Por Cláudio da Costa Oliveira, colunista do Cafezinho
Notícia de ontem (02/11) no Blog do Kennedy Alencar alertava: “Padilha quer dar comando da Vale ao PSDB” e dizia: “O ministro Eliseu Padilha da Casa Civil, trabalha para derrubar o atual presidente da Vale, Murilo Ferreira, e indicar um nome avalizado pela cúpula do PSDB, ouvindo com destaque as opiniões do senador Aécio Neves e do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. ”
Logo depois, neste mesmo dia, veio um desmentido: “Padilha diz que Ferreira pode ser mantido no comando da Vale” e acrescenta: “Ministro afirma que governo busca solução de mercado no devido tempo. ”
Para entender esta agitação em relação à Vale, precisamos voltar no tempo, para 1993, no governo Itamar Franco, quando Benjamin Steinbruch dono de uma empresa têxtil chamada Vicunha, comprou a maior siderúrgica brasileira, a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), por um preço, segundo consta, 30 vezes inferior ao seu valor real e com financiamento do BNDES.
Posteriormente, em 1997 no governo Fernando Henrique Cardoso, o mesmo Benjamin Steinbruch comprou a maior mineradora do mundo, a Companhia Vale do Rio Doce (CVRD) hoje Vale, por US$ 3 bilhões, dando como garantia a própria CSN que ele havia comprado e ainda estava pagando e com mais financiamento do BNDES. A Vale foi vendida e seu passivo trabalhista ficou todo com o governo federal. Grande negociata.
Já em 2005 no primeiro governo Lula, a dívida em atraso de Steinbruch com o BNDES era enorme. O então presidente do BNDES, Carlos Lessa, fez então um acordo, sendo criada uma “sociedade de propósito específico” (SPE) com as fundações de estatais, Previ, Funcef e Petros, que compraram as ações da CSN na Vale.
Neste momento somadas as ações ordinárias da Vale pertencentes ao Tesouro Nacional mais as do BNDESPAR e da sociedade das Fundações, o governo passou a deter 60% das ações ordinárias da Vale. Ou seja, a Vale voltou a ser uma empresa estatal. Mas para isto foi necessário entregar a CSN, de graça, para o Steinbruch.
Creio que para não agitar o mercado, através de um acordo de acionistas, a administração da empresa foi entregue ao segundo maior acionista, o Bradesco. Mas o governo federal sempre teve ingerência na empresa, basta lembrar o ocorrido em 2008, quando o presidente da Vale Roger Agnelli anunciou que estava fechando a compra da mineradora anglo-holandesa Corus, por US$ 90 bilhões. O ex-presidente Lula mandou suspender o negócio, dizendo que a Vale tinha de aplicar em projetos no Brasil. Roger Agnelli se defendeu dizendo que a Vale não tinha projetos para desenvolver no Brasil, mas Lula insistiu alegando que ele deveria procurar os projetos, e o negócio não foi fechado. E podemos dizer, por sorte não foi fechado, pois meses depois quando eclodiu a crise financeira nos Estados Unidos, o valor da Corus caiu para menos de US$ 10 bilhões.
Vocês poderiam me perguntar: O que tem haver esta história toda com a atual agitação sobre a administração da Vale?
Ocorre que o acordo de acionistas feito em 2005, em que a administração da empresa foi entregue ao Bradesco, expira em agosto de 2017 (vide observação no final). Portanto, se quiser, o governo poderá assumir a direção da Vale com todos os seus cargos e de suas subsidiárias.
Temo que a Vale possa ser novamente privatizada a preço de banana. Desta vez talvez vendida para um banco. Quem sabe o Itaú, que a revenderia logo depois com bom lucro. Façam suas apostas. É fantástico.
Obs: Os dados relativos ao capital da Vale e aos acordos de acionistas, constam dos relatórios anuais publicados pela empresa e podem ser vistos no seu site na internet.