Por Bajonas Teixeira, colunista de política do Cafezinho
A rigor a situação deixada pelo terremoto do caso Geddel é a seguinte: três ministérios (a Secretaria do Governo, a Casa Civil e a Advocacia Geral da União) e a própria Presidência da República, foram soterrados e cobertos de detritos.
A saída de Geddel não vai aliviar a situação de Temer. As expectativas criadas, pela parte mais ingênua e manipulável da classe média, pela narrativa moralista e a cruzada “anti-corrupção” do golpe, sofreram uma profunda decepção. Mesmo o zumbi mais maleável pelas técnicas da Globo está perplexo, e isso porque a própria Globo está perplexa.
Os setores que apoiaram e deram o aval ao governo Temer, estão apavorados com a amplitude da corrupção e seu caráter incontrolável. Ontem, em editorial, O Globo defendia que Temer deveria optar “um padrão ético minimamente aceitável no poder”. Até esse pedido tão modesto e de ambições minimalistas, mostra o grau de desalento da Globo com seu rebento. Isso, aliás, já era visível desde os inícios remotos do governo Temer, ainda nos meses da interinidade, quando a revista Época publicou o editorial A nova pauta bomba, que lamentava a esquizofrenia de Temer ao dar aumento ao judiciário.
Mas a situação agora se agravou, porque lançou Temer dentro de um labirinto de onde dificilmente encontrará saída. O caso Geddel o comprometeu muito. Primeiro, porque tentou manter o ministro, e depois porque seus laços com a bandalheira foram todos expostos. Tanto na sua tentativa de desmontar o Ministério da Cultura quanto, quando isso se revelou impossível, de criar uma secretaria para esvaziar o Iphan e o resguardo do patrimônio histórico brasileiro.
Ou seja, para além do limite da irresponsabilidade, em nome dos interesses das construtoras e da especulação imobiliária, Temer junto com Geddel trabalhavam para criar condições que levariam à implosão do patrimônio histórico brasileiro. Governo mais desclassificado impossível.
No saldo geral, uma coroa de louros de lama cinge a nobre cabeça do mordomo decorativo do Planalto.
Talvez por ter sido um vice decorativo, Temer não aprendeu a fazer certas distinções. Ele disse ontem, em uma nota feita na correria tentando explicar suas conversas com Calero, que sua sugestão de ir a AGU se deu apenas por se ela responsável por “solucionar eventuais dúvidas entre órgãos da administração pública”. Esqueceu o presidente, porém, que Geddel Vieira não é um órgão público, nem seus interesses são interesses públicos.
Seria preciso distinguir entre Geddel enquanto ministro que, em princípio, defenderia os interesses públicos, o que é uma coisa, e Geddel enquanto pessoa física, que defende seus próprios interesses e os da sua família, o que é outra coisa. Essa distinção não entra na cabeça de Temer.
Temer diz que buscou entregar o conflito entre Geddel e Calero à mediação da AGU (Advocacia Geral da União), mas justamente isso desmente que tenha agido com lisura. O conflito entre os interesses pessoais de Geddel na construção do prédio em Salvador – que a imprensa já provou que vão além de um mero apartamento de R$ 4 milhões – e o interesse público não é algo que a AGU possa arbitrar em termos jurídicos e administrativos. Não é uma questão jurídica, mas um jogo de forças entre interesse privado e interesse público. E esse jogo de forças se refere à poder político. Por isso, só poderia ser resolvido na forma de uma manobra política.
E isso Calero já disse: que a intenção de enviar para a AGU era a de suspender qualquer responsabilidade dos dois, dele e de Geddel, já que ficaria como um parecer dado pela Advocacia Geral da União, que decidiria em favor do Iphan regional na Bahia. Assim, a história teria um final feliz, ao menos para Geddel e a construtora do projeto imobiliário defendida por ele.
O episódio mostrou o quanto Temer é assustadoramente pedestre, grotesco, o que se evidenciou por sua atitude de convocar um ministro de estado para pressioná-lo dentro das dependências do Palácio do Planalto. Ou seja, todo o aparato do poder foi posto à serviço dos interesses mais abjetos e censuráveis.
Sairão vivos dessa? É difícil dizer, porque tudo depende do grau de mobilização da oposição. E essa oposição não tem sido exatamente perspicaz ou inteligente nos últimos anos e, muitos menos, nos últimos meses. Vamos esperar para ver.
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