Há um ano bispos brasileiros questionavam: “ajuste fiscal para quê e para quem”?

Foto: Fernando Frazão/ Agência Brasil

Por Cláudio da Costa Oliveira, colunista de economia do O Cafezinho

Na década de 30 Keynes já sabia que ajuste fiscal com a economia em recessão, leva a mais recessão. Hoje até o FMI concorda com isto.

Atualmente, no Brasil, alguns argumentam que no governo como na nossa família : “Não se pode gastar mais do que se arrecada”

Esta é uma meia verdade, pois para cada R$ 100,00 gastos pelo governo R$ 40,00 retornam na forma de impostos. Por outro lado, em momentos de recessão, dependendo da forma de como é feito o gasto governamental, outros agentes econômicos passam a participar do processo, fazendo com que a “roda” da economia comece a girar no sentido positivo.

De modo inverso, havendo cortes de gastos governamentais, principalmente naqueles gastos que promovem melhor distribuição de renda, o efeito negativo na economia é imediato.

Antes de mais nada é preciso entender que nenhuma economia consegue um crescimento sustentável, sem ser precedida de uma melhor distribuição de renda.

Em junho de 2015, O Conselho Permanente da Conferência Nacional dos Bispos dos Bispos do Brasil questionava : “Ajuste fiscal para quê e para quem ?”

Naquela época, ainda governo Dilma, nossos Bispos constatavam :

“A palavra de ordem da nova equipe econômica consiste em recolocar a economia brasileira nos eixos, sem prejuízos sociais exacerbados. Maneira elegante de falar da necessidade do ajuste fiscal e do corte de gastos públicos. Por austeridade fiscal entenda-se corte no seguro desemprego, contingenciamento de gastos e redução do investimento público. Esta volta à ortodoxia econômica é apresentada como prática de “boa ciência econômica” , controlada e impulsada pelas agências de cotação de crédito, tipo de selo de qualidade para o capital. Bom para o capital e ruim para o trabalho. Pois, esta primazia do capital está levando ao aumento do desemprego que subiu para 7,9%, e para uma queda na renda de muitos. Em regiões metropolitanas a taxa de desemprego foi de 6,4%. Entre os jovens esta foi bem maior, ultrapassando 16%. De 2002 a 2014, a taxa de desemprego de jovens tinha caído de 23,2%  para  12%”

Vejam que hoje, a palavra de ordem da atual equipe econômica continua a ser “recolocar a economia brasileira nos eixos”. A austeridade fiscal foi incrementada e com isto o desemprego passou de 12% . A taxa entre os jovens passa de 24%, superior ao da era FHC (23,2%). A PEC 55 pretende manter a situação por mais 20 anos. A economia brasileira voltará aos níveis de 2002. Bom para quem ?

Mas a CNBB ainda pontuava :

“A classe empresarial está esperançosa de uma melhora no ambiente de negócios, revertendo o colapso de confiança que teria levado os empresários a não investirem em novos projetos e aplicar seus recursos nos papéis da dívida pública, puxando a taxa de juros para cima. Crise de confiança significa crise de lucro. Na falta de fazer bons negócios com lucro ou retorno que esteja acima da taxa de juros, é melhor ganhar dinheiro com os juros da dívida pública. Uma economia cada vez mais rentista sintoniza com recessão econômica. Incertezas políticas continuam a minar a confiança dos empresários. A taxa de investimento caiu 7,5% em relação à taxa do ano passado. A chamada incerteza econômica é responsável por uma queda no PIB de 1,6%”.

Vejam que hoje, a classe empresarial continua “esperançosa de uma melhora do ambiente de negócios” e continuam a aplicar seus recursos em papéis da dívida pública. Podemos repetir a frase : “Incertezas políticas continuam a minar a confiança dos empresário”. A diferença é que a taxa de investimento em 2016 (16,8%) é a menor dos últimos 21 anos,  e a chamada incerteza econômica é responsável pela queda no PIB de 3,5%.

Naturalmente o relatório da CNBB não foi divulgado pela grande mídia golpista, que não tem interesse em mostrar as verdades dos fatos. O enxugamento da economia brasileira só interessa aos “colonizadores” que atualmente governam o Brasil, cujos objetivos se limitam a explorar o país e seu povo.

Cláudio da Costa Oliveira

Economista aposentado da Petrobras

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