Por Tadeu Porto*, colunista do Cafezinho
MACHADO – Rapaz, a solução mais fácil era botar o Michel [Temer].
JUCÁ – Só o Renan [Calheiros] que está contra essa porra. ‘Porque não gosta do Michel, porque o Michel é Eduardo Cunha‘. Gente, esquece o Eduardo Cunha, o Eduardo Cunha está morto, porra.
MACHADO – É um acordo, botar o Michel, num grande acordo nacional.
JUCÁ – Com o Supremo, com tudo.
MACHADO – Com tudo, aí parava tudo.
JUCÁ – É. Delimitava onde está, pronto.
O Brasil está careca de saber que Romero Jucá escancarou o golpe em sua conversa com o ex-presidente da Transpetro, Sérgio Machado.
Em qualquer discussão decente e sensata sobre o impeachment (que nossa mídia tradicional não faz, obviamente) é impossível deixar de lado as referências a essas palavras do líder do governo no congresso, afinal, elas descrevem de maneira muito clara que o afastamento da presidenta foi fruto de um grande pacto nacional para estancar a sangria da Lava-Jato.
Todavia, não obstante à todo alcance que teve o diálogo entre Machado e Jucá, existe uma parte que é pouco destacada, apesar de ser extremamente importante: no entendimento do senador, toda a classe política será pega pela Lava-Jato, inclusive os tucanos cujas “fichas caíram agora”.
Nesse raciocínio, o ex-ministro prevê um futuro muito pouco animador, no qual Ministério Público, Polícia Federal e judiciário querem “acabar com a classe política para ressurgir, construir uma nova casta, pura, que não tem a ver com…”
Bom, é fácil considerar que Jucá fez previsões verdadeiras em sua conversa com Machado, haja vista que os fatos estão se concretizando bem, como frisou o ótimo Xico Sá: o golpe colocou Temer no poder, Mendes demonstra em seus atos está a par do pacto, o aparato militar nacional trabalha violentamente para coibir as manifestações dos movimentos sociais e o boi de piranha – Cunha – foi lançado ao rio.
Vale ressaltar, ainda, que a operação LJ deu um passo importante e ousado em suas ações prendendo o todo poderoso ex-governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, que tinha tudo para ser o principal nome do PMDB – partido do atual presidente da república – para as candidaturas de 2018. Ademais, a polícia federal avança sobre importantes atores políticos no momento: como Anthony Garotinho com a Operação Chequinho e o governador mineiro Fernando Pimentel com a Operação Acrônimo.
Ou seja, o aparato judicial do país demonstra que pode romper com a velha prática de se bater apenas no PT e isso não necessariamente trará mais justiça ao pais.
Por exemplo, se a Lava-Jato avançar mesmo da maneira que Jucá detalhou, para destruir a classe política nacional, os principais nomes para assumir o papel de “nova casta”, imediatamente recaem em pessoas como Sérgio Moro, Dalton Dallagnol e Jair Bolsonaro.
Reparem bem: um juiz sem escrúpulos e dono de práticas medievais de julgamento; um fundamentalista que usa o cargo no MP para fazer política (promove as 10 medidas como panaceia) e Bolsonaro dispensam apresentações.
Três nomes, entre muitos que podem surgir, que flertam intensamente com a onda fascista que se fortalece no Brasil e no mundo.
Portanto, se Jucá continuar cumprindo seu papel de Mãe Diná e acertando suas previsões compartilhada com Machado, jovens como eu – que nasceram depois dos anos de chumbo – podem se preparar para, enfim, conhecer de perto o que é uma ditadura.
Soltaram no meio da rua a cadela do fascismo, que é conhecida por estar eternamente no cio. O que já é péssimo com o golpe, pode piorar ainda mais.
Tadeu Porto é diretor do Sindicato dos Petroleiros do Norte Fluminense