Foi derrota; que ela seja breve, pedagógica e nos convide à luta
por Gilberto Maringoni, na Revista Fórum
Ser de esquerda nunca foi fácil.
Ser de esquerda significa enfrentar o vento contra, a chuva e o desânimo.
Ser de esquerda é suportar derrotas sabendo que elas não são perenes.
A História não acaba hoje.
Ganhamos em 2002, 2006, 2010 e 2014.
O problema é que quem comandava não estava à altura de um tempo adverso.
Decidiu ficar ao lado dos de cima, aplicar seu programa e decepcionar quem lhe garantiu a vitória.
Pagamos todos por tais escolhas.
Mas estamos aqui.
Penso no que era ser de esquerda, após a derrota da Revolução de 1848, na França.
Ou ser progressista após os vinte mil fuzilados da Comuna de Paris, em 1871.
Ou ser comunista no Brasil, no dia seguinte à derrota de 1935, ao suicídio de Getúlio e ao golpe de 1964.
Os exemplos são incontáveis.
Problema não tem apenas a esquerda.
Problema tem o povo brasileiro, que fará novamente um duro aprendizado para sair do senso comum imbecilizante, propagado pela grande mídia e pelo fundamentalismo pseudo-religioso.
Vamos bater cabeças por alguns anos.
Vai haver sectarismos, acusações mútuas e disputas dilacerantes entre nós.
Faz parte.
As ilusões estão perdidas. Torço para que não voltem e que fiquem bem longe, junto com as falsas utopias.
O essencial é aprender com a derrota.
Para que ela seja breve, pedagógica e para que não apostemos novamente em falsas soluções.
Há muito acúmulo, há uma nova geração de militantes e ativistas, há movimentos novos, há o protagonismo inesperado de quem chega agora às trincheiras. Há uma enorme politização no ar. Não partimos do zero.
Ou alguém acha que todos os eleitores de Freixo, Edmilson, Raul e milhões de outros tantos que não se conformaram vão voltar para casa?
A luta não é uma escolha.
A luta é o que temos para o momento.