Arpeggio – coluna política diária
O golpe mergulhou o Brasil no caos.
As últimas sessenta horas revelaram instituições completamente apodrecidas.
O judiciário, num surto de violência aristocrática contra a classe política, assume a liderança das campanhas de linchamento e golpismo.
A covardia dos ministros do Supremo, hoje convertidos – todos – ao tucanismo midiático-golpista, é estarrecedora. O que eles esperam para se posicionar em prol Estado Democrático de Direito? Que haja um massacre?
A cúpula do Ministério Público Federal faz todo o tipo de chantagem política para aprovar iniciativas que ampliarão ainda mais o seu poder, que já é excessivo, em detrimento das liberdades individuais e da democracia.
A imprensa há tempos perdeu o rumo e hoje navega desgovernada pelas águas turbulentas do golpismo, despejando diariamente gases tóxicos de ódio e mentira na atmosfera política do país. A violência contra seus próprios jornalistas não é novidade: nasce em 2013 e tende a se aprofundar. Não é a esquerda que agride jornalistas em manifestações, e sim o lúmpen eleitor de Bolsonaro, o exército de zumbis alimentado pela carne podre oferecida pela própria imprensa de esgoto e pelas redes sociais de extrema direita.
Como explicar ao mundo que o congresso do nosso país foi assaltado por um punhado de fascistas gritando vivas a Sergio Moro, pedindo intervenção militar e confundindo a bandeira do Japão com uma bandeira comunista?
Como o mundo vai saber dessas coisas se a nossa mídia esconde a verdade, transformando o Brasil numa grande prisão política, dentro da qual ela tenta – com ajuda dos generosos cofres do governo – manter um controle estrito da informação?
A história por trás da demissão do ministro da Cultura, Marcelo Calero, não é digna da pior república de bananas!
Geddel Vieira Lima, ministro que integra o núcleo duro do governo Temer, pressionou Calero para liberar uma obra em Salvador porque tinha um apartamento nela. “E eu, como é que fico”, afirmou um ministro de Estado para outro ministro, o da Cultura, o “inocente” Calero, cuja vaidade o levou para o meio do lamaçal.
Calero se demitiu por medo e perplexidade. Medo de ser preso se continuasse atendendo as ligações desavergonhadas de Geddel e perplexo de que um ministro fosse tão descaradamente corrupto.
Uma falta de vergonha inacreditável!
O Jornal Nacional vai dar dez minutos para essa história, ou vai continuar blindando o governo mais corrupto, mais incompetente, mais ilegítimo da república?
Claro que vai continuar blindando, afinal é o governo da Globo!
Que o digam os jornalistas que participaram da entrevista no Alvorada, para a TV Cultura, que ofereceram o espetáculo mais grotesco de puxação de saco da história da imprensa mundial.
E agora, Roberto Freire, o mais agressivo, o mais raivoso de todos os políticos, assume o ministério da Cultura! Ainda tentam dizer que não é golpe? Os brasileiros votaram para ter um ministro da Cultura decente, não uma besta fera reacionária e truculenta como Roberto Freire!
A escória da escória assaltou o Planalto.
O procurador da Lava Jato, Dallagnol, participa de evento ao lado de Pedro Parente, o presidente entreguista da Petrobrás, para anunciar que a operação está devolvendo 200 milhões de reais à estatal. Ora, 200 milhões de reais a Petrobrás tira do fundo do mar em doze horas, considerando a cotação atual do barril de petróleo, uma das mais baixas em décadas.
Como calcular o estrago provocado pela Lava Jato, quebrando quase toda a cadeia nacional de petróleo e gás, destruindo programas de pesquisa, devastando o setor de engenharia e construção pesada, matando a indústria naval, além de subsidiar um golpe que entregou nosso pré-sal aos abutres estrangeiros?
Centenas de bilhões, trilhões de reais?
Não adianta agora prender Garotinho, Sergio Cabral, o raio que o parta. Pode prender todos os políticos, sem sentença, apenas com base em despachos cheios de frases de efeito, para aparecerem na capa da Veja.
Pode prender até uns tucanos.
Nada disso serve para justificar tanta destruição: da economia, do emprego, da democracia, do sonho de um país soberano!
A Lava Jato bancou, com verba pública, a viagem de procuradores aos Estados Unidos, para entregar ao Departamento de Estado americano informações contra a Petrobrás, e pedir mais dados para destruir a estatal.
O que poderá justificar o arbítrio de delações incrivelmente desonestas, obtidas à força de chantagens, ameaças e tortura?
A mudança na delação de Otavio Azevedo, da Andrade Gutierrez, não é um escárnio? Manchetes e manchetes com o delator afirmando que deu propina à campanha de Dilma e aí, quando Dilma mostra que o cheque foi nominal a Temer, ele muda a versão e diz que não foi propina?
Que palhaçada é essa?
E todas aquelas manchetes contra o PT e contra Dilma, o que a Lava Jato fará com elas? Como pagará pelo dano à democracia, de ter levado ao poder um punhado de bandidos?
A impressão é que se a cúpula do PCC assumisse o comando do Executivo, do Judiciário, do MP, do STF e da Petrobrás, da imprensa corporativa, não seria tão nociva ao Brasil.
A economia derrete numa velocidade atordoante, ao som das trombetas das falsas notícias, de uma mídia subitamente interessada em vender um otimismo ridículo e impossível.
No Congresso, os políticos têm pressa para aprovar leis que destroem o sonho democrático de 1988. As tais 10 medidas contra a corrupção, propostas pelo MP, destroem as liberdades individuais. A PEC 55 destroi as liberdades coletivas.
Enquanto saqueiam o Brasil, tratam de perseguir Lula, a única liderança capaz de promover um diálogo entre as diferentes classes, construindo um novo pacto de convivência, única maneira de sairmos pacificamente do atoleiro em que o golpe nos lançou.
Moreira Franco, saído das catacumbas mal cheirosas da política fluminense, viaja o mundo como mascate do patrimônio nacional. É coordenador do Projeto Crescer, que pretende vender, em 2017, dezenas de estatais de saneamento, de água, aeroportos, portos. Tudo a preço de banana e financiado com dinheiro público. Ou seja, chineses, americanos, europeus, poderão comprar o Brasil na bacia das almas sem botar um tostão do próprio bolso. Nós é que vamos financiar tudo, como fizemos na privataria tucana.
Os golpistas, com apoio da mídia, não tem projetos além da entrega do nosso patrimônio, da nossa soberania, da nossa democracia, de tudo que conquistamos desde 1988.
Não se oferece mais esperança ao povo, apenas sacrifício, arrocho, miséria, violência e desemprego. O combate espetaculoso e midiático à corrupção serve para abafar a leniência com a evasão fiscal, esta sim, que sangra os cofres públicos em mais de R$ 600 bilhões ao ano. Ou seja, em dez anos, R$ 6 trilhões escorrem pelo ralo da sonegação praticada pelas grandes empresas. Neste assunto, ninguém toca, sobretudo a imprensa, ela mesmo líder em sonegação.
Os juros pagos à banca vampira não tem paralelo no mundo, viciando o capitalismo nacional num dinheiro fácil, rápido, seguro. Para que grandes obras? Para que pré-sal? Para que gastar com educação e saúde? Para que construir refinarias? Para que contratar mão-de-obra? É muito mais fácil adquirir títulos do governo e receber os maiores juros do planeta.
A sublevação do país, a desobediência civil, a revolta, a insurgência, a resistência democrática, são a única luz, a única esperança que nos move.
A população sabe disso. Por isso as universidades federais estão quase todas ocupadas. Até mesmo algumas privadas, como as PUCs de Minas e Rio.
Milhares de escolas se sublevam contra as iniciativas golpistas do governo, que atingem diretamente a educação pública, humilhando professor e alunos com leis autoritárias e estúpidas.
A luta para devolver o Brasil ao bom senso vai durar ainda um tempo.