(Charge: André Dahmer)
Por Pedro Breier, correspondente policial do Cafezinho
Deltan Dallagnol assina um artigo, ontem, na Folha, juntamente com outro procurador do MPF, Orlando Martello, sobre a Lava Jato.
Depois de citar um amontoado de números referentes à operação, Dallagnol tenta defender a Lava Jato das críticas:
O acervo probatório produzido é imenso. Como a usual tática dos investigados de negar os fatos já não funcionava, passaram a difundir a falsa ideia de abusos na Lava Jato.
Desonestidade intelectual pura.
O enviado de Deus para combater a corrupção tupiniquim dá a entender que foram apenas os investigados que difundiram a ‘falsa ideia’ dos abusos na Lava Jato, quando na realidade juristas, jornalistas e intelectuais aos montes apontaram as violações a direitos solicitadas pelos procuradores e operadas por Sérgio Moro.
Inclusive renomados juristas de outros países, como Raúl Zaffaroni, ex-ministro da Suprema Corte da Argentina. Zaffaroni publicou artigo, no jornal Página 12, criticando a decisão do Tribunal Regional da 4ª Região que arquivou o processo contra Moro que apurava o vazamento – claramente com intenções políticas – dos áudios das conversas telefônicas entre Lula e Dilma.
‘Observe-se ainda que, se “abusos” ou “excessos” existissem, os tribunais os corrigiriam’, diz Dallagnol em seu artigo.
Quanto até o STF faz seus julgamentos acovardado e dançando conforme a música tocada pelo cartel midiático nacional, é lógico que os tribunais inferiores não fariam diferente.
No TRF da 4ª região, o argumento usado pelo desembargador relator para arquivar o processo referente ao vazamento criminoso de Moro foi o da exceção. As questões da Lava Jato ‘trazem problemas inéditos e exigem soluções inéditas’, que escapariam ao regramento genérico destinado aos casos comuns.
Zaffaroni colocou essa decisão esdrúxula em seu devido lugar: ‘a excepcionalidade foi o argumento legitimador de toda inquisição ao largo da história, desde à caça às bruxas até nosso dias, passando por todos os golpes de Estado e as conseguintes ditaduras’.
Dallagnol também afirma que é um disparate a alegação de que as investigações são partidárias.
Condução coercitiva ilegal de Lula vazada para a imprensa, áudios vazados com fins políticos, operações e entrevistas coletivas transformados em espalhafatosos espetáculos midiáticos, prisões de petistas sem base legal às vésperas das eleições e total leniência com políticos do PSDB são só alguns exemplos que comprovam que disparate é dizer que a Lava Jato é isenta.
No final do artigo, Dallagnol e seu colega fazem o tradicional proselitismo pela aprovação das ‘10 medidas contra a corrupção’ – medidas que têm como objetivo claro o aumento do poder do Ministério Público – e contra o projeto de lei que coíbe abusos de autoridade (se não há abusos na Lava Jato, porque o medo de um projeto que visa coibir abusos?).
Claro que não poderia faltar a menção à gloriosa batalha do bem contra o mal que está sendo empreendida pelos nossos heróis do combate à corrupção: ‘Parafraseando Martin Luther King, estamos rodeados da perversidade dos maus, mas o que mais tememos é o silêncio dos bons’.
Os bons não veem problemas em passar por cima de direitos fundamentais e de perseguir vergonhosamente apenas um partido político em nome dos seus objetivos.
Quem ousa questionar os heróis só pode ser do mal.