por Fernando Rosa, em seu blog
“O retrocesso com Trump” – trombetou apocalipticamente o jornal O Globo em editorial sobre as eleições norte-americanas. “Mais que surpreendente – porque havia esta possibilidade —, é preocupante para o mundo a vitória de Donald Trump”, vaticinou a família Marinho. A opinião é o atestado da fragorosa derrota que sofreu toda a mídia, nacional e norte-americana.
“Donald Trump foi sujeito à maior e mais violenta campanha de ataques pessoais que alguma vez vi na minha vida”, escreveu Miguel Esteves Cardoso, no jornal Público, de Portugal. Mais do que jornalismo, no Brasil e nos Estados Unidos, a mídia fez campanha publicitária contra Trump. Na reta final, apelou para o terror, com “queda das Bolsas” e “dos Mercados”.
Mesmo assim, o cartel midiático, bem como todo o aparato de pesquisas, viu seu poder de manipulação frustrado pelas urnas. A Globo, por exemplo, deve ter torrado os tubos para mandar William Bonner pagar mico direto de Washington. A indisfarçável frustração dos barões da imprensa ficou explícita, de forma particular, nas caras desoladas dos apresentadores da GloboNews.
Para o cartel midiático, segundo editorial de O Globo, a culpa da derrota é “o avanço de movimentos reacionários contra a globalização”. Grupos que, segundo eles, até agora estariam restritos à parte da Europa, incluindo a Rússia de Putin. Ou seja, culpam os norte-americanos e os demais povos do mundo que defendem a soberania, a economia e os empregos de seus países.
Os mesmos jornais e jornalistas que agora afirmam que a vitória de Trump ameaça a democracia apoiaram abertamente o golpe de Estado no Brasil. Mais, promovem campanhas sistemáticas contra países como a Venezuela, por exemplo, que defendem sua soberania. Ainda, aliaram-se a candidata democrata derrotada, responsável por guerras de destruição contra Nações, a exemplo do Iraque e da Líbia.
Mais do que atacar, apostaram em sufocar o debate democrático sobre temas de interesse da sociedade norte-americana. A começar pela situação de cerca de 5 milhões de trabalhadores que perderam seus empregos devido ao fechamento de 60 mil fábricas, nos últimos 15 anos. Também tentaram esconder as propostas de Trump para a saúde dos idosos, para os sem-teto e para os mais de 70 milhões de pequenos empresários.
No campo internacional, foram ainda mais longe em sua parceria com a indústria bélica, que financia guerras e grupos terroristas. Inutilmente, suprimiram da cobertura eleitoral a proposta de Trump de estabelecer uma aliança com a Russia para combater o EI. Também secundarizaram a posição de Trump de romper com a lógica belicista de sua adversária.
“Não estou competindo contra Hillary Clinton, mas contra os corruptos meios de comunicação”, denunciou o candidato republicano durante a campanha. De fato, todos os grandes veículos alinharam-se aos interesses do neoliberalismo financeiro e da indústria bélica. “Se os repugnantes e corruptos meios de comunicação cobrissem de forma honesta e não deturpassem o que digo, ganharia de Hillary por 20%”, disse Trump.
Mal terminou a campanha, juntaram-se as hostes de George Soros e suas “primaveras” fakes em ataques ao candidato recém-eleito. O machismo de Trump é um crime, mas assassinar centenas de milhares de crianças, jovens e mulheres deve ser coisa natural. Não se trata apenas de “incompreensão” do processo, mas compromisso histórico com a defesa do que tem de pior na face da Terra.
A histeria contra os movimentos anti-globalização é a impressão digital da simbiose da mídia com o capital financeiro. No Brasil, o cartel da mídia já está beirando o ridículo em sua campanha para consolidar o golpe de Estado. Na verdade, mantém sua tradição histórica de apoiar qualquer “silvério dos reis” entreguista a serviço dos interesses externos.
Com a eleição de Trump, não apenas o neoliberalismo financiador, mas também a sua mídia servil saiu enfraquecida. As mentiras diárias, os editoriais de aluguel, as capas terroristas, as campanhas contra a honra perderam valor na bolsa do “jornalismo de guerra”. Até onde der, restou agarrarem-se aos assaltantes dos orçamentos nacionais, aos cofres de Wall Street e ao rentismo explorador e sanguinário.