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Espiando o poder: análise diária da grande imprensa
Por Luis Edmundo Araujo, colunista do Cafezinho
Trump é sinônimo de incertezas, o Rio de Janeiro está à beira da falência, a economia brasileira navega em maré de turbulências e a solução é reprimir, prender mais gente, mais rápido, a pedido do juiz e dos procuradores de Curitiba. “OMC manda Brasil rever incentivos fiscais dados para a indústria”, diz a manchete do Estado e a Folha de São Paulo dá destaque maior na capa ao mesmo assunto, afirmando no subtítulo que “País, que deve recorrer, terá que mudar ou encerrar programas com subsídios”. No Globo, a manchete em tom de Casas Bahia diz que “Estado parcelará salário de outubro em até 7 vezes”. Embaixo o jornal avisa que “anúncio foi feito após Pezão dizer que Rio ‘está ficando ingovernável’”, e não há uma citação sequer na capa, nem no texto da chamada, para a notícia que o jornal publica só lá dentro: “MP cobra R$ 1 bilhão de Cabral e Michelin”. “O órgão quer ressarcimento ao estado de valores de ICMS que deixaram de ser pagos devido à concessão de benefícios fiscais à companhia”, informa a matéria a explicar boa parte das razões para a penúria atual, ainda que a explicação não apareça na primeira página onde Míriam Leitão, envolta pela tropa de colunistas do jornal, diz que “Trump dificulta a recuperação no Brasil”. E no Estadão, Eliane Cantanhêde afirma que o que se busca, na atual salada nacional de indefinições, é justamente um “Trump brasileiro”.
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“Quem achava impossível dar Trump agora corre para saber quem seria o ‘Trump brasileiro'”, diz a colunista do Estadão no texto em que analisa o resultado da eleição nos Estados Unidos fazendo parâmetros com eleições passadas aqui no Brasil. “Em 1985, imprensa e analistas encantaram-se com a candidatura de Fernando Henrique Cardoso para a Prefeitura de São Paulo, mas quem ganhou foi Jânio Quadros, desmentindo as pesquisas. Aliás, FHC era tão “certinho” quanto Hillary, Jânio era tão excêntrico quanto Trump e só se falava de Jânio, como só se falou de Trump. É a propaganda pela repetição: ‘Falem mal, mas falem de mim'”.
Cantanhêde diz ainda que “a eleição de Trump joga ainda mais incertezas no cenário de 2018. Cá, como lá, há uma exaustão com os políticos e ainda há a Lava Jato, 12 milhões de desempregados, inflação e juros altos”, emenda ela, enquanto no Diário do Centro do Mundo (DCM), Paulo Nogueira analisa dois possíveis candidatos, já postos, ao posto: Joaquim Barbosa e Jair Bolsonaro. “Barbosa pode ter vontade, mas dificilmente terá eleitores que sustentem uma candidatura séria”, diz o jornalista, lembrando que, “ao contrário de Trump, ele não tem traquejo midiático.”
Quanto a Bolsonaro, Nogueira afirma que o deputado “tem todos os defeitos de Trump — a fanfarronice de direita, o topete — sem ter nenhum de seus atributos. Para começo de conversa, está ligado ao mundo politico, ao contrário de Trump. É um deputado sem obras”, completa o jornalista, vislumbrando ainda quem, por vias tortas, pode vir a ser o tal Trump brasileiro. “A falta de um Trump brasileiro facilita enormemente o caminho de Lula. Batem, batem e batem na velha jararaca, mas o fato é que ela está mais forte que nunca”.
Por isso é preciso intimidar, reprimir e o Globo informa lá dentro que o “Supremo confirma prisão para condenado em segunda instância”. No subtítulo o jornal diz que “Suprema Corte voltou ao tema diante de dúvidas sobre repercussão geral”, e na matéria afirma que “réus deverão ser presos depois de condenados por um tribunal de segunda instância, sem o direito de recorrer em liberdade até que sejam julgados todos os recursos possíveis”. A decisão confirmou julgamento realizado em outubro e reafirmou que o tema tem “repercussão geral — ou seja, a regra precisa ser aplicada por juízes de todo o país.”
Continua aberto, portanto, o caminho para que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, por exemplo, seja preso após ser condenado pelo juiz Sérgio Moro e por um desembargador do Tribunal Regional Federal da 4a Região (TRF-4). E como não poderia deixar de ser, Merval Pereira elogia a decisão. “Golpe na corrupção” é o título do texto em que o colunista começa dizendo que “o ministro Teori Zavascki tomou a dianteira mais uma vez para garantir a eficácia de uma decisão fundamental do Supremo Tribunal Federal, que dava margem a incertezas”.
“A confirmação da possibilidade de prisão de condenado em segunda instância evita os recursos protelatórios e torna mais eficaz o combate à corrupção”, sentencia Merval, com toda a generalização dos leigos. Em seguida ele lembra que “essa medida, aliás, é uma das dez propostas dos procuradores de Curitiba para o combate à corrupção e deve ser referendada pelos parlamentares no conjunto de novas leis que serão aprovadas ainda este ano”.
“Os juízes continuam com liberdade para analisar situações excepcionais e, até mesmo, mandar para prisão alguém extremamente perigoso condenado em primeira instância”, continua Merval, e em Minas Gerais continua forte a ofensiva contra o governador do estado, do PT. “Pimentel é denunciado pela segunda vez na Acrônimo”, diz a Folha de São Paulo. O governador de Minas Gerais, Fernando Pimentel, conseguiu uma vitória na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Assembleia Legislativa do estado, que não deu o aval para que ele fosse processado no exercício do cargo. A decisão final cabe ao plenário, mas esse não é o destaque da matéria.
“Governador de Minas é acusado de corrupção passiva pela Procuradoria”, diz o subtítulo da matéria, que nos dois últimos parágrafos, embaixo do entretítulo “outro lado”, vem com “o advogado de Pimentel, Eugênio Pacelli, afirmou em nota que a nova denúncia “consegue ser mais frágil que a anterior”, e “foi feita com base exclusivamente em depoimento de colaborador, não se apoiando em nenhum meio de prova admitido pela Justiça”. Uma praxe, em tempos de Lava Jato, mas só para um lado, como dá a entender a matéria logo abaixo, na mesma página interna da Folha, em que a “Justiça nega denúncia de abuso de poder contra Alckmin e Doria”.
“Para juiz, não houve uso da máquina estadual em nomeação”, diz o subtítulo, e o governador Geraldo Alckmin e o prefeito eleito João Doria, ambos do PSDB, não precisam mais se preocupar com isso. A inimputabilidade informal do tucanato é uma das poucas certezas, hoje, nesse Brasil em que, como avisa o título da coluna de Míriam Leitão, há “incerteza na economia”. “Ativos no mundo inteiro oscilaram fortemente nos últimos dias porque realmente a eleição de Trump representa uma combinação de incertezas para a economia”, diz a colunista.
Míriam afirma ainda que “uma alta de 10% do dólar tem impacto de 0,5 ponto na nossa inflação”, e que “a disparada dos últimos dias já fez com que alguns economistas começassem a rever o cenário para a queda dos juros no Brasil”. “A perda abrupta de valor da moeda tem várias consequências diretas, como elevação da inflação”, continua a colunista, que ressaltou ainda que “desde a eleição de Trump, o dólar saltou de R$ 3,20 para R$ 3,43” e “ontem, chegou a encostar em R$ 3,50, mas recuou depois que o Banco Central vendeu cerca de US$ 1 bilhão no mercado futuro”.
No Tijolaço, o jornalista Fernando Brito lembrou que “noutros tempos, a disparada do dólar estaria o dia inteiro como manchete”, o que de fato não vem ocorrendo com essa alta de agora. A Folha não deu nada sobre o assunto na primeira página, assim como o Globo, que deu chamada para a manchete da concorrente paulistana, mas do dólar não falou nada. “A Organização Mundial do Comércio condenou, em decisão preliminar, incentivos dados, no governo Dilma, a setores da indústria”, informa o jornal carioca.
O governo diz que vai recorrer da decisão, mas para Fernando Brito não passa de jogo de cena, Segundo ele, se o governo “recorrer, será para cumprir tabela. Primeiro, porque na sua ‘grandeza’ mental, a política não é do Brasil, é ‘dela, a maldita’. Segundo, porque esta política exige graus de conteúdo nacional que as empresas do setor automotivo, siderúrgico e de informática possam se habilitar aos benefícios fiscais e este governo se lixa para o conteúdo nacional e está avido por cortar todos os subsídios que lhe tirem algum da receita. E dane-se que seja vinculado à exportação e que preveja uma etapa de produção nacional que, assim como o conteúdo gera compras, gere emprego aqui”.
E assim ficamos no reino da grande imprensa em que tudo, inclusive a eleição de Trump, justifica as reformas, como prega o editorial de hoje da Folha, sob o título “Ainda mais urgência”. “Turbulências financeiras que se sucedem à vitória de Trump diminuem margem de manobra de economias frágeis, como a do Brasil”, afirma o jornal no texto, para concluir que “adotar mudanças por aqui era urgente; tornou-se urgentíssimo”.
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