(Foto: Filipe Araújo/ Fotos Públicas)
por Denise Assis
A união das correntes de esquerda no Brasil é vista com ceticismo em ambos os lados. Quer à direita quanto dentro das próprias hostes progressistas que, não é de hoje, assistem tentativas e erros em torno da ideia, sempre que o país vive crises e regimes de exceção.
Neste momento, em que as relações entre partidos de esquerda saíram esgarçadas da refrega nas eleições municipais, apesar de acordos assumidos, o que mais se ouve é a necessidade de se construir esta união, para impedir o avanço das forças retrógradas, que velozmente vem liquidando com conquistas e direitos adquiridos nos últimos anos.
Ao visitar a Escola Nacional Florestan Fernandes, em Guararema, no interior de São Paulo, invadida pela Polícia Civil, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva aproveitou a presença de lideranças dos mais diversos setores da esquerda no ato em solidariedade ao Movimento dos Sem Terra – estavam presentes representantes do PT, PCdoB, PSOL e PSTU, além de movimentos sociais e sindicais – para conclamar a todos “a costurar uma coisa maior, mais sólida. Não é um partido, não é uma frente, é um movimento para restaurar a democracia. A gente precisa construir alguma coisa para unificar”, discursou.
Essa “coisa”, que ele se recusa a chamar de “frente”, foi pensada em setembro de 1967, quando o Brasil consolidava uma cruel ditadura, iniciada com a derrubada do presidente João Goulart, em 1º de abril de 1964. Para contribuir em sua construção, Jango limpou o ressentimento do peito e recebeu em sua casa, no exílio, Carlos Lacerda, aquele que, da sacada do Palácio Guanabara, na condição de governador, no dia de sua queda, bradou o discurso da vitória do golpe que o retirou do poder, e do país. Tal como agora, a gravidade do momento exigia sentimentos nobres e espírito cívico.
Em um papel personalizado, que se encontra em seu acervo, na Fundação Getúlio Vargas, (na época da pesquisa, ainda sem digitalização, sob o código: JGc 1966.05.05), Jango escreveu:
“Recebi hoje, em minha residência, o ex-governador da Guanabara, Sr. Carlos Lacerda, que veio procurar-me para debater comigo assuntos relacionados com a Frente Ampla.
Sabe o povo brasileiro que sempre me manifestei favoravelmente à sua constituição, tendo em vista a necessidade de lutar organizadamente pela restauração das liberdades democráticas e pela emancipação nacional.
A dinamização desse grande movimento, – verdadeira Frente Ampla, é do povo, integrada por patriotas de todas as camadas sociais, organizações e correntes políticas, – e é tarefa que, juntos, precisamos realizar com lealdade e coragem cívica, mobilizando nossas energias e concentrando-as sem desfalecimentos, para reconduzir o Brasil ao caminho democrático.
É preciso que se transforme, corajosa e democraticamente, a estrutura de instituições arcaicas que não mais atendem aos anseios de desenvolvimento do país, e que somente servem para manter a espoliação das riquezas nacionais pelos grupos externos e internos, que sangram e exploram o trabalho do nosso povo. Ninguém tem o direito de suprimir, pela mistificação, pela usurpação total do poder civil, ou pelo ódio, as esperanças do país de solucionar, pacificamente, os grandes problemas do nosso tempo.
Penso que devemos esgotar todos os recursos ao nosso alcance na busca de soluções pacíficas para a crise brasileira, sem cultivar ressentimentos pessoais nem propósitos revanchistas.
A Frente Ampla deve ser o instrumento capaz de atender com esse sentido, e responsavelmente, ao anseio popular pela restauração das liberdades públicas e individuais; pela participação de todos os brasileiros na formação dos órgãos de poder e na definição dos princípios constitucionais que regerão a vida nacional; pela retomada dos esforços para formular e por em execução as reformas de base; pela reconquista pelo Brasil da direção dos órgãos de comando de seu destino.
Só na plenitude do regime democrático poderá o povo, especialmente os humildes, hoje com sua voz sufocada, lutar pelos imortais princípios que nortearam a vida e o sacrifício do Presidente Vargas.
Estou movido exclusivamente pela preocupação com o futuro de meu país. Não assumi qualquer outro compromisso, que não o de continuar emprestando meu apoio e colaboração à luta pela redemocratização do Brasil.”
A carta, ou que destino tivesse os escritos de Jango, poderia ter sido redigida hoje, pois soa muito atual.
Denise Assis é jornalista
Ricardo Oliveira
09/11/2016 - 09h52
Hoje no planeta não existe democracia, este termo foi criado para que o povo estivesse representado nos diversos governos mas com o tempo ficou só a retórica na prática não ocorre, vivemos uma democracia midiática onde a tv mostra a eleição dos EUA como exemplo de democracia o que não é verdade, lá não existe de fato democracia as regras da eleição são direcionadas para a permanência no poder de grupos oligárquicos, exatamente como aqui, a diferença é que nós votamos diretamente e um representante do povo pode um dia chegar ao poder o que não interessa para os grandes grupos econômicos, uma frente de esquerda tem que ser estrategicamente formada para tornar o país soberano nestas questões enfrentando grupos arraigados na estrutura administrativa e de poder capazes de derrubar governos sem personalismos, vaidades e interesses partidários, precisamos de uma esquerda do lado do povo e não uma esquerda que se sirva do povo, muito difícil equacionar esta questão, só com personalidades de caráter e com objetivos claros, vamos torcer para que de certo.