A democracia está em crise, e não foi apenas no Brasil que o movimento democrático acusou o golpe. Na Inglaterra, com Brexit, nos EUA, com Donald Trump, e agora na Itália, após Matteo Renzi, primeiro-ministro italiano, pedir demissão.
No El País
Itália busca manter estabilidade política após renúncia de primeiro-ministro
Pier Carlo Padoan, atual ministro da Economia, desponta como favorito para chefiar um Governo de transição
A demissão de Matteo Renzi, quarto primeiro-ministro da Itália em cinco anos, o terceiro a governar sem o aval das urnas, volta a exigir soluções criativas para a política do país. Depois da derrota por quase 20 pontos percentuais no referendo sobre as reformas constitucionais – o não alcançou 59,11% dos votos, contra 40,89% do sim –, Renzi reunirá pela última vez a sua equipe de Governo nesta segunda-feira e em seguida irá ao Palácio Quirinale para apresentar formalmente sua demissão ao presidente da República, Sergio Mattarella, a quem caberá dar o próximo passo. Embora haja várias possibilidades, a mais provável é que ele aceite a demissão de Renzi e nomeie uma figura destacada para conduzir o Governo até as próximas eleições. O até agora ministro da Economia, Pier Carlo Padoan, desponta como favorito para essa interinidade.
Padoan (Roma, 1950), um prestigioso economista com grande capacidade negociadora e experiência junto aos órgãos da União Europeia, teria a tarefa de conduzir cuidadosamente um Governo de transição até as próximas eleições, para que a crise política prejudique o mínimo possível a já deteriorada economia italiana. Há dois dados que avalizam a tese de que o ministro da Economia ou alguma outra figura política renomada próxima ao Partido Democrático (PD) substituirá provisoriamente Renzi: o primeiro é que uma convocatória imediata de eleições – como pede Matteo Salvini, líder da Liga Norte – não parece possível, porque a nova lei eleitoral, pensada por Renzi como complemento da reforma do Senado, ainda está tramitando na Câmara de Deputados. Com o resultado do referendo, será necessário pactuar outro projeto.
O outro dado é que, a pesar da surra que sofreu nas urnas neste domingo, a centro-esquerda ainda tem maioria na Câmara, e, num período de interinidade, possivelmente conseguirá exercê-la também no Senado com o apoio de pequenos partidos de centro e inclusive da Força Itália, o partido do ex-premiê Silvio Berlusconi. Não se pode esquecer que Berlusconi recorreu da perda de seus direitos políticos, cassados pelo Senado até 2019 devido a crime fiscal. Sua difícil situação política e de saúde – ainda convalesce de uma delicada cirurgia cardíaca – mantém a centro-direita órfã de um candidato natural.
Por sua vez, o líder do Movimento 5 Estrelas (M5S), Beppe Grilo, já deixou claro que não quer novos experimentos de Governos tecnocratas como o de Mario Monti. Sua proposta é que o Parlamento altere a lei eleitoral o mais rapidamente possível e que novas eleições sejam convocadas. Entre as diversas forças políticas que reivindicam a paternidade da vitória do não no referendo – de pós-fascistas a comunistas, passando pelo próprio Monti –, Grillo é provavelmente quem tem mais chances de aproveitá-la nas próximas eleições. Seu candidato é o jovem deputado Luigi Di Maio, vice-presidente da Câmara dos Deputados.
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