[s2If !current_user_can(access_s2member_level1) OR current_user_can(access_s2member_level1)]
Espiando o poder: análise diária da grande imprensa
Foto: Beto Barata/PR
Por Luis Edmundo Araujo, colunista do Cafezinho
Da esquerda para a direita na foto acima, atrás de Michel Temer, Ricardo Noblat é colunista do Globo, Sérgio D’Ávila é editor-executivo da Folha de São Paulo, Willian Corrêa é âncora da TV Cultura, Aloysio Nunes é o apresentador do programa, João Fábio Caminoto é diretor de jornalismo do Grupo Estado e Eliane Cantanhêde é colunista do jornal Estado de São Paulo. Reunido no Palácio do Alvorada na entrevista com o presidente para o programa Roda Viva, da TV Cultura, o time acima, unido, coeso, deu uma boa mostra de como pensa, como entrevista e como se coloca a grande mídia brasileira diante de Temer. Houve sorrisos, muitos, comentários elogiosos à beleza da primeira-dama e confidências, inclusive, de como começou o namoro do atual presidente com a jovem Marcela. Ao perguntar sobre isso, aliás, o âncora da TV Cultura disse que sabia que Temer era “gente como a gente”. Não houve questionamentos à PEC do Teto dos gastos públicos, por exemplo, e Eliane Cantanhêde ainda vislumbrou o presidente como candidato à reeleição. Querendo saber se o PMDB apoiaria o PSDB ou vice-versa em 2018, a colunista do Estadão disse que o cenário poderia virar com a economia indo bem, com o País voltando os trilhos. E todas as previsões mostram o oposto disso, como na própria capa do Estadão de hoje, onde se consolida a escolha do novo culpado que, claro, não é Temer.
[/s2If]
[s2If !current_user_can(access_s2member_level1)]
Para continuar a ler, você precisa fazer seu login como assinante (no alto à direita). Confira aqui como assinar o blog O Cafezinho.[/s2If]
[s2If current_user_can(access_s2member_level1)]
“Efeito Trump reduz previsão de PIB e de corte de juro”, afirma a manchete do Estadão, no mesmo tom da principal notícia do Valor de ontem, cuja edição, em virtude do feriado, continua nas bancas. Por isso vale mais ainda o comentário de Fernando Brito, do Tijolaço, publicado ontem, antes dessa manchete do diário paulista. “Diz-se que ‘a herança estatística (o ‘carry over’)’ de 2016 para 2017 será pior, caindo de -0,2% para -0,8%. Isso significa que, se o PIB do ano que vem não crescer nada em relação ao nível do fim deste ano, a economia encolherá 0,8% em 2017. E o desemprego, em meados de 2017, indo a 13%. Para tudo, porém, já temos um candidato para substituir Dilma como responsável pela crise… o Trump!”
O Estadão diz que “o menor crescimento da economia brasileira em 2017, já tratado como realidade pela equipe econômica, deve reduzir em pelo menos R$ 7 bilhões as receitas da União no ano que vem”, mas nada com relação a isso foi perguntado ao presidente no Roda Viva. Não havia dúvidas sobre o que fazer na economia entre os entrevistadores, que comungam, todos, talvez por coincidência, da opinião de seus patrões. Temer foi questionado, sim, sobre duas citações de seu nome em investigações da operação Lava Jato, mas isso também não mereceu o título nas matérias dos três jornais representados na entrevista.
“Temer diz que enviará reforma neste ano”, afirma a Folha hoje na edição impressa, sofre as mudanças na Previdência, enquanto o Globo puxa pelo mesmo assunto do Estadão no título, ao dizer que “Temer afirma que eventual prisão de Lula poderá causar instabilidade”. Segundo o Globo, “Temer afirmou que uma doação de R$ 10 milhões feita pela Odebrecht destinava-se ao Diretório Nacional do PMDB, o que pode ser comprovado pela prestação de contas, segundo ele”
O presidente confirmou ainda, segundo o jornal carioca, “que o partido também foi o destinatário de um cheque de R$ 1 milhão da Andrade Gutierrez, investigado no processo do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que avalia as contas da chapa de Dilma Rousseff, da qual fazia parte, em 2014.” Como em todas as respostas ao time do Roda Viva, Temer falou isso mexendo as mãos sem parar, segurando, apontado e esfregando uma na outra, na tentativa, quem sabe, de disfarçar o levíssimo, quase imperceptível tremor delas.
Apesar de reiterar que procurava não se meter em assuntos dos outros Poderes, ao ser questionado sobre temas como o projeto de anista ao Caixa 2 e a tentativa de Rodrigo Maia de disputar a reeleição na Presidência da Câmara, o presidente vai agir, como mostra a coluna de Natuza Nery na Folha. “Juntos chegaremos lá” é o título da nota, a informar que “depois do jantar com senadores nesta quarta (16), Michel Temer fará rodadas de conversas com os ministros do Tribunal de Contas da União, do Supremo Tribunal Federal e com o procurador-geral da República, Rodrigo Janoto.”
Ainda segundo a nota, o presidente “pedirá mais sintonia entre os Poderes para enfrentar a crise e preparar o terreno para 2017”. É o mesmo que pede o editorial principal do Globo de hoje, sob o titulo afirmando que “Legislativo e Judiciário são corresponsáveis pela crise”. “Líderes dos três poderes têm o dever de unir esforços para construir, juntos, uma saída emergencial para o estado. Cortar na própria carne é bom começo”, diz o jornal.
Só o Estadão deu na primeira página a notícia de que “relator desiste de punir magistrados”, que no Globo não ganhou espaço na capa mesmo sendo a matéria de abertura da editoria de País, no espaço nobre da página 3. “Pressão e Recuo” é o título da matéria do jornal carioca contando que “procuradores da Operação Lava-Jato e juízes reagiram ontem contra iniciativas do Congresso para tentar limitar seus poderes”.
“Enquanto integrantes do Ministério Público foram reclamar na Câmara dos Deputados das alterações propostas no projeto das dez medidas contra a corrupção, presidentes dos Tribunais de Justiça se reuniram com a presidente do Supremo Tribunal Federal, ministra Cármen Lúcia, e protestaram contra a iniciativa do Senado de criar uma comissão para caçar os supersalários do serviço público”, continua o texto. Na matéria auxiliar, embaixo, o título é “Todo apoio a Renan”.
“O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), ganhou um reforço na empreitada para acabar com os salários que extrapolam o teto constitucional nos três Poderes, iniciativa vista como provocação no Poder Judiciário. O presidente do Tribunal de Contas da União, ministro Aroldo Cedraz, cujo filho é alvo de investigação da Lava-Jato, colocou o órgão à disposição para auxiliar com informações o colegiado do Senado instalado na semana passada para analisar o tema”, informa a matéria. E na sua coluna de hoje do Estadão Eliane Cantanhêde avisa que “Guerra é guerra”.
“Medidas do Senado até fazem sentido, mas não com Renan, não agora”, afirma a colunista, que pergunta se “Renan, alvo de 11 inquéritos, pode capitanear esse debate?”. Segundo Cantanhêde, “na guerra com o Congresso, o Judiciário também tem suas armas, como a pressão crescente para acabar com o foro privilegiado dos políticos, que sobrecarrega o Supremo e é fator de impunidade de políticos.” A colunista do Estadão fala em desejo da “sociedade, cada vez mais bem informada”, para dizer que “um a um, os ministros do STF estão assumindo clara e publicamente a posição contra o privilégio.”
E no Globo, enquanto a “Restrição à TV Justiça é criticada” na primeira página, só lá dentro a matéria principal diz que “em meio às pressões, e depois de um dia inteiro de conversas, os procuradores já conseguiram uma primeira vitória”. “O deputado Onyx Lorenzoni (DEMRS), relator do projeto contra a corrupção, anunciou que vai tirar de seu texto a proposta de tipificar o crime de responsabilidade cometido por integrantes do Ministério Público e por juízes”, informa o texto ilustrado pela foto em que Onyx aparece ao lado do procurador Deltan Dallagnol, coordenador da força-tarefa da Lava-Jato em Curitiba.
No Brasil 247, o jornalista Paulo Moreira Leite afirma, no título de sua coluna que “paranóia ajuda a criar estado de exceção”. “No Brasil de novembro de 2016, a paranoia em circulação se chama ‘ameaça à Lava Jato.’ Sua função é consolidar a Operação como uma justiça de exceção, acima dos pesos e contrapesos que fazem parte das instituições de toda democracia que se preze. O ponto máximo desse esforço consiste no esforço concentrado desses dias para aprovar novas leis contra a corrupção, que incluem propostas absurdas como legalizar provas ilícitas e um teste sobre a formação moral de candidatos ao serviço publico.”
Mais poder para os procuradores, para a Polícia Federal, mais condições de prender sem provas, sem se preocupar com a possibilidade de punição, é o que prevê o pacote de medas contra a corrupção. Com a decisão de Onix, sob a pressão de Dallagnol, a PF continua livre para levantar a investigação que quiser, por mais absurda que ela possa parecer, como a denúncia envolvendo a piscina do Alvorada e Lula, que hoje volta às páginas da Folha mas sem nada de novo, só com a resposta de Gilberto Carvalho, ministro-chefe da Secretaria-geral da Presidência durante o governo Lula.
“Ex-ministro de Lula faz críticas à PF e defende obra em piscina”, diz a chamada de capa para a matéria em que Carvalho tabela com Paulo Moreira Leite ao afirmar que “ao não conseguir reunir provas contra o ex-presidente, a PF ‘faz todo tipo de acusação sem o mínimo de cuidados de verificar os fatos. É uma guerra jurídica, na qual a acusação não é mais importante, mas fazer a desconstrução da pessoa (Lula)'”.
Dê uma nota para o post de hoje (avaliação anônima).[ratings]
[/s2If]