está o MBL. Um dos seus líderes, segundo a Folha, responde por mais de 60 processos referidos a crimes diversos. Outro costumeiro organizador de protestos, o líder do Revoltados Online, teve a página retirada do ar por conduta incompatível com as regras do Facebook. Por fim, o líder do Vem Pra Rua, Rogério Chequer, apareceu em fevereiro de 2012, entre documentos revelados pelo Wikileaks, na lista de e-mails da empresa de “inteligência global” Statfor, mais conhecida como “the Shadow CIA”, isto é, a sombra da CIA.
Esse grupo social pode ser chamado de a ralé da classe média. É uma fatia da classe média inteiramente inescrupulosa e recoberta por diversas camadas de suspeita. Sua falta de escrúpulos brilha nos dados divulgados por ela, a organizadora, sobre os protestos em São Paulo. Como epicentro de toda a manifestação no país, os dados de São Paulo serviriam para dar a dimensão do seu sucesso. São números importantes também porque no estado se concentram as sedes e as lideranças nacionais dos citados movimentos.
Segundo os dados da Globo em seu Mapa das Manifestações no Brasil, a cidade de São Paulo teve apenas 15 mil manifestantes dispostos a ir até a Avenida Paulista, pela contagem da PM. É um número ridiculamente desprezível para uma cidade de mais de 11 milhões de habitantes.
Apesar do esvaziamento perceptível a olho nu, os organizadores não sentiram o menor constrangimento em inflar os números de participantes para 200 mil, isto é, mais de 13 vezes maior que os 15 mil contados pela PM.
E foi com figuras como essas – sem o menor apego à verdade, sem o menor senso crítico, inteiramente alheias ao imperativo informar com correção a opinião pública, inescrupulosas e suspeitas – que o Judiciário brasileiro firmou uma relação preferencial.
Na realidade, essa relação é uma aliança política.
A presidente do STF, em consonância com os protestos marcados para o dia 04, desencavou um dos processos que dormitavam nos recessos profundos do tribunal, contra o presidente do Senado e o tornou réu no 01 de dezembro. Mas nem esse incentivo suplementar aumentou o número de manifestantes. O que mostra que essa aliança opera no vazio social, sem lastro.
Apesar do fracasso dos protestos, um dia depois das débeis manifestações de domingo, num gesto avaliado por muitos com tresloucado, o ministro Marco Aurélio de Mello, por decisão monocrática, concedeu liminar afastando Renan Calheiros das funções de presidente do Senado.
A crise instaurada tem a cara da aliança com a ralé. As estruturas institucionais estão sendo tratadas como objeto de ações de chantagem, retaliação ou de promoção pessoal – não vamos esquecer que, desde que saiu em defesa de Lula em março, falando em “condução sob vara”, Marco Aurélio perdeu 90% do seu prestígio com a classe média e, principalmente, com a mídia, de onde foi exilado. De março até ontem, quando ousou um gesto que pode torná-lo o novo herói da ralé, permanecia enterrado em profundo ostracismo.
Os riscos decorrentes de ações tão grotescas não são medidos. A inteira desmoralização do país no exterior, não é posta na balança. Nenhuma consideração de ordem política, econômica, social, modera as ações dos representantes da justiça em seu nível mais alto. Entramos numa lógica de brigas de gangues e decomposição total. É o pior dos cenários possíveis em que o país é lançado na sarjeta aos olhos do mundo.
Para medir o grau da degradação ao nível de fim de feira tumultuada, basta lembrar que à poucos instantes um dos ministros do STF, Gilmar Mendes, que vinha ocupando aquela posição de “herói da ralé”, sendo inclusive atração principal do congresso do MBL ocorrido em 19 e 20 de novembro, deu declarações a um dos blog da Globo sugerindo o impeachment de Marco Aurélio ou o seu afastamento das funções por loucura.
É a degradação total que deixa claro os efeitos de uma aliança com a ralé. O que segue é o mergulho no abismo.
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