por Cláudio Oliveira da Costa, colunista do Cafezinho
A auditoria externa tem como finalidade a comprovação da veracidade dos registros contábeis.
Trabalhando de forma independente, sem nenhum vínculo empregatício, o auditor externo concentra seu esforço no trabalho de verificação detalhada da situação patrimonial e financeira das empresas.
Este trabalho é de fundamental importância para os acionistas, os investidores e os parceiros das empresas pois é a segurança da não existência de manipulação ou fraude nos números apresentados.
Sendo assim o profissional ou a empresa de auditoria externa, tem de ser dotado de reconhecido conhecimento técnico, conforme estabelece o Conselho Federal de Contabilidade.
Na Petrobras até 2011 a auditoria externa era feita pela empresa KPMG e a partir de 2012 pela PricewaterhouseCoopers Estas duas empresas juntamente com a Ernst&Young e a Deloitte formam o grupo chamado de “Big Four”, por serem as quatro maiores empresas multinacionais do setor.
De 2010 a 2013 a Petrobras registrou elevados lucros e teve seus balanços aprovados, sem ressalvas, pelas auditoras. Distribuiu muitos dividendos aos acionistas e participação aos empregados.
Em 2014, com o surgimento da Lava Jato, a Price exigiu modificações no balanço para assinar a auditoria. A então presidente Graça Foster chegou a informar à imprensa que o ajuste seria de R$ 88 bilhões, enquanto o mercado acreditava que o valor não deveria ultrapassar R$ 20 bilhões. Finalmente chegaram ao valor “mágico” de R$ 44 bilhões, exatamente a metade do valor inicial. Além disto registraram também o valor de R$ 6 bilhões a título de “propinas”, calculado em 3% sobre um valor de R$ 200 bilhões de contratos. Simples assim, foi feito um “impairment” total de R$ 50 bilhões
E vejam que a Price havia auditado os balanços de 2012 e 2013, sem detectar nada. Nem as famigeradas Refinarias Premium do nordeste, cujos problemas já tinham sido muitas vezes levantados pelos próprios funcionários da Petrobras, em diversos relatórios.
Em 2015 um novo motivo foi apresentado : a correção das reservas de petróleo devido a queda no preço do barril, que gerou um “impairment” de R$ 33 bilhões. Na Petrobras 75% das receitas não tem vínculo com o preço do barril. Outras grandes petroleiras, que tem 100% de suas receitas vinculadas ao preço do barril, não fizeram este tipo de ajuste. As que fizeram foi em valores mínimos. Tudo muito estranho.
Além disso, em 2015, ativos que já tinham tido seus valores reduzidos em 2014 (Comperj, Renest, Suape etc) foram novamente desvalorizados. Tudo somado resultou em novo “impairment” de R$ 50 bilhões.
Em função disto, dos 5 membros do Conselho Fiscal da Petrobras, 2 não assinaram o balanço, que foi aprovado por maioria (3×2).
Agora em 2016, surpreendendo todos os especialistas, surge um novo “impairment”, afetando novamente os mesmos ativos (Comperj, Renest, Suape).
“Impairment” de ativos nas empresas são raros, não ocorrem com frequência. Agora, fazer “impairment” nos mesmos ativos por 3 anos consecutivos é inimaginável.
Será que a Pricewaterhouse está usando metodologias inadequadas nas suas avaliações? Como ficam os acionistas?
Ativos como da Comperj e da Usina de Quixada, tiveram seus valores recuperáveis reduzidos a 0 (zero). Ou seja, podem ser vendidos por R$ 1,00 que vão gerar lucro. Muito conveniente para a direção da Petrobras, que acaba de vender os ativos na Argentina com prejuízo.
Lembro ainda, que as “Big Four” (KPMG,Ernst,Price e Deloitte) não são santas e já estiveram envolvidas em muitas falcatruas mundo afora. Um exemplo recente é o escândalo financeiro descoberto em 2014 ao qual foi dado o nome de Luxemburgo Leaks. Com o apoio das “Big Four”, grandes empresas transacionais (384 no total) evitaram o pagamento de impostos, através de um artifício chamado elisão fiscal. O processo está em andamento e envolve empresas brasileiras.
Cláudio da Costa Oliveira é Economista aposentado da Petrobras