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A vitória de Trump e o alerta de ‘Ele Está de Volta’

(Oliver Masucci no papel de Hitler em ‘Ele Está de Volta’) Por Pedro Breier, correspondente policial do Cafezinho O filme alemão Ele Está de Volta (2015), adaptação de um livro de mesmo nome, imagina o que aconteceria se Hitler fosse teletransportado diretamente dos seus últimos momentos em seu bunker, em 1945, para a Berlim do […]

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(Oliver Masucci no papel de Hitler em ‘Ele Está de Volta’)

Por Pedro Breier, correspondente policial do Cafezinho

O filme alemão Ele Está de Volta (2015), adaptação de um livro de mesmo nome, imagina o que aconteceria se Hitler fosse teletransportado diretamente dos seus últimos momentos em seu bunker, em 1945, para a Berlim do ano de 2014.

O filme mescla ficção com realidade, ao colocar os atores para interagir com pessoas aleatórias nas ruas.

As cenas de ficção são muito inteligentes – fiquei com a sensação de que se Hitler realmente fosse teletransportado para o nosso tempo agiria exatamente da forma que o filme mostra – e engraçadíssimas, mas o resultado da interação do falso Hitler com o público é assustador. Do blog Cinegnose:

Agora, essa é a parte assustadora: surpreendidos com uma réplica perfeita de Hitler em seu quepe e uniforme, as pessoas desandam a tirar selfies com o “comediante” e a confidenciar para ele a bagunça que está o país com os estrangeiros e a invasão de refugiados. Muitos deitam a falar mal dos políticos e da democracia e clamam por alguém que “faça a coisa certa”.
Lembrando o filme Borat de Sacha Cohen, o filme mistura ficção e realidade, atores com anônimos das ruas, e humor com Hitler numa combinação politicamente incorreta. Cada cena do filme parece provar que a Alemanha de Angela Merkel (“uma mulher robusta com o carisma de uma macarrão molhado”, fala a certa altura o impagável Hitler), da crise econômica do Euro e da austeridade estaria pronta para receber um novo Hitler de braços abertos.
E o que é pior: tal como no século passado, todos o veem como um palhaço inofensivo, como uma caricatura de todos os Hitlers encenados pelo cinema, enquanto o verdadeiro Hitler ressuscitado trama a volta ao poder através da TV, seguindo passo a passo as teses do seu livro Mein Kampf.
(…)
Uma mulher confessa a Hitler que todos os problemas da Alemanha estão com a chegada de estrangeiros. Outro homem diz que a chegada de imigrantes africanos está rebaixando o QI do alemão em 20%. E em uma cena particularmente preocupante, Hitler facilmente convence um grupo de torcedores de futebol a atacar um ator que fazia comentários anti-alemães. Para o diretor, a produção não esperava que o Hitler de Masucci convencesse tão rapidamente aquele grupo, colocando em risco a vida do ator e obrigando técnicos e câmeras intervirem imediatamente.
(…)
Para o diretor David Wnendt “foi notável a facilidade como pessoais normais expressavam suas opiniões diante de um homem vestido de Hitler. O preocupante é que essas opiniões não partiam de neonazistas, mas de pessoas normais, de classe média”.
A certa altura do filme Hitler sentencia: “Não podem se desfazer de mim, eu faço parte de todos vocês!”.

O nazismo e o fascismo ascenderam em um contexto de crise econômica.

As respostas simplistas para problemas complexos, com o apontamento de inimigos que seriam a causa de todos os males – antes os judeus, agora os imigrantes – seduzem milhões de pessoas desiludidas com o sistema e que veem suas condições de vida piorarem ano a ano.

Passa por aí a explicação para o fato de pessoas aparentemente normais sentirem-se à vontade para vomitar xenofobia e racismo em uma animada conversa com alguém vestido de Hitler.

E passa por aí também a explicação para a ascensão de políticos com discurso abertamente fascista, como Bolsonaro, aqui no Brasil, e Trump, nos EUA, o novo presidente da nação mais poderosa do mundo.

As pessoas querem respostas práticas, fáceis e rápidas para a deterioração das suas condições de vida, intensificada em praticamente todo o mundo após a crise de 2008.

Sobre a vitória de Trump, Rafael Castilho, sociólogo da FESPSP, Pós-Graduado em Política e Relações Internacionais e em Gestão Pública pela FESPSP, escreveu em seu Facebook que

Trata-se apenas de testemunhar (ou não) a capacidade do Trump de romper o sequestro dos mercados sobre o Estado e o sistema político. Se não fizer isso não vai poder cumprir nenhuma de suas escatologias verbais.
Caso ele não consiga, não vai ser muito diferente do que ocorreu com os partidos da esquerda democrática eleitos na Europa que saíram menores do que entraram. Ele pode terminar inclusive como uma espécie de “Hollande da direita”.

De qualquer forma, o ambiente que precedeu a ascensão do fascismo e do nazismo era muito parecido com o atual momento. Não quer dizer que necessariamente vai acontecer de novo, mas o risco é real.

No final de Ele Está de Volta são mostradas várias cenas reais e atuais de intolerância.

Após essas cenas, o Hitler teletransportado comenta: “Este é um bom material de trabalho”.

Assustador.

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Pedro Breier

Pedro Breier nasceu no Rio Grande do Sul e hoje vive em São Paulo. É formado em direito e escreve sobre política n'O Cafezinho desde 2016.

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Comentários

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Igor Gonçalves De Macedo

09/11/2016 - 21h59

Tranquilizo o Pedro e os leitores (interessados no assunto). Trump simplesmente manipulou a caipirada estadunidense, tão idiota quanto a nossa, mas bem menos dissimulada e covarde – e muito mobilizada politicamente, sempre, devido à sua veia puritana e calvinista. Uma constante da história de vida dele, como todo bom pilantra, é ser uma gosma moldável. O Establishment não deverá ter problemas em enquadrá-lo : tem mil rabos presos, de sonegação a estupros. E, ao contrário de Hitler (creio essa ter sido sua ùnica qualidade), ele é um covarde de marca maior. Quase tanto quanto um Bolsonaro da vida

Ou seja, mais do mesmo. Os caipiras que se meterem a besta vão ser presos como foram no Oregon – e, como sempre, as minorias que se “meterem a besta” (queiram ser tratadas como gente), levarão bala e tortura da polícia

Gr K

09/11/2016 - 21h53

Não sabemos cuidar nem do nosso quintal e ficamos comentando o Jardim do vizinho. Macacada F D P

    Junior

    11/11/2016 - 08h34

    O problema é que as ervas daninhas do quintal desse vizinho interfere no quintal de toda vizinhança
    O único macaco aqui é você que se acha macaco

Gr K

09/11/2016 - 21h51

A cidade está um caos hoje. E só se fala do Trump.
Macacada F d P

baltazar pedrosa

09/11/2016 - 21h46

Hoje quando chegava ao serviço,ouvi alguns estampidos de fogos,imaginei lodo que poderia ser algum time de futebol teria conseguido alguma taça na noite anterior,mas para minha surpresa e alguns que se encontravam ali,quem soltava os rojões era o porteio, e quando perguntei, o por que de sua alegria,ele me respondeu, entusiasticamente,me reprovando da minha alienação,certamente eu morava em um lugar, totalmente desconectado,porque todo mundo, já sabia da grande vitória de Donald Trump,só um petista como eu,não conseguiria ver que o próximo a ser eleito,seria Bolsonaro

Ade Silva

09/11/2016 - 19h50

Esta análise de Glenn Greenwald foi perfeita. Como americano que é, pode ver mais claramente o que significa a eleição de Trump. Traduzindo para o nosso “caipires” :. ” veneno de cobra se cura com veneno de cobra”. Agora os coxinhas provarão de seu próprio veneno, e os coxinhas americanos verão o que é uma sociedade dividida em seu próprio território.Se está ruim para a globo, é bom para o Brasil, embora enquanto “Ali Babá e seus 40 ladrões estiverem no poder, pouca coisa mudará.
https://theintercept.com/2016/


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