Foto: Estudios Revolución (08/01/2014)
Por Maria Fernanda, exclusivo para o Cafezinho
FIDEL CASTRO desembarcou em Las Coloradas em dezembro de 1956, ocupando o espaço que se tornou mítico, Sierra Maestra, e por lá permaneceu por dois anos, comandando o Exército Rebelde Cubano, em luta contra a ditadura de Fulgênio Batista. A entrada em Havana significou o fim de uma ditadura, financiada por empresas e políticos norte-americanos, que se compraziam na exploração das terras e das carnes das mulheres cubanas, fazendo da capital da então “república das bananas” um lupanar, onde se divertiam, inclusive o católico apostólico romano, John Kennedy.
Fidel foi empossado como Primeiro Ministro de Cuba em 16 de fevereiro de 1959. Enfrentou as agressões dos Estados Unidos, batidos vergonhosamente na Baia dos Porcos, mas que não vacilaram em adotar a política covarde de “boicote comercial”, provocando com isso a abertura de espaço para o apoio da União Soviética. A Revolução de Cuba tornou-se o desafio maior aos norte-americanos, tornado dramático nos anos mais duros da “guerra fria”. Fidel se tornou a figura monstruosa que a imprensa ocidental fabricou, tentando faze-lo odiado mundialmente. Ele e Che Guevara, figuras-símbolo de gerações que desejavam a Liberdade: as barbas revolucionárias, desafiando o ideal “higiênico” que era proposto pelos astros do cinema norte-americano. A “crise dos misseis”, criada e abusada pela imprensa, amedrontou o mundo dos covardes, que já choravam pelas vítimas do “paredón” e não perdoavam a imolação de “sacerdotes do dólar cristão”. Nunca se acovardou, não negociou, pois sabia impossível a concessão. Falava ao povo, ensinava a pensar, apontava para a verdade que o capital internacional insistia em negar.
O que foi feito pela Revolução Cubana e com Fidel Castro?
O que a imprensa ocidental não conta e que os brasileiros não sabem:
- Cuba tem uma taxa de alfabetização de 99,8%, uma taxa de mortalidade infantil inferior até mesmo à de alguns países desenvolvidos, e uma expectativa de vida média de 77,64. Em 1958, antes do triunfo da revolução, 23,6% da população cubana era analfabeta e, entre a população rural, os analfabetos eram 41,7%. Cuba torna-se o primeiro país do mundo a erradicar o analfabetismo. Hoje não há mais analfabetos em Cuba. De acordo com os resultados obtidos nos testes de avaliação de estudantes latino-americanos, conduzidos pelo painel da Unesco, Cuba lidera, por larga margem de vantagem, nos resultados obtidos nas terceiras e quartas séries em matemática e compreensão de linguagem. “Mesmo os integrantes do quartil mais baixo dentre os estudantes cubanos se desempenharam acima da média regional”, disse o painel.
- Desde 1993, Cuba vem fazendo grandes progressos na área de biotecnologia , tendo obtido registro de suas patentes e direitos de sua exploração comercial nos EUA. Sua vacina contra hepatite B é vendida em 30 países do mundo. Em 1994, o ingresso de divisas em Cuba através da exportação de biotecnologia alcançou a cifra de 400 milhões de dólares e se estima que no futuro poderia ser maior que o do açúcar. A biotecnologia cubana já gerou mais de 600 patentes para drogas novas e inovadoras como vacinas, proteínas recombinantes, anticorpos monoclonais, equipamento médico com software especial, e sistemas de diagnósticos. Cerca de sessenta outros produtos estão nos estágios finais de pesquisa. Em 2011, Cuba anuncia ter desenvolvido a primeira vacina terapêutica contra o câncer de pulmão, chamada CimaVax-EGF. A prestação de serviços relacionados à saúde é totalmente gratuito para residentes da ilha, o que se espelha em seus indicadores padrão. Segundo dados da Organização mundial da saúde (OMS), em 2005, a taxa de mortalidade infantil para crianças abaixo de cinco anos de idade foi de sete para cada mil nascidos, índice superado na América apenas pelo Canadá, onde o índice correspondia a seis crianças a cada mil nascidos. Em 2009 a UNICEF anunciou que Cuba é o único país dentre todos da América Latina e Caribe que havia erradicado a desnutrição infantil.
- Nas economias de mercado a maioria dos pobres vive em favelas, e a maioria dos favelados é pobre. Entretanto em Cuba isto é diferente devido à relativa segurança na posse da residência, a profusão de residências de aluguel muito baixo ou gratuito e a restrição legal aos mercados de moradias e terrenos. Significativamente as pessoas que moram em habitações substandard em Cuba têm acesso à mesma educação, serviços de saúde, oportunidades de trabalho e seguro social que os que moram no que (anteriormente à revolução) foram os bairros mais privilegiados.Em 2011 o governo cubano relaxou as normas de comercialização de moradias. Supõem-se que tal fato visou retirar da clandestinidade o mercado informal de moradias e de tentar suprir a grande carência dela.
- Foi liderada por Fidel que Cuba se tornou uma potência esportiva, especialmente no beisebol e no boxe, suas paixões. Antes da revolução de 1959, os cubanos somavam apenas 13 medalhas olímpicas, sendo 12 delas na esgrima, graças ao fenômeno Ramón Fonst. A crítica esportiva ocidental sempre desrespeitou o empenho cubano, só possível com a constante melhora das condições de vida da população, atribuindo o sucesso a práticas e técnicas desumanas e violentadoras da dignidade humana. Nas modalidades esportivas populares:o atletismo, box e judô, Cuba revolucionária somou 220 medalhas olímpicas. Agora, o imperialismo dos esportes informa sobre uma decadência cubana, faltando-lhe auto-crítica, que a impede de enxergar os jogos olímpicos como decadentes e soterrados pelo comércio.
A Revolução de Cuba teve importância muito grande em diversos momentos da História do Brasil, quando a “guerra fria” levou os Estados Unidos a adotarem uma política de violência sórdida para controle da América Latina, o seu “quintal”. Um primeiro sintoma : eleito Presidente da República, vencendo então o candidato das “esquerdas”, o general da “espada de ouro”, alinhado com o pensamento do Departamento de Estado dos EUA, Jânio Quadros visitou Cuba e recebeu com honras de chefe-de-estado a Che Guevara, condecorado então com a Ordem do Cruzeiro do Sul. Jânio foi “renunciado”, não por ter negado apoio à política de agressão a Cuba, mas sob alegação de desequilíbrio mental, bizarrices contra o ‘bikini’, bilhetes alucinados … João Goulart teve ameaçada a sua posse, não por ser pupilo de Vargas e defensor das “reformas de base”. Concedeu-se a ele, palavras textuais de relatório do Departamento de Estado, o “benefício da dúvida”. Jango estava disposto a negociar com boa vontade, mas não admitia desrespeito à soberania nacional de Cuba. A sombra de Fidel Castro levou os Estados Unidos a deporem Jango, a implantar a ditadura na América Latina, esmerando-se nas brutalidades que cometeu no Chile.
Depois de longo e tenebroso interregno, representado pelas décadas de ditadura, e os descaminhos permitidos por uma “democracia consentida”, quando a fidelidade canina aos Estados Unidos ganhou brilho especial durante os oito anos de Fernando Henrique Cardoso e Celso Lafer, o Brasil reaproximou-se de Cuba com os governos Lula e Celso Amorim. Mas Lula usava barbas, não era apenas um metalúrgico mal saído das oficinas.
Não se tratava mais da imagem fantasmagórica de Fidel Castro, mas da ânsia incontrolável da máfia do petróleo. E, mesmo assim, e adicionalmente, Lula conservava as suas barbas. E sempre teve respeito e admiração pelas barbas de Fidel.
Para nós, brasileiros, os tempos modernos e contemporâneos, estão marcados por essas duas figuras maiores: Fidel Castro, o REVOLUCIONÁRIO. Lula, o BOM PASTOR ,que queria que todo brasileiro pudesse usufruir de três refeições ao dia, ter casa para morar e escola para seus filhos. O espírito revolucionário de Fidel Castro poderia ser transportado, da pequena ilha do Caribe, para as imensidões brasileiras. Será possível não ceder, não negociar, afirmar intransigentemente, mesmo sem perder a ternura? A resposta não pode ser pensada apenas por Lula. Tem que ser pensada e transformada em ação política por todos os brasileiros de boa-vontade.