(Foto: Igor Estrela)
Por Bajonas Teixeira, colunista de política do Cafezinho
O editorial de O Globo de hoje pede a saída de Geddel Vieira. Segundo o editorial, Michel Temer vive um dilema: ser solidário a um amigo ou “defender um padrão ético minimamente aceitável no poder”. A Globo recomenda à sua cria que escolha o padrão minimamente aceitável. Na verdade, essa modesta solicitação já é pedir demais ao governo Temer. Vejamos primeiro o que diz o editorial:
“Michel volta a encarar o mesmo dilema da crise de Jucá: manter os compromissos com os amigos peemedebistas ou defender um padrão ético minimamente aceitável no poder. Tem de escolher esta última opção. Aproximam-se momentos-chave para os próximos 10 a 15 anos: as reformas do teto dos gastos, da Previdência e outras.”
Na verdade, esse “dilema” é, em primeiro lugar, mesquinho – pedir “um padrão estético minimamente aceitável” é pedir tão pouco que chega a ser imoral. Em segundo, é um dilema que nunca existiu para Temer. Ele sem titubear fez a escolha e mandou que fosse divulgada em alto e bom som. Toda a imprensa noticiou sua opção. Vejamos algumas reportagens do dia 21 sobre o assunto:
No Estadão:
BRASÍLIA – O presidente Michel Temer afirmou na tarde desta segunda-feira, 21, por meio de seu porta-voz Alexandre Parola, que o ministro da Secretaria de Governo, Geddel Vieira Lima, permanecerá no cargo, após denúncias do ex-ministro da Cultura Marcelo Calero de que Geddel o teria pressionado para liberar a construção de um edifício em Salvador, empreendimento em que o ministro baiano tem uma unidade.
Mesmo sob pressão para afastá-lo do cargo, o presidente Michel Temer anunciou nesta segunda-feira (21) que o ministro Geddel Vieira Lima continuará no governo federal.
Para arrefecer a atual crise, porém, assessores e auxiliares presidenciais defendem que Geddel faça um pedido público de desculpas.
A avaliação é que, diante de escândalos de corrupção revelados pela Operação Lava Jato, o país não aceita mais esse tipo de comportamento por parte de um ministro.
Em O Globo:
BRASÍLIA – O presidente Michel Temer decidiu pela permanência do ministro Geddel Vieira Lima, da Secretaria de Governo. Temer afirmou que todas as decisões relativas ao Ministério da Cultura são tratadas por “critérios técnicos”, incluindo o suposto imbróglio jurídico envolvendo o apartamento de Geddel. O anúncio foi feito nesta segunda-feira pelo porta-voz da Presidência.
Está mais que claro que Temer não viveu, nem vive, nenhum dilema. Ele nem se colocou a questão de se devia ou não escolher entre o amigo e o “padrão ético minimamente aceitável”. Sem pestanejar, ele escolheu o amigo.
O que decorre daí? Decorre que Temer feriu frontalmente não qualquer ética abstrata, mas a ética pública da qual cuida justamente a Comissão de Ética Pública da Presidência, responsável por fiscalizar e julgar os ocupantes de altos postos da administração pública. A função da comissão é zelar pelo cumprimento do que determina a Constituição Federal: que a administração seja regida pelos princípios de legalidade, publicidade, eficiência, moralidade e impessoalidade.
Está claro que Geddel afrontou todos, ou quase todos esses princípios, não só pela advocacia administrativa que praticou, mas, ainda, e de forma mais grave, por ter, na qualidade de agente público, trabalhado para desmontar o Ministério da Cultura, retirando do Iphan o poder de fiscalizar e embargar obras como a que ele intermediava.
Mais grave ainda, como comentou em sua coluna hoje o jornalista Janio de Freitas, é que Temer trabalhou 1) para o fim do Ministério da Cultura e 2) quando isso se mostrou impossível, pela criação de uma secretaria para esvaziar o Iphan, e, portanto, dar fim ao trabalho de fiscalização que antes cabia a ele.
E se sabe que Geddel tinha já, para ocupar essa secretaria, um nome da Bahia ligado a ele.
O caso, portanto, é muito mais sórdido do que se imagina. Tramava-se a destruição de uma estrutura fundamental do estado brasileiro para abrir caminho aos interesses criminosos que esbarram na proteção do patrimônio histórico. O prédio de Geddel seria apenas um dentre as centenas que teriam carta branca após a demolição do Minc e do Iphan.
O que Temer planejava para o Ministério da Cultura, o assassinato institucional, é apenas um caso dentro da chacina generalizada que ele e seus rapazes projetam para o país. Essa arquitetura reversa, que pretende transformar o aparato institucional em lixo, está apontada para diversas frentes: a educação, a saúde, a previdências, o salário mínimo, as universidades públicas, etc.
O nome genérico desse projeto é PEC 55. E, o mais interessante, é que Geddel Vieira não é outro senão o encarregado geral da demolição, na medida em que atua como o coordenador da aprovação da PEC 55.
O Manifesto da Corrupção, sobre o qual escrevemos ontem, é uma obra-prima do crime institucional, porque sanciona todas as manobras que estão sendo conduzidas por Geddel e Temer para abolir o estado brasileiro. Para transformar o estado em uma aparato adaptado às necessidade do submundo da rapinagem.
Esse é o fruto podre do falso combate à “corrupção” que, manipulando os preconceitos e pavores da classe média, levou ao topo do estado um grupo de exterminadores institucionais que nada tem de amador.
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