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Espiando o poder: análise diária da grande imprensa
Foto: Daniel Ferreira/Metrópoles
Por Luis Edmundo Araujo, colunista do Cafezinho
São fortes, muito resistentes os laços que unem o presidente Michel Temer ao seu ministro Geddel Vieira Lima, da Secretaria de Governo. Tão fortes que Temer, como anuncia as manchetes do Estado e da Folha de São Paulo hoje, decidiu que ele fica no governo, apesar das denúncias de que fez pressão para liberar a construção de um prédio no qual comprou apartamento. Sob o vaticínio a avisar da “recuperação mais lenta”, o Globo diz em chamada de capa, lateral, que “governo piora projeção do PIB” e embaixo Míriam Leitão afirma que “a economia patina, e o governo bate cabeça”, dando a entender que a decisão de Temer em manter o amigo, aliado antigo, não foi lá muito bem digerida por seus amigos, aliados de ocasião, da grande mídia. E no dia em que o Congresso se prepara para votar o decálogo contra a corrupção ungido de Curitiba, a Justiça do Rio de Janeiro liberou o estado de exceção, mas só contra os moradores, quase todos pobres, da Cidade de Deus.
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O Globo não dá manchete sobre o caso, mas quase. “Temer não vê razão para tirar Geddel”, diz o jornal bem no alto da capa, em cima da foto de Jorge William com o presidente encobrindo o rosto com a mão, ao lado da charge de Chico Caruso a mostrar Geddel com a mão presa numa ratoeira. Na matéria, o jornal informa que “logo cedo, Temer fez um sinal de negativo com o dedo quando um repórter perguntou se ele demitiria Geddel. Depois, o porta-voz, Alexandre Parola, oficializou a informação”.
O presidente já tinha tomado sua decisão antes que a Comissão de Ética da Presidência decidisse investigar o ministro, o que ocorreu, como lembra o Globo, “após recuo do conselheiro José Saraiva. Único indicado por Temer, ele havia pedido vista, mas voltou atrás.” O jornal diz ainda que, “no Planalto, a temperatura do caso foi baixando pouco a pouco durante o dia”, e usa mais uma declaração em off, de “um auxiliar de Temer”, para mostrar que o presidente “não vai despachar ninguém, principalmente um amigo, de forma sumária”.
“O presidente dará o benefício da dúvida a Geddel, e só tomará uma providência se houver alguma evidência”, continua o tal auxiliar ouvido pelo Globo, e no mesmo jornal, na coluna sob o título “A economia patina”, Míriam Leitão afirma que, “mais do que um simples desentendimento, o que houve entre o ex-ministro Marcelo Calero e o ministro Geddel Vieira Lima mostra uma das pessoas mais próximas do círculo palaciano cometendo um erro inaceitável e achando isso normal. Nas suas entrevistas, ele se perguntou o que fez de errado. Ainda não entendeu que um ministro não pode usar o cargo para obter uma decisão que o favoreça”.
No Estadão, Eliane Cantanhêde vai em linha bem parecida na coluna cujo título é “Cuidado com a corda!” “Geddel fica e a economia patina, mas Temer não pode esticar a corda”, afirma a colunista, usando o mesmo termo de Míriam em relação à economia e perguntou, logo de cara “o que é pior para o governo Michel Temer, a crise Geddel Vieira Lima ou a revisão do PIB para baixo em 2016 e 2017? A resposta é difícil, porque são duas más notícias muito importantes e com efeito direto sobre o humor da população”, diz a colunista que emenda lembrando que Temer “não é exatamente um campeão de popularidade.”
Cantanhêde lembra também que “Geddel não é um ministro qualquer. Foi um dos líderes do impeachment de Dilma e é do núcleo duro do governo”. Ela reconhece que “não é trivial que o secretário de Governo seja acusado por outro ministro de fazer pressão a favor de um empreendimento imobiliário no seu Estado, a Bahia, e no qual ele tem interesse direto”. Geddel, segundo e colunista do Estadão, “está sendo bombardeado pela oposição e investigado pela Comissão de Ética Pública da Presidência e vai ficar ‘sangrando’. Temer anunciou que Geddel fica e quer mesmo que ele fique, mas isso não depende só da vontade do presidente”, conclui.
Na coluna Painel, da Folha, a nota “Sinal Vermelho” informa que “em caráter reservado, integrantes da Comissão de Ética dizem já ver elementos suficientes para que Geddel Vieira Lima seja enquadrado na legislação sobre conflito de interesse. A lei veda qualquer ‘atuação como intermediário de interesses privados’ e – ainda que negue ter feito pressão- o ministro admite ter tratado do assunto”. Em outra nota (“Eu te conheço?”), a coluna conta que o “candidato ao governo da Bahia na chapa de Geddel Vieira Lima em 2014, Paulo Souto (DEM) recebeu R$ 50 mil da Cosbat e mais R$ 5.000 de Luiz Fernando Machado Costa Filho, dono da empresa”.
Na nota seguinte (“Tecla SAP”), o leitor fica sabendo que a “Cosbat é a empreiteira responsável pelo prédio em que Geddel comprou apartamento e que motivou as acusações de Marcelo Calero, ex-titular da Cultura”. E no Globo, na coluna Panorama político, Ilimar Franco revela que “a manifestação de Moreira Franco, em Paris, colocando em dúvida a permanência de Geddel Vieira Lima no governo, não foi bem recebida. Ministros do PMDB, do Planalto e da Esplanada cochicharam sobre o fato no Conselhão. Avaliam que ela foi desnecessária e, por isso, não entendem por que Moreira se empenhou em fragilizar Geddel ainda mais.”
“A temperatura dos próximos dias” é o título da nota seguinte de Franco, dizendo que “na opinião pública há uma ideia disseminada, independe de culpa ou não, de que o ministro Geddel Vieira Lima deve ser crucificado. Ontem, o presidente Temer o segurou, mas nada indica que o fará amanhã. Ministros avaliam que é natural que o presidente Temer, em seu primeiro ato, seja solidário a Geddel. Mas o futuro, acreditam, vai depender da dimensão que o assunto tomar na sociedade”.
Por falar nisso, a coluna do Globo lembra em outra nota, sob o título “Semelhança”, que “os movimentos que foram às ruas pelo impeachment de Dilma batem cabeça diante da situação vivida pelo ministro Geddel Vieira Lima. O MBL está em silêncio. O Vem Pra Rua, a exemplo dos tucanos, pede o afastamento dele.” E se afirma que o grande trunfo de Temer “até aqui é a sensação de que não há alternativa. É torcer ou torcer para seu governo dar certo”, Cantanhêde ressalta que o presidente, porém, “não pode esticar muito essa corda.”
E não pode, principalmente, como avisa Míriam Leitão, “nunca antes o país passou por um ciclo de recessão tão forte e prolongado”. “Quando a economia voltar a crescer, a recuperação será lenta, porque a economia foi atingida por uma combinação de crises. As projeções para o crescimento do ano que vem, que estavam em alta, voltaram a encolher”, afirma a colunista do jornal que a manchete, mostra mais um culpado da fraqueza da economia que, de novo, não é Temer.
Depois de culpar a eleição de Donald Trump pelos problemas econômicos do Brasil, o Globo embarca em pesquisa da Confederação Nacional da Indústria (CNI) para afirmar na manchete que “empresas perdem R$ 130 bi por ano com violência”. “Estudo da Confederação Nacional da Indústria (CNI) constatou que as empresas brasileiras gastam por ano R$ 130 bilhões com perdas por roubos, furtos e vandalismo, além de despesas com segurança”, revela o jornal que hoje, na primeira página, mostra o outro lado da dor causada pela violência no Rio, na foto da mulher de um dos sete mortos encontrados na mata, nos arredores da Cidade de Deus.
Há também, nas páginas internas, o perfil do único menor de idade entre as vítimas, que a família afirma nunca ter pertencido ao tráfico, ainda que na página ao lado o Globo diga, na matéria principal, no alto, que os “sete mortos achados em mata tinham passagem pela polícia”. Outra matéria, a afirmar no título que “falha mecânica pode ter provocado a queda”, reduz ainda mais chances de que o helicóptero da polícia que caiu perto da Cidade de Deus, matando seus quatro ocupantes, tenha sido alvejado por traficantes.
Nada que tire o ímpeto das autoridades em investigar o caso, em apurar e prender os traficantes, e para isso os policiais podem, agora, entrar quando quiser nas casas de todos os moradores da comunidade, como informa o título na capa, colado à imagem da mulher aos prantos pela morte do companheiro, dizendo que “Cidade de Deus terá buscas coletivas”. “Justiça autoriza busca coletiva em comunidade”, diz o título da matéria na página interna, com o subtítulo embaixo informando que a “Polícia poderá fazer revistas e apreensões em casas de quatro localidades da favela sem mandado específico”.
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