Espiando o poder – A batalha das ocupações e o candidato a Napoleão

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Espiando o poder: análise diária da grande imprensa

Por Luis Edmundo Araujo, colunista do Cafezinho

Não há nada na edição impressa da Folha de São Paulo sobre as ocupações da Primavera Secundarista nas escolas públicas além da frase publicada na coluna Painel, de Natuza Nery. “O MBL é mil e uma utilidades. Foi criado com o pretexto de combater a corrupção, entra na eleição e agora atua como grupo paramilitar”, afirma Raimundo Bonfim, coordenador da Central dos Movimentos Populares. O Movimento Brasil Livre vem formando milícias, devidamente protegidas pelos amigos da Polícia Militar, para tentar desocupar escolas no Paraná, e o Globo dá ao assunto o espaço de uma coluna, embaixo da boa notícia possível, em tempos de governo ilegítimo. “Casos de estupro caem 9,9% no país”, diz a chamada na capa para a matéria que domina a página onde embaixo, espremidas na tal coluna, “ocupações no PR sofrem pressão de pais e MBL”. O Estado de São Paulo ataca em outra frente e é o único dos três a tratar do tema na capa, na chamada em que “procurador pede suspensão do Enem”, e no editorial “Enem e as escolas ocupadas”. “A interdição de espaços públicos para impor a vontade de minorias é um ato de violência”, diz o Estadão. E na capa da Folha foi lançado quase oficialmente o primeiro candidato a Napoleão. “Só FHC se legitima para recolocar o Brasil nos trilhos”, afirma Xico Graziano, chefe de gabinete do então presidente Fernando Henrique Cardoso.

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“Finda a eleição, olhamos para 2018. Qual liderança poderá recolocar o país nos trilhos? Apenas FHC se legitima, pela vasta experiência e sensatez. A Justiça pode cassar a chapa Dilma-Temer. O Congresso elegeria o presidente-tampão. FHC, com certeza”, diz Xico na chamada da primeira página para o artigo cujo título é “Volta, FHC”. Graziano chega a afirmar no artigo que FHC é “o ponto de equilíbrio de uma nação esfacelada”. O site Brasil 247 lembra que se a cassação da chapa Dilma-Temer “acontecesse ainda em 2016, o Brasil teria eleições diretas, mas o ministro Gilmar Mendes, presidente do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), deve colocar o tema em pauta apenas no início de 2017”.

“O ex-presidente, um dos articuladores do golpe de 2016, sonha com o ‘golpe dentro do golpe’, para, aos 85 anos, voltar à presidência após quatro derrotas do PSDB para o PT”, conclui o Brasil 247 sobre o que chama de “balão de ensaio para derrubar Temer”. Mas não será fácil essa derrubada se estiverem certas as pesquisas telefônicas feitas pelo próprio Palácio do Planalto, que mais uma vez ganham citação da coluna Panorama Político, de Ilimar Franco no Globo

Depois de dizer ontem que a tal pesquisa indicava um índice de aprovação de 62% para a PEC do Teto dos gastos públicos, motivo de protestos em todo o Brasil, inclusive nas escolas ocupadas, o colunista saca hoje nova e genérica “pesquisa telefônica feita pelo Planalto” para afirmar que “a realização da reforma do ensino médio tem amplo apoio dos entrevistados: 62%.” Na nota logo acima, “A ocupação das escolas”, Ilimar conta que “senadores petistas, liderados por Fátima Bezerra (RN), vão entrar com representação no CNJ contra o juiz de Brasília Alex Costa de Oliveira, que para forçar a saída de estudantes de uma escola na cidade satélite de Taguatinga, mandou cortar água e luz do local. Eles o acusam de tortura.”

O colunista do Globo não fala, na nota, na medida que mais reforçaria a acusação de tortura: a autorização do juiz para uso de instrumentos de privação do sono, sirenes contínuas, altas, que não deixariam os menores de idade dormir. E no texto pequeno sobre a pressão do MBL nas escolas ocupadas, não aparece a palavra violência, nem nada diretamente relacionado a ela. “Responsável por organizar protestos a favor do impeachment de Dilma Rousseff e por eleger oito vereadores nas últimas eleições, o MBL está empenhado em acabar com as ocupações”, diz o texto. Tal empenho, porém, não ultrapassa as trocas de xingamento, segundo a matéria.

A violência aparece é no editorial do Estadão, na chamada da capa e duas vezes no texto, a primeira delas afirmando que “qualquer invasão ou ocupação é, por definição, um ato de violência.” Na chamada de capa, o diário paulista lança mão de um servidor público que, segundo o jornalista Luis Nassif, tem certa fixação pelo Exame Nacional do Ensino Médio. “O procurador da República Oscar Costa Filho, do Ceará, pediu à Justiça a suspensão das provas do Enem de sábado e domingo. Ele alega que o adiamento do teste para 191 mil candidatos, anunciado pelo Inep por causa da ocupação das escolas, fere o princípio da isonomia”, diz o Estadão.

Nassif, no texto “O procurador exibicionista que quer acabar com o Enem”, publicado hoje no seu site, conta que “Oscar é o procurador de Ceará que tem um caso não resolvido com o Enem. Periodicamente, coloca em sobressalto milhões de estudantes que aguardam, com pedidos de cancelamento das provas.” O jornalista ressalta que Oscar “jamais conseguiu seu intento”. “Todas as vezes, Costa Filho apresenta a mesma argumentação. E todas as vezes a argumentação é derrubada pelos argumentos do Ministério da Educação. E ele volta a insistir afetando, do seu canto em Fortaleza, o estado de espírito de jovens de todo o país”.

Enquanto o MBL esquece a bandeira contra a corrupção para tentar expulsar os alunos de suas escolas, ocupadas, a Folha informa, só nas páginas internas, que o juiz Sergio Moro “libera primeiro delator da Lava Jato de usar tornozeleira eletrônica”. “A partir desta quinta, ex-diretor de abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa só terá que prestar serviços comunitários”, diz o subtítulo da matéria. Serão quatro horas por semana de serviços comunitários, durante três anos. Depois é a liberdade absoluta para aquele que, talvez, seja o maior corrupto de todo o esquema investigado pela Java Jato.

A decisão bem poderia estar relacionada ao título da coluna de hoje de Merval Pereira, “Tempo de anistia”, mas não. Merval fala sobre o “novo projeto de lei sobre o caixa dois eleitoral”, que, “inserido nas diversas medidas de combate à corrupção em debate na Câmara, anistiará, direta ou indiretamente, políticos que usaram dinheiro não contabilizado”. O editorial principal do Globo, no entanto, trata de tema bem mais correlato à atuação de Moro, ao falar do projeto para coibir o abuso de poder pelas autoridades.

Colocado em pauta recentemente pelo presidente do Senado, Renan Calheiros, o projeto foi apontado como principal motivo da operação da Polícia Federal na Casa, que terminou com quatro policiais legislativos presos e acabou anulada depois pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Teori Zavascki. O título do editorial é “Com endereço certo”, e nele o jornal mostra seu lado com toda sutileza, ao afirmar que “faz sentido o objetivo do projeto, mas o momento e seu autor criam uma enorme suspeição”.

O contraponto ao lado, do mesmo tamanho, é de Breno Melaragno Costa, advogado e presidente da Comissão de Segurança Publica da Ordem dos Advogados do Brasil, seccional Rio de Janeiro (OAB-RJ). “A Lei é para todos” é o título do artigo em que o advogado afirma que, “na sua essência, o projeto que combate o abuso de poder guarda um dos mais importantes preceitos do estado democrático de direito: ninguém está acima da lei.” “O principal objetivo do projeto em pauta é justamente garantir os direitos dos cidadãos”, completa Melaragno Costa.

Na Folha, sem muito destaque, a “PM usa bala de borracha e desocupa prédio no Centro” de São Paulo. A desocupação ocorreu na madrugada desta quarta-feira e três pessoas foram detidas. “Um dos líderes da FLM (Frente de Luta por Moradia) disse que policiais militares à paisana e fardados arrombaram uma porta e jogaram bombas de gás lacrimogêneo”, informa o jornal. Ainda segundo a matéria, a repórter fotográfica Marlene Bergamo estava perto do local, se apresentou como jornalista e levou um tiro de borracha na barriga. Foi para o hospital e acabou liberada em seguida.

Não há mais nada no jornal, de novo, sobre a denúncia que a Folha fez na manchete de seis dias atrás, dando conta de R$ 23 milhões pagos a José Serra na Suíça. Em compenasação, o diário paulista diz na primeira página que “Duda Mendonça delata caixa 2 de Skaf via Odebrecht”. Lá dentro, o jornal é mais realista e avisa que “Duda Mendonça tenta fazer delação e menciona Skaf”. “Procuradores ainda não se manifestaram se vão aceitar proposta de acordo de publicitário”, afirma o subtítulo, e não é muito difícil prever qual será a decisão deles…

E ainda na Folha de São Paulo, Jânio de Freitas afirma em sua coluna de hoje que “depois da ‘reforma do ensino’ por medida provisória, uma e outra produzidas em cavernas não identificadas, o ataque volta-se contra a ciência e os cientistas.” “Foram longas batalhas para criar e depois dar alguma organicidade ao Ministério da Ciência e Tecnologia. Temer & associados, no entanto, depressa o soterraram sobre um tal Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações, uma salada de funções bastantes para impedir que qualquer uma seja cumprida”, afirma Jânio que, logo na primeira frase de seu texto, resume melhor os tempos atuais. “Estar atualizado, no Brasil de hoje, é saudar o retrocesso”.

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Luis Edmundo: Luis Edmundo Araujo é jornalista e mora no Rio de Janeiro desde que nasceu, em 1972. Foi repórter do jornal O Fluminense, do Jornal do Brasil e das finadas revistas Incrível e Istoé Gente. No Jornal do Commercio, foi editor por 11 anos, até o fim do jornal, em maio de 2016.
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