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Cresce a pressão e a imprensa aposta na confusão

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Espiando o poder: análise diária da grande imprensa

Foto: Antonio Lacerda/EFE

por Luis Edmundo Araujo, colunista do Cafezinho

A invasão ao plenário da Câmara dos Deputados por um grupo de extrema direita pedindo intervenção militar e os protestos de servidores em frente à Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj) são, basicamente, a mesma coisa. É o que o Globo tenta dar a entender na edição de hoje com a manchete “ataques ao Legislativo”, que ocupa quase toda a primeira página. No subtítulo o jornal diz que “manifestantes invadem Câmara e tentam entrar na Assembleia do Rio”, marcando a primeira das muitas diferenças entre os dois atos. Os servidores do Rio protestavam contra o pacote que joga em cima deles a conta da falência do estado. Os manifestantes de direita levantavam a bandeira genérica contra a corrupção e gritavam pelo juiz Sergio Moro, o que o jornal carioca não revelou na capa, só no décimo primeiro parágrafo da matéria de dentro. Nenhum deles levou gás de pimenta na cara como a senhora da foto aí em cima, que serve de ilustração para o jornal inglês The Guardian destacar no título aquilo que para a imprensa brasileira se perde em meio à turbulência generalizada do golpe em marcha. Ex-governadores são presos, ministros discutem em plena sessão do Supremo Tribunal Federal (STF) e o Globo reforça a confusão entre protestos da extrema direita e de servidores no editorial com chamada na capa a condenar “o caráter autoritário dos ataques ao Legislativo”.

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“Brazil police use pepper spray at austerity protest outside Rio parliament”, informa o The Guardian, no título da matéria na página inicial do site, embaixo. O jornal britânico relaciona o caos do Rio de Janeiro com os recentes Jogos Olímpicos ao dizer, logo no subtítulo, que os manifestantes derrubaram barreiras do lado de fora da Alerj, onde “os legisladores debatiam caminhos para lidar com a crise fiscal pós-Olimpíada que atrasou o pagamento dos servidores do estado”. No pé da matéria, o Guardian informa sobre o protesto dessa outra imagem aí de cima, de Luis Macedo, fotógrafo da Câmara, que a Folha de São Paulo publica na capa.

“Grupo invade a Câmara em ato pró-intervenção militar no país”, diz a chamada do jornal paulista ao lado da foto, que vai bem embaixo de outra, do mesmo tamanho, a mostrar um manifestante tentando interromper, sozinho, o avanço da parede de cinco ou seis escudos dos policiais do Batalhão de Choque do Rio de Janeiro. Se cola uma foto sobre a outra, a Folha não faz como o Globo e separa os dois atos na capa. A invasão à Câmara fica na chamada lateral, enquanto as manifestações em frente à Alerj ganham manchete em que “protesto contra arrocho no RJ acaba em confronto”.

O Estado de São Paulo mostra embaixo uma foto da mesma sequência da que abre este texto, do mesmo Antonio Lacerda, e em cima, bem maior em todas as seis colunas da largura da página, a imagem dos ultrareacionários sobre o palco onde fica a mesa diretora da Câmara, de brações erguidos, alguns de mãos dadas. As duas ganham textos-legendas na capa em que a manchete, bem em cima da foto da invasão à Câmara, avisa que “cresce pressão no Congresso por anistia a caixa 2 e punição a juiz e promotor”.

“O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), acelerou nesta quarta-feira, 16, a tramitação do projeto que modifica a lei de abuso de autoridade. De acordo com calendário negociado em reunião de líderes da Casa, a proposta será votada diretamente em plenário no dia 6 de dezembro”, informa o Estadão. “Entidades ligadas ao Judiciário e ao Ministério Público acreditam que o projeto é uma ameaça à Operação Lava Jato, que tem o presidente do Senado como um dos investigados”, continua a matéria, a mostrar mais um capítulo da disputa entre os Poderes Legislativo e Judiciário. E em outra chamada de capa, o jornal informa que “bate-boca de Lewandowski e Gilmar marca sessão de STF”.

A Folha também destaca na primeira página o assunto que o Globo publica só lá dentro, na matéria informando, logo na abertura, que “a sessão do plenário do Supremo Tribunal Federal ganhou ontem ares de confronto aberto. De um lado o ex-presidente do STF Ricardo Lewandowski. De outro, o atual presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Gilmar Mendes”. Segundo o jornal, “o bate-boca começou quando Gilmar chamou de ‘absurda’ e ‘heterodoxa’ a forma de atuar do colega. A referência foi ao processo de impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff no Senado, conduzido por Lewandowski”.

O Globo lembrou que “recentemente, Gilmar já havia criticado o fato de os senadores terem sido autorizados a realizar uma votação ‘fatiada’ — ou seja, tirando o mandato de Dilma, mas permitindo que ela ocupe outros cargos públicos.” Os ministros julgavam a legalidade de contribuição previdenciária sobre gratificações temporárias. “Mesmo já tendo votado, Gilmar pediu vista do processo, adiando a conclusão do julgamento. Lewandowski não gostou, pois já havia votos suficientes para proclamar o resultado”, diz a matéria do Globo, que reproduziu a seguinte discussão entre os ministros.

“‘Vossa Excelência fez coisa mais heterodoxa. Basta ver o que Vossa Excelência fez no Senado’, acusou Gilmar. ‘No Senado? Basta ver o que Vossa Excelência faz diariamente nos jornais. É uma atitude absolutamente, ao meu ver, incompatível com…’, revidou Lewandowski. ‘Faço isso inclusive para poder reparar os absurdos que Vossa Excelência faz’, atacou, novamente, Gilmar. ‘Absurdos, não. Vossa Excelência retire o que disse, porque isso não existe, Vossa Excelência está faltando com o decoro não é de hoje. E eu repilo qualquer… Vossa Excelência por favor me esqueça! — disse, nervoso, Lewandowski”.

Ainda segundo o Globo, a presidente do STF “Cármen Lúcia retomou a sessão sem comentar a discussão, como se nada de diferente tivesse acontecido. Ela chamou o próximo processo a ser julgado, para tentar amenizar a situação”. E tudo isso, no jornal carioca, foi publicado embaixo da matéria em que “Três ministros recebem vencimentos acima do teto”, de acordo com o título da matéria informando que Geddel Vieira Lima (da Secretaria de Governo), Eliseu Padilha (da Casa Civil) e Osmar Terra (do Desenvolvimento Social e Agrário) “acumulam salários com aposentadorias”.

A notícia é mais um problema para o PMDB de Michel Temer, que tem que lidar agora com a prisão do ex-governador Sergio Cabral, ocorrida na manhã desta quinta-feira e por isso fora das edições de hoje dos jornais, que mostram, todas, outra prisão de outro ex-governador do Rio de Janeiro. “Garotinho, ex-governador do Rio, é preso em operação da PF”, diz a Folha na chamada do alto da capa, bem ao lado da manchete. Na chamada do Globo, “Garotinho liderou compra de votos”. “De Campos para Bangu” é o título da matéria na página 3, que no subtítulo afirma que o “uso do Cheque Cidadão em compra de votos leva Garotinho à prisão, dez anos após 1ª sentença”.

O Globo informa ainda que na decisão que justificou a prisão do ex-governador, “o juiz Glaucenir Silva de Oliveira, da 100ª Zona Eleitoral, afirma que há provas que demonstram que Garotinho ‘efetivamente não só está envolvido, mas comanda com ‘mão de ferro’ um verdadeiro esquema de corrupção eleitoral’ em Campos, no Norte Fluminense, que se destinava a comprar votos por meio do Cheque Cidadão. A cidade é governada por Rosinha, e Garotinho é o secretário municipal de Governo.”

A acusação contra Cabral é mais grave, já que ele foi preso por cobrar propina de 5% em obras públicas e provocar um prejuízo de R$ 224 milhões ao governo estadual, segundo o Ministério Público. Um prejuízo e tanto que, junto com as dezenas ou centenas de bilhões em incentivos fiscais, a depender do ponto de vista, acarretou a crise atual do estado que Míriam Leitão coloca na conta da presidenta afastada Dilma Rousseff, na coluna de hoje, sob o título “O cenário Rio”.

“O tempo ficou curto para que os estados evitem, em suas finanças, o cenário do Rio”, afirma a colunista do Globo, dizendo em seguida que “a crise é uma combinação de erros: aumento descontrolado de gastos com pessoal, registro estatístico falho das despesas, uso de empréstimos e de outras receitas atípicas para pagamentos de salários”, e que “a recessão provocada pelo Governo Federal aprofundou o desequilíbrio que aconteceria de qualquer forma”.

“O governo Dilma incentivou esse quadro de descontrole quando deu uma sequência de avais para que os estados se endividassem”, afirma Míriam. E no blog Tijolaço, o jornalista Fernando Brito lembra que “tudo o que se sabe das estrepolias de Sérgio Cabral, sabe-se há tempos. E não há dúvidas que é mais do que o suficiente para torná-lo réu não em uma, mas em várias ações.” Para Brito, “a ‘variável’ que determinou sua prisão, hoje de manhã, é o tempo, o momento”.

E no momento atual de protestos reprimidos com pimenta nos olhos de um lado, e do outro com manifestantes incólumes, invadindo, agredindo e danificando o Parlamento nacional sem serem reprimidos, a “prisão de Sérgio Cabral preocupa Palácio do Planalto e cúpula do PMDB”, como avisa, pelo Twitter, a revista Exame. “Há o temor de que enfraquecimento do partido fragilize o governo”, continua a revista, lembrando ainda que Eduado Cunha também é do PMDB de Temer e cia.

No Globo, no alto de uma página interna, “Governo federal teme que protestos se espalhem pelo país”, diz o título sobre o subtítulo afirmando que “fonte ligada a Temer diz que mobilização no Rio é ‘consistente'”. A matéria vai ao lado da outra em que “repórteres são agredidos durante manifestação”. A foto mostra o repórter Caco Barcellos sendo atingido na cabeça por um cone de trânsito jogado em sua direção, enquanto ele era retirado da manifestação por seguranças. Sob os gritos já conhecidos contra a emissora na qual trabalha, Barcellos ouviu xingamentos e foi chutado enquanto saía do local.

Assim como todos os seus colegas, da grande mídia ou da imprensa alternativa, como ele mesmo, Paulo Nogueira condenou as agressões em texto no Diário do Centro do Mundo (DCM), mas não deixou de lembrar, logo no título, da “responsabilidade da própria Globo na agressão a Caco Barcellos”. “A Globo tem que olhar para o espelho na hora de discutir os motivos da agressão a Caco Barcellos. Qualquer explicação que não inclua o comportamento da própria Globo não merecerá respeito.”

Segundo Nogueira, “a Globo é, hoje, a principal insufladora de ódio do Brasil. Um levantamento feito a pedido do Instituto Lula mostrou que nos últimos meses o Jornal Naciona despejou 13 horas de massacre sobre Lula. Uns esparsos minutos foram neutros. Noticiário positivo: nem um único segundo”, afirma o jornalista que, por fim, questiona: “o que a Globo imagina que vai colher com este tipo de atitude de guerra? Flores, simpatia?”

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Luis Edmundo

Luis Edmundo Araujo é jornalista e mora no Rio de Janeiro desde que nasceu, em 1972. Foi repórter do jornal O Fluminense, do Jornal do Brasil e das finadas revistas Incrível e Istoé Gente. No Jornal do Commercio, foi editor por 11 anos, até o fim do jornal, em maio de 2016.

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