(Coquetel do lado de dentro da “casa do povo” e sangue do lado de fora. Foto: Gisele Arthur)
Por Pedro Breier, correspondente policial do Cafezinho
A foto acima é simbólica do que está acontecendo no Brasil.
Do lado de dentro da Câmara, parlamentares desfrutam de um aprazível coquetel.
Do lado de fora, estudantes, trabalhadores e integrantes de movimentos sociais são covardemente atacados pela PM de Brasília.
A PEC 55, aprovada ontem em primeiro turno de votação pelos nossos bem alimentados senadores, vai fazer mais ou menos isso: drenar os recursos do Estado para o pagamento dos juros da dívida pública, alimentando insaciáveis banqueiros, enquanto estudantes e trabalhadores sofrerão na pele os efeitos do congelamento dos investimentos públicos pelos próximos 20 anos, mesmo que a receita do Estado brasileiro aumente.
Caso haja revolta (e vai haver), o Estado oferecerá o serviço premium destinado aos manifestantes de esquerda, um coquetel luxuoso de bombas, gás lacrimogêneo e spray de pimenta.
O ‘aparelhamento do Estado pelo lulopetismo’ foi um mantra repetido à exaustão pela mídia corporativa durante os governos petistas.
O STF era usado como exemplo desse aparelhamento, acreditem. A presença de movimentos sociais em atos no Planalto também.
Mas quando a PM é absurdamente seletiva na escolha dos alvos de seus ataques covardes, o som do silêncio desta mesma mídia sobre o aparelhamento do Estado pela direita é ensurdecedor.
Algo em torno de 50 insanos manifestantes de extrema-direita pedindo intervenção militar conseguiram, sem maiores dificuldades, tomar de assalto a mesa diretora da Câmara, aos gritos de ‘viva Sérgio Moro’:
Ontem, 10 mil pessoas protestando pacificamente contra a PEC 55, do lado de fora do Congresso, foram atacadas brutalmente, sob a velha desculpa de que foi um grupo dos manifestantes que iniciou o quebra-quebra. Alguns parlamentares tentaram parar o massacre, mas ouviram dos policiais que a ordem era atacar.
A diferença entre os dois protestos? Um era da direita, o outro da esquerda.
A PEC 55 apenas transpõe esse aparelhamento do Estado pela direita, uma constante quando tratamos das ações das PMs estaduais, para todas as áreas.
‘Não tem outro jeito’, diziam os nossos apalermados senadores, ontem, durante a votação.
Nossos parlamentares fingem não saber que a PEC 55 é nada mais nada menos que a teoria econômica da direita, a austeridade, enfiada goela abaixo dos próximos 5 presidentes eleitos.
Depois de afundar a Grécia e não dar certo em lugar nenhum da Europa, a austeridade chega ao Brasil como a única solução possível. Não é maravilhoso o consenso que uma mídia concentrada e canalha pode produzir?
A teoria econômica desenvolvimentista, segundo a qual nos momentos de crise o Estado deve aumentar o investimento público para aquecer a economia, defendida por muitos economistas, dentre eles o ganhador do nobel Paul Krugman, simplesmente não existe para o oligopólio midiático.
Consequentemente, não existe também para os senhores de cabelo acaju que, em tese, representam o povo brasileiro.
Ficamos assim, portanto.
Aos deputados e banqueiros, coquetéis e recursos públicos.
Aos estudantes e trabalhadores, nada. Se protestarem, tiro porrada e bomba.
A direita é que sabe como aparelhar o Estado.