Por Maria Fernanda Arruda, colunista do Cafezinho
“Texto de Isadora Clemente, estudante de Medicina e ex- aluna da Escola Parque de Recife e que nos ajuda a compreender o luto por Fidel.
Às vezes me perguntam sobre o que vi de pobreza em Cuba. E eu acho que essa é uma pergunta curiosa porque me fez pensar sobre o que é pobreza. Ora, no nosso contexto brasileiro, riqueza é uma associação de bens materiais a uma situação de segurança e bem estar. Pobreza envolve muito mais do que a falta de bens. Pobreza envolve morar num local arriscado, conviver com deslizamento de morros, tiroteios,com o medo de ser desalojado. Envolve estar mais vulnerável a estupros, à violência, à exploração sexual. Envolve perder horas apertado em um transporte público caro e de má qualidade. Muitas vezes envolve passar fome,envolve se desesperar por não ter acesso à medicamentos e cuidados médicos. Envolve não ter lugar adequado para deixar seu filho.
E principalmente, pobreza na sociedade de consumo está associada à baixa auto-estima. Os ricos dizem que são ricos porque eles ou os pais deles trabalharam, fizeram esforço, logo se você é pobre é por que não trabalhou, não é inteligente, não é esforçado. Uma ideia tristemente enraizada.
E eu me lembro dessa foto numa comunidade rural de Havana, As crianças dormindo na creche. Crianças com mais de um ano, porque lá a licença materna ou paterna é de um ano. Crianças que poderão praticar esportes, dançar ballet, independentemente dos pais terem dinheiro para pagar escolinha. Lembro dos idosos nas casas de abuelos compartilhando tantas lembranças. Lembro da tranquilidade com que a gente andava à noite na estrada.
Então quando me perguntam se em Cuba tem muita pobreza eu respondo que na verdade o que Cuba tem é outro tipo de riqueza.”