De Estocolmo — Wellington Calasans, colunista internacional do O Cafezinho
Quando muitos pensavam que o auge da crise política de 2016 havia sido atingido com a consumação do golpe, o governo defendido pela mídia, classe média e a elite como “a saída para a retomada do crescimento” se revelou um desastre completo.
Desorientado, Temer respira por aparelhos e, graças aos comparsas no golpe, abriu espaço político e jurídico para o próprio impeachment. Ninguém quer sequer visitá-lo no leito de morte, pois é grande o risco de contágio.
O impeachment de Dilma Rousseff foi revelado o maior erro estratégico da então oposição e desafetos do PT. Passados seis meses, a sociedade brasileira está convicta de que foi vítima de uma propaganda mentirosa e, pior, que aqueles que gritavam “Fora, Dilma!” estavam enormemente distantes de todo e qualquer sinal que levasse à ética na política e no trato da coisa pública.
A completa ausência de um nome capaz de ser visto como “conciliador” impõe aos políticos que assaltaram o poder e aos cidadãos a certeza de que o regresso às urnas é única saída possível. O sonho do PSDB de realizar “o golpe dentro do golpe” é natimorto, pois a blindagem que os principais tucanos receberam da “justiça” foi exageradamente descarada.
Alckmin, Serra, Aécio e FHC são como uma criança lambuzada de chocolate que nega ter comido sem autorização. O povo e as pessoas de bem, que ainda são muitas, não aceitariam tamanha sem-vergonhice de ter um desses nomes, atolados até o pescoço com citações por corrupção, como seus legítimos representantes. A eleição indireta, de um deles, seria vista como a extensão do golpe.
Aqueles que mergulharam nesta aventura pagam hoje a conta da farra que fizeram contra o estado democrático de direito. A imprensa, muitos políticos e muitas instituições que agora tentam descolar de Temer, carregam a tatuagem de golpistas. O povo sente na pele que o golpe foi uma luta por privilégios de uns ou, para outros, uma tentativa de evitar a punição pelos crimes praticados.
O cenário atual é tão caótico que até mesmo para que uma eleição direta seja vista como uma saída segura, será necessária a adoção do modelo de urna eletrônica da quarta geração (que imprime o voto), pois são poucos os que acreditam em uma justiça representada por figuras como Gilmar Mendes e Luiz Fux, tanto no STF, como no TSE. São abundantes os motivos para a descrença.
Definitivamente, 2016 é o ano mais importante da história do Brasil. É neste ano que estamos a testemunhar o mergulho do país nas águas turvas do retrocesso. Desde o golpe que culminou com o fim do governo Dilma Rousseff, passando pela perseguição ao mais popular líder político do Brasil, Lula, e culminando agora com a possibilidade real de escrever a queda de mais um presidente, sendo esta justa e necessária, o ano em curso ainda pode oferecer grandes surpresas.
Se o PMDB ainda pretende se manter na política com esta sigla, chegou o momento de sacrificar aqueles que lutaram pela própria sobrevivência através de um golpe. A renúncia de Temer com a proposta de eleições diretas para presidente e também a formação de um novo Congresso é, mais que um gesto necessário, a única possibilidade de sobrevivência deste partido e de renascimento do Brasil.