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A vitória de Donald Trump simboliza dois fenômenos

(Charge: Harm Bengen/ Cartoon Movement) por Luis Felipe Miguel, em seu Facebook A vitória de Donald Trump simboliza dois fenômenos. O primeiro e mais importante é o esgotamento do modelo de democracia representativa que vigora nos Estados Unidos há mais de duzentos anos e que se espalhou pelo mundo. O modelo representativo nasceu como alternativa à […]

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USA, 4 November 2016 Donald Trump and Hillary Clinton. Donald Trump en Hillary Clinton. Tjeerd Royaards/Cartoon Movement/Hollandse Hoogte

(Charge: Harm Bengen/ Cartoon Movement)

por Luis Felipe Miguel, em seu Facebook

A vitória de Donald Trump simboliza dois fenômenos.

O primeiro e mais importante é o esgotamento do modelo de democracia representativa que vigora nos Estados Unidos há mais de duzentos anos e que se espalhou pelo mundo.

O modelo representativo nasceu como alternativa à democracia direta, não apenas ou principalmente por causa dos impedimentos práticos à tomada direta de decisão pelo povo, mas porque se imaginava que seria escolhida uma minoria mais capaz e mais virtuosa do que a média da população. Esta ideia está lá, com todas as letras, nos escritos federalistas.

Os críticos sempre argumentaram que o afastamento da maior parte das pessoas dos processos decisórios levaria a uma educação política tão baixa que qualquer virtualidade seletiva seria perdida. E agora a maior potência do mundo está entregando a presidência a um sujeito que é obviamente desqualificado para o cargo: desinformado, despreparado, desonesto, bronco. Não estou nem discutindo suas posições políticas: ele simplesmente não domina as competências necessárias para ocupar o cargo.

O segundo fenômeno é que estamos entrando numa fase pós-pesquisas de intenção de voto. Há 20 ou 30 anos, pesquisas feitas com honestidade e com alguma competência técnica tinham uma boa capacidade de predizer resultados eleitorais. Desde então, elas têm acertado cada vez menos. Como a técnica não regrediu, imagino que isso se deva a mudanças no comportamento eleitoral – talvez menos homogêneo, menos estável – que erodiram os pressupostos sociológicos sobre os quais as pesquisas de intenção de voto se apoiavam. O que mostra, uma vez mais e para tristeza de quem padece do fetiche quantitativista, que nem os problemas estatísticos se resolvem no terreno da estatística.

Luis Felipe Miguel é Professor de Ciência Política da UnB e coordenador do Demodê — Grupo de Pesquisa sobre Democracia e Desigualdades

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Comentários

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franciscoalmeida_br

10/11/2016 - 11h08

” DESONESTO ” ???

PALHAÇADA , NEM LI O RESTO DO ARTIGO !!!

Eu

10/11/2016 - 00h03

Nada a acrescentar quanto ao esgotamento do modelo de democracia representativa, a não ser que isto já foi apontado há alguns anos, pela crise europeia, e ainda não trouxe a reflexão necessária. A Bélgica permaneceu por mais de um ano sem governo, a Espanha caminha para o mesmo tempo ou mais, e a cada eleição na UE vai ficando mais difícil obter uma resposta adequada, do sistema ou de seus eleitores. Quanto a falha nas pesquisas, penso que não se trata apenas de erosão dos pressupostos sociológicos pré-existentes, mas da falta de agregação de alguns novos elementos nos modelos, caso principalmente das redes sociais. Talvez ainda não haja uma maneira adequada de encaixá-las nas previsões, mas elas já não podem mais ficar alijadas da discussão eleitoral, aonde quer que esta aconteça. Já mostraram seu poder de fogo o suficiente para mostrar a inevitabilidade de sua inclusão em qualquer análise.
No mais, vai se tornando homogênea a conclusão de que a derrota democrata nos EUA, bem como a do trabalhismo no Brasil, se deveu principalmente a uma incapacidade de entender realmente o feeling da massa do precariado. Lá, foi-lhe oferecida mais tutela do establishment; aqui, mais acesso ao consumo material. Em ambos os casos, descuidaram do mais importante: oferecer-lhe a sensação de pertencimento ao jogo político, deixando-os com uma sensação de orfandade que traduziu-se, da pior maneira, em uma versão do mote “que se vayan todos” e à busca de uma liderança paternalista, habilmente oferecida pela direita. Que, aliás, deverá causar estragos ainda mais aterradores na União Europeia no próximo ano, com o Front National.
O risco é de não acontecer uma releitura destes erros táticos a tempo de evitar uma postura de “manada” frente a uma enxurrada de candidaturas de extrema-direita ao redor do planeta. Aí, poderemos ver abrir-se diante de nós um abismo similar ao que se abriu diante da Europa nos anos 30 do século passado, e já sabemos o que uma reação tardia a este fenômeno acarretaria. Eis uma aposta que é melhor não pagar pra ver. Saudações!!


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