Forma como o magnata encara questões como economia, relações comerciais e diplomáticas com o resto do mundo dá pistas do que o país pode aguardar do próximo presidente americano
na DW Brasil
Com exceção das inflamadas promessas para imigração, a América Latina foi tema periférico na corrida à Casa Branca para Donald Trump. Pouco se falou de concreto sobre a região – e o Brasil sequer foi mencionado pelo agora presidente dos Estados Unidos.
Mas a forma como Trump trata questões como economia, relações comerciais e diplomáticas com o resto do mundo pode dar pistas sobre o que o Brasil pode esperar de seu período na Casa Branca.
Além da questão migratória, as fortes críticas à China e a política protecionista apregoada por Trump são vistas como um sinal, segundo analistas, de que o Brasil pode ter muito a perder com ele como o próximo presidente.
Segundo Timothy Power, diretor do programa de estudos brasileiros da Universidade de Oxford, um governo Trump – que em 2014 sequer sabia quem era Dilma Rousseff e Luiz Inácio Lula da Silva, em entrevista à revista Veja – será um “desastre não apenas para os EUA e o Brasil, mas para a ordem internacional”.
Uma vitória de Donald Trump também é vista com preocupação pelo cientista político David Fleischer, da Universidade de Brasília. Ele acredita que a política externa restritiva e conservadora do candidato republicano poderá ser bastante prejudicial ao Brasil.
Economia
Além de limitar o comércio exterior para obter saldo positivo na balança comercial – o que afetaria as exportações brasileiras para os EUA, segundo maior parceiro do Brasil –, na Casa Branca o magnata poderá ainda atrapalhar o plano do governo Michel Temer de atrair investidores estrangeiros, entre eles americanos.
Fleischer ainda destaca a questão da imigração. “Está cheio de brasileiro sem documentação nos EUA. Se Trump decidir expulsar todos os estrangeiros em situação irregular, muito brasileiro vai ser deportado também.”
Já a política econômica defendida por Trump traz ingredientes que podem levar a uma recessão global ou até a um “colapso do comércio mundial”, segundo Cláudio Frischtak, presidente da Inter.B Consultoria Internacional de Negócios.
O especialista afirma que, na prática, o magnata republicano dá sinais de que não seguirá as regras da OMC. “Não há um único economista de peso que o apoie”, argumenta.
Outra preocupação, apontada por Zeina Latif, economista-chefe da XP Investimento, é com um eventual retrocesso no diálogo com a China. Ela acredita que isso afetaria negativamente todo o mundo emergente indiretamente, incluindo o Brasil.
A economista, no entanto, tenta enxergar os discursos protecionistas de Trump de maneira cética. “Apesar de ele ter um discurso que beira a irresponsabilidade, não acredito que isso se traduziria de forma concreta numa agenda econômica. A tendência é ele descer do palanque e ter uma gestão mais responsável”, aposta.