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Espiando o poder: análise diária da grande imprensa
Por Luis Edmundo Araujo, colunista do Cafezinho
Rufam os tambores de guerra da grande imprensa familiar corporativa e os três maiores jornais do País retomam a unidade escancarada das manchetes ao tratar das manifestações de ontem. “Atos apoiam Lava Jato e criticam o Congresso”, diz a Folha de São Paulo, acima do subtítulo informando que “presidentes da Câmara e do Senado são principais alvos de protestos pelo país”. A manchete do Globo é mais sucinta: “Pela Lava-Jato e contra Renan”. E no Estado de São Paulo “milhares vão às ruas pela Lava Jato e contra Renan”. Embaixo, no subtítulo, “o presidente Temer foi poupado” e “manifestantes apontaram ‘sabotagem’ do presidente do Senado e ovacionaram o juiz Sergio Moro”. No protesto contra a corrupção, nem Geddel Vieira Lima e o mais recente escândalo do governo “pinguela” foram lembrados. O vilão da vez é o Congresso, sobretudo o presidente do Senado, Renan Calheiros, e para tirar do caminho aqueles que ainda podem barrar o avanço do Judiciário rumo ao estado de exceção, a grande mídia faz a sua parte inflando números no momento em que, segundo o jornalista Luis Nassif, “o que se tem é o seguinte: O Executivo liquidado. Uma campanha pesada visando inviabilizar o Congresso. Uma briga de foice entre instituições, com uma cegueira generalizada sobre a gravidade do atual momento. E a ultradireita sendo definitivamente bancada pela parceria Lava Jato-Globo.”
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No Tijolaço, Fernando Brito destaca um trecho da notícia do G1 sobre o maior dos protestos, na Avenida Paulista, em São Paulo, em que “a Polícia Militar informa que, aproximadamente, 15 mil pessoas estiveram presentes durante manifestação no horário de maior concentração de pessoas, que foi entre 16h e 16h30. Os organizadores ainda não divulgaram a estimativa.” “Até que pode ter havido mais gente do que este cálculo, talvez 20 ou 30 mil. Não é uma pequena manifestação, é muita gente, mas é muito menor do que tantas que se fizeram ali, contra e a favor do impeachment de Dilma Rousseff”, completa o jornalista.
Aqui mesmo no Cafezinho, Bajonas Teixeira vai além e afirma que o “o fracasso foi retumbante”. “Veja-se o exemplo de Brasília. Esperavam 125 mil, apareceram apenas cinco mil (número dado pelos próprios organizadores). Ou seja, menos um vigésimo do esperado ou menos de 5% do que era previsto”, afirma Teixeira, para completar dizendo que “em Belo Horizonte, apareceram 8 mil pessoas (em 13 de março, foram 100 mil). Em Salvador, 1.200”, e que “Recife divulgou a participação de 5 mil manifestantes”.
Nada, no entanto, que reduza o esforço da mídia corporativa em aumentar o tamanho dos protestos, que para Brito rendeu o “Troféu Viajandão” aos “editores do O Estado de São Paulo, que transformam os talvez 10 ou 15 mil manifestantes do Rio de Janeiro em – pasme! – 600 mil pessoas!!!!” O jornalista ironiza a estimativa com uma foto das areias lotadas da praia de Copacabana, e não deixa de lembrar que, ainda segundo o Estadão, “’agentes de segurança’ ouvidos pelo jornal falavam em 400 mil!, o que dá uns sete ou oito estádios do Maracanã lotados”.
“É impressionante o papel que a mídia desempenha”. conclui Fernando Brito, ao destacar a cobertura da Globonews com “frases idiotas como ‘os manifestantes manifestaram (sic) muita criatividade’, ‘as pessoas foram para casa, fizeram os cartazes e vieram à manifestação’ e coisas do gênero, além do tradicional ‘famílias inteiras vieram…'” Tudo para reforçar o discurso contra o inimigo da vez, que o Globo deixa bem claro quem é não só na manchete, mas também nas chamadas para textos de seus colunistas e articulistas.
Sobra também para Rodrigo Maia, presidente da Câmara dos Deputados, na chamada para o texto de José Casado no Globo que coloca os “presidentes do Legislativo em choque com as ruas”. Mas é Renan o alvo preferencial, o inimigo número um do momento que, segundo Jorge Bastos Moreno, “recusou apelo do STF”. “A presidente do STF, Cármen Lúcia, pediu a Temer que intercedesse junto a Renan contra o projeto de abuso de autoridade de juízes, mas o senador recusou”, conta Moreno na nota em que, alinhado ao comando do Judiciário, na figura de Cármen Lúcia, o colunista também ajuda a livrar o presidente da berlinda das manifestações.
“O presidente Michel Temer recebeu no domingo passado um ‘apelo institucional’ da presidente do Supremo Tribunal Federal, ministra Cármen Lúcia, para que transmitisse ao Poder Legislativo a solicitação de que não discutisse, nem votasse, o projeto que torna crime o abuso de autoridade de juízes e membros do Ministério Público, porque isso poderia gerar uma grave crise entre os Poderes, com consequências imprevisíveis”, relata Moreno, como se a “grave crise entre os Poderes” já não estivesse devidamente instaurada.
Ainda segundo Moreno, “Temer procurou no mesmo dia o presidente do Senado, Renan Calheiros, que, no entanto, manteve-se irredutível. ‘O senador Renan Calheiros e alguns parlamentares, aos quais transmiti esse apelo, apresentaram fortes argumentos para que a matéria não fosse retirada da pauta. Eu tinha dito a eles que endossava totalmente as preocupações da presidente Cármen Lúcia. Mas eles, em função de seus argumentos, mantiveram-se irredutíveis’, disse o presidente ontem ao Globo”, completa o colunista.
Dessa maneira “para ‘não constranger’, Temer destacou que respeitou a decisão de Renan de ter prosseguido nas tentativas para votar a matéria” e, assim, na coluna de Moreno, o presidente sai incólume dos protestos de ontem. O mesmo acontece na coluna daquele que talvez seja o jornalista mais interessado na história de amor entre Temer e a primeira-dama, Marcela. “O fardo de carregar Renan será de todos”, afirma Ricardo Noblat na primeira página do Globo de hoje, na chamada para a coluna cujo título é “Perdeu, Renan!”
Noblat centra fogo também no pedido de vista do ministro do Supremo Tribunal Federal José Antonio Dias Toffoli, que interrompeu o julgamento que poderia retirar Renan da Presidência do Senado. “Graças ao ministro José Dias Toffoli, o Senado continuará a ser presidido por Renan Calheiros (PMDB-AL), convertido em réu na semana passada por desvio de dinheiro público. E o Brasil viverá até fevereiro próximo a esdrúxula situação, sem par em países civilizados, de ter um dos seus poderes sob o controle de um sujeito alvo de gigantescas manifestações de rua contra a corrupção. Que lhe parece?”, questiona o colunista.
Como lembra Noblat “no último dia 3 de novembro, Toffoli pediu vista de um processo onde seis dos seus colegas do Supremo Tribunal Federal (STF) já haviam firmado o entendimento de que réu não pode ficar na linha direta de sucessão do presidente da República. Votaram assim Marco Aurélio Mello, Teori Zavascki, Edson Fachin, Rosa Weber, Luiz Fux e Celso de Mello. Luís Roberto Barroso absteve-se.”
Como o mandato de Renan termina na volta do recesso, em fevereiro, o pedido de vista de Toffoli permitirá que ele cumpra seu mandato até o fim, o que colocou o ministro do STF na mira de Noblat. “Toffoli não mencionou um detalhe que faria toda a diferença — em seu desfavor, é claro. O processo que ele pediu para examinar está digitalizado. Poderia ter sido acessado a qualquer tempo. Toffoli favoreceu Renan. Mas o fardo de carregar Renan será nosso”.
Enquanto isso, a capa do Globo avisa, quase no mesmo tamanho da manchete, que “pressão para tirar Meirelles leva Temer a lançar minipacote”. “Aliados cobram resultados contra recessão, mas presidente reitera confiança no ministro da Fazenda”, completa o subtítulo. E na Folha, na coiluna Painel, assinada por Natuza Nery, a nota “Olha eu aqui” conta que, “à frente do instituto de formação do PSDB, o senador José Aníbal (SP) ficou de levar ao presidente Michel Temer, ao lado de colegas do Senado, propostas de estimulo à economia.”
Na nota seguinte, ao lado do título, “achei o mordomo”, “a possível simbiose entre PMDB e PSDB agrada a aliados de Temer mais pessimistas com o futuro do governo. ‘Pelo menos não vão ter como apontar o dedo. E poderemos culpá-los também’, afirma um peemedebista descrente”. E em seu “Xadrez do desmonte da democracia”, Nassif avisa que “agora, a democracia está desmontada, a economia caminhando para uma depressão.”
“Quase todas as palavras de ordem pré-impeachment se esvaziaram. Agora, o alvo da mobilização é o Congresso, com todos seus defeitos, o último setor de manifestação do voto popular. E a turba sendo engrossada por procuradores e juízes, em uma nítida perda de rumo das instituições”, afirma o jornalista, que completa dizendo ainda que “agora, se tem um Judiciário brigando com o Legislativo, procuradores de Força-Tarefa assumindo a liderança da classe, se sobrepondo ao Procurador Geral, em um quadro de indisciplina generalizada e crescente.”
Com a revelação das delações da Odebrecht, “tornando mais aguda a crise, a desmoralização da política e a busca de saídas milagrosas”, Nassif espera o clímax em que “se terá então a crise econômica se ampliando, o vácuo político se acentuando, e massas raivosas atrás de qualquer solução, por mais ilusória que seja, como esse cavalo de batalha contra a Lei Anti-abusos.”
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